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Amazonas

Seca na Amazônia: entenda por que ela veio mais forte neste ano e como a população é prejudicada

Baixa de nível dos rios tem dificultado o transporte de pessoas e alimentos; El Niño e aquecimento do Atlântico são apontados como fatores mais importantes para o cenário.

Os rios baixaram muito, em pouco espaço de tempo. (Foto:Reprodução)

Enquanto o estado mais ao sul do Brasil, Rio Grande do Sul, sofre com chuvas torrenciais e enchentes, o norte do país passa por uma seca preocupante. O cenário contrastante, e potencializado pelas mudanças climáticas, ganhou tons extremos na Amazônia à medida que o Amazonas, estado mais afetado pela estiagem, passou a ver seus principais rios descerem a níveis baixíssimos, prejudicando portos e o transporte de pessoas e alimentos.

Segundo a Defesa Civil do Amazonas, dos 62 municípios amazonenses, 16 estão em situação de emergência pela falta de água; outros 39 estão em alerta. O mesmo órgão diz que mais de 80 mil pessoas estão sendo afetadas pela seca – mas o governo do Estado aponta que esse número deve subir para até 500 mil.

Os efeitos da seca na Amazônia são visíveis em grandes rios, como o Negro, Solimões, Purus, Juruá e Madeira. O Porto de Manaus, que mede diariamente o nível do rio Negro (um dos que formam o rio Amazonas), alerta que, longo dos últimos 15 dias, o rio tem baixado cerca de 30 cm diariamente.

Um porto da zona oeste de da capital amazonense ficou completamente seco, com os barcos ficando presos à terra e pessoas tendo maiores dificuldades para chegar às comunidades ribeirinhas. Em outros pontos do Amazonas, os rios que ainda não secaram completamente estão com bancos de areia, o que dificulta o trajeto em velocidade normal e em segurança.

“O rio descer tanto e tão rápido coloca em xeque não só a biologia do sistema, mas também as pessoas, os sistemas sociais ao longo dos rios da Amazônia”, diz o professor do Programa de Pós-graduação em Biologia de Água Doce e Pesca Interior do Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), Jansen Zuanon, ao portal O Eco.

Com a falta de chuvas, cidades da Amazônia também enfrentam ar seco. Nas redes sociais, pessoas compartilharam imagens de uma Manaus esfumaçada nos últimos dias – algo potencializado por queimadas na Amazônia, que são facilitadas pelo tempo extremamente seco :

Setembro faz tradicionalmente parte da “estação seca” na Amazônia, mas neste ano a estiagem chegou mais forte do que em períodos anteriores. Especialistas apontam a combinação de dois fatores que inibem a formação de nuvens e chuvas: o El Niño (que é caracterizado pelo aquecimento do oceano Pacífico) e a distribuição de calor no oceano Atlântico Norte.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ligado ao governo federal, explica ao G1 que, “apesar de o reflexo dos dois fenômenos ocorrerem em regiões diferentes da Amazônia, o aquecimento das águas do oceano desencadeia um mecanismo de ação similar sobre a floresta”. Ou seja, ambos reduzem as chuvas na região.

Com o El Niño, padrão climático formado a partir do aquecimento das águas do Oceano Pacífico Equatorial, são esperadas menos chuvas e aumento das temperaturas em parte das regiões Norte e Nordeste do Brasil. De outro, o oceano Atlântico Norte vem passando por um processo de aquecimento “sem precedentes”, contribuindo para trazer ar quente para a Amazônia e dificultar a ocorrência de chuvas.

“O evento do Atlântico Tropical Norte está se somando ao El Niño. Dois eventos ao mesmo tempo são preocupantes. Tivemos isso entre 2009 e 2010, que foi a maior seca registrada na bacia do rio Negro nos últimos 120 anos”, afirma o meteorologista Renato Senna, responsável pelo monitoramento da bacia amazônica no Inpa.

Os processos são potencializados pelas mudanças climáticas, que torna fenômenos naturais mais extremos, e, somadas ao El Niño, deverão fazer com que 2023 seja provavelmente o ano mais quente já registrado no mundo.

Força-tarefa criada

O governo estadual do Amazonas anunciou a criação de uma força-tarefa em parceria com o governo federal para lidar com os efeitos da seca sobre as pessoas da região. O governador Wilson Lima afirma que o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional se comprometeu com o envio de itens como cestas básicas e água, enquanto o Ministério do Meio Ambiente garantiu que vai intensificar o combate aos incêndios.

“Nós temos três aspectos que são importantes para se levar em consideração nessa questão de estiagem: o primeiro deles é a questão da ajuda humanitária, o segundo são as questões de desmatamento e queimadas e o terceiro é a atividade econômica por conta da dificuldade de passagem de balsa e grandes embarcações ali pelo rio Madeira”, ressaltou o governador.Em comunicado do governo federal, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ressaltou que desastres de grandes proporções devem se tornar mais comuns nos próximos anos. “Infelizmente, essa vai ser a realidade do Brasil devido à mudança do clima. Os eventos no Amazonas e no Rio Grande do Sul estão potencializados por esse motivo. Assim, não podemos agir só no emergencial, precisamos elaborar um plano de prevenção. Estamos tratando estruturalmente dessa questão, junto aos ministérios da Integração e do Desenvolvimento Regional, das Cidades e da Ciência e Tecnologia”, afirmou.

Segundo o governador Wilson Lima, a população do Amazonas deve necessitar, durante a estiagem, de cerca de 300 mil cestas básicas. Também serão feitas obras de dragagem emergencial em um trecho de oito quilômetros do Rio Solimões e de dois pontos críticos na Região do Tabocal e Foz do Rio Madeira, próximo a Manaus. O investimento nas duas obras será de R$ 141 milhões, segundo o governo federal.

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