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Economia

Produção industrial cai 2,4% em janeiro e fica mais distante do patamar pré-pandemia

Em 12 meses, são 9 taxas mensais negativas; apenas 8 dos 26 segmentos superaram o patamar pré-Covid.

Queda foi puxada por veículos automotores. (Foto: Divulgação Stellantis)

A produção industrial brasileira caiu 2,4% em janeiro, na comparação com dezembro, perdendo boa parte do avanço de 2,9% registrado no mês anterior, segundo divulgou nesta quarta-feira (9) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Trata-se da queda mais intensa para meses de janeiro desde 2018 (-2,6%) e o pior resultado mensal desde março do ano passado (-2,5%).

Na comparação com janeiro do ano passado, o recuo foi de 7,2%, o maior tombo nesta base de comparação desde janeiro de 2016 (-3,4%).

“A indústria se encontra 3,5% abaixo do patamar de antes do início da pandemia, em fevereiro de 2020, e 19,8% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011”, destacou o IBGE.

A queda em janeiro foi acompanhada por todas as grandes categorias econômicas e por 20 dos 26 segmentos industriais pesquisados.

O resultado veio pior que o esperado. As expectativas em pesquisa da Reuters com economistas eram de queda de 1,9% na variação mensal e de 6% na base anual.

“Verificamos que o mês de janeiro está bem caracterizado pela perda de dinamismo e de perfil disseminado de queda, uma vez que todas as grandes categorias econômicas mostram recuo na produção, tanto na comparação com o mês anterior quanto na comparação com janeiro de 2021”, afirmou o gerente da pesquisa, André Macedo.

Segundo ele, a alta de 2,9% em dezembro foi um ponto fora da curva e pode estar relacionada a antecipação da produção, por conta de janeiro ser um mês muito marcado por férias coletivas e paralisações.

Perda de ritmo

A indústria vem patinando desde junho do ano passado. No ano de 2021, foram 8 taxas mensais negativas. Em 12 meses, a indústria acumula alta de 3,1%, mas avanços perdem cada vez mais a intensidade. “Em agosto de 2021, a taxa chegou a registrar 7,2%. Em setembro, foi para 6,5%, 5,7% em outubro, 5,0% em novembro e 3,9% em dezembro”, destacou Macedo.


Já a média móvel trimestral fica em 0,1% no trimestre encerrado em janeiro.

“A indústria vem sendo afetada pela desarticulação das cadeias produtivas por conta da pandemia, tendo no encarecimento dos custos de produção e na dificuldade para obtenção de insumos e matéria-prima para a produção do bem final, características importantes desse processo. Além disso, os juros e a inflação em elevação, juntamente com um número ainda elevado de trabalhadores fora do mercado de trabalho, ajudam a explicar o comportamento negativo da indústria”, pontuou Macedo.

Resultados por grandes categorias:

  • Bens de capital: –5,6% (12,2% acima do patamar pré-pandemia)
  • Bens intermediários: -1,9% (1,8% abaixo do patamar pré-pandemia)
  • Bens de consumo duráveis: -11,5% (26,4% abaixo do patamar pré-pandemia)
  • Bens de consumo semiduráveis e não duráveis: -0,5% (7% abaixo do patamar pré-pandemia)

Ao final de janeiro, apenas 8 das 26 atividades industriais haviam superado o patamar pré-pandemia. Veja quadro abaixo:


O que mais caiu em janeiro

Entre as atividades, as quedas que mais impactaram no resultado de janeiro foram na produção de veículos automotores (-17,4%) e indústrias extrativas (-5,2%), que haviam acumulado expansão de 18,2% e de 6,0%, respectivamente, nos dois últimos meses de 2021.

“O segmento de veículos automotores é um exemplo importante de desarticulação da cadeia produtiva, já que tem dificuldades na obtenção de insumos importantes para a produção do bem final. Já o setor extrativo, em janeiro de 2022, teve a extração do minério de ferro bastante afetada pelas chuvas em Minas Gerais”, explicou o pesquisador.
Com o novo tombo, a produção de veículos agora está 21,3% abaixo do patamar pré-pandemia.

Outras contribuições negativas relevantes vieram de bebidas (-4,5%), de metalurgia (-2,8%), de outros produtos químicos (-2,2%), de máquinas e equipamentos (-2,3%), de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,4%), de produtos de metal (-3,3%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-4,5%) e de produtos de minerais não-metálicos (-2,4%).

Do lado das altas, destaque para as produções de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,5%) e de produtos alimentícios (1,4%).

No fim de fevereiro, o governo reduziu as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 25% para todos os produtos com exceção de tabaco. Com a medida, o governo espera ajudar a conter a inflação e dar um impulso à indústria.

Perspectivas

“Este é um péssimo sinal para o início do ano e pode sugerir de fato que os bons dados do 4º trimestre de 2021 ficaram para trás. Sabemos de todos os desafios que o setor industrial passa e agora há mais desafios que haviam em janeiro com alta de insumos devido a guerra no leste europeu”, avaliou o economista-chefe da Necton, André Perfeito.
A produção industrial fechou 2021 com um avanço de 3,9%, depois de dois anos seguidos de perdas, mas ainda continua sendo impactada pela alta dos preços das matérias-primas, pela falta de insumos e peças para a geração do bem final e também pela desaceleração da demanda.

O Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu pelo 7º mês consecutivo em fevereiro, para o menor nível desde julho de 2020, segundo indicador da FGV.

Analistas alertam que para o ano o cenário é de estagflação. Ou seja, crescimento perto do zero e inflação ainda elevada, com a alta da taxa de juros e as incertezas relacionadas à eleição presidencial e à guerra na Ucrânia colocando riscos adicionais de freios para o PIB.

Mesmo com a queda do desemprego nos últimos meses, a Selic e inflação persistente têm tirado o poder de compra e de consumo das famílias. Ainda são 12 milhões de desempregados no país, o rendimento médio do trabalhador atingiu no final do ano a mínima histórica e inadimplência chegou no maior patamar em 12 anos.

Os economistas do mercado financeiro projetam atualmente um avanço de apenas 0,42% do PIB em 2022, bem abaixo da média global, e inflação de 5,65%. Parte dos analistas já veem, no entanto, uma inflação acima de 6% no ano.

 

A informação é do g1.

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