Economia
Em 2 anos de pandemia, supermercado subiu 31%, conta de luz 33% e gasolina, 44%, diz pesquisa
Levantamento da CNN mostra os produtos e serviços que mais encarecerem desde que a crise sanitária começou, em 2020.
Desde março de 2020, primeiro mês completo da pandemia de coronavírus no país, até fevereiro deste ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 16,3%, de acordo com levantamento feito pelo CNN Brasil Business. Dados de março serão divulgados nesta sexta-feira (8) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Embutidos no aumento de dois dígitos estão centenas de produtos e serviços que deixaram a vida muito mais cara, e em um intervalo de tempo bem curto. Eles incluem de alimentos, combustíveis e energia até eletrônicos, materiais de construção e mesmo carros e bicicletas. Todos esses são itens que tiveram altas maiores do que 20% nesses dois anos.
“Foram dois anos bem atípicos, com aumentos muito expressivos e em categorias que pesam muito para as famílias, como os alimentos”, diz a economista Juliana Inhasz, professora da faculdade de economia e negócios Insper.
Em uma situação normal, a inflação pode subir 5% ou 6%, sempre com alguns preços aumentando mais do que isso e, outros, menos, de maneira que uma coisa vai compensando a outra para o consumidor. Mas não foi o que vimos dessa vez. Quase tudo subiu, e subiu muito”, diz Juliana Inhasz, economista e professora do Insper.
Dos 375 produtos e serviços que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acompanha mensalmente para chegar à variação média do IPCA, só 22 não foram reajustados ou tiveram queda de preço desde que a pandemia chegou. É menos de 6% do total. Na outra ponta, 242 tiveram aumentos superiores a 10%, ou 64% de tudo o que os consumidores brasileiros possam ter interesse ou necessidade de comprar.
Por trás do choque, está uma mistura de mudança de hábitos de consumo das pessoas com interrupções em cadeias produtivas, preços de commodities em alta no mundo inteiro e picos fortes de apreciação na cotação do dólar que, nos piores momentos, atingiram o Brasil em cheio.
Comida
Os alimentos foram, de longe, os produtos que mais pesaram no bolso do brasileiro. Fazer as compras do supermercado ficou em média 31,5% mais caro desde o começo de 2020, de acordo com os dados de alimentação em domicílio do IPCA.
Das 50 maiores altas do período, 42 são alimentos. As frutas, em média, estão 36,7% mais caras, as carnes subiram 40,7%, o frango 41,8%, as folhas e verduras 53% e, os legumes, 60,7%.
No topo da lista da pandemia estão a cenoura, o mamão, o óleo de soja e a abobrinha, todos com aumentos superiores a 100% no acumulado dos últimos dois anos.
Retirados os alimentos da lista, as maiores altas da pandemia revelam também alguns grupos que foram especialmente atingidos pelas particularidades desses dois anos de crise sanitária e lockdowns.
É o caso de diversos materiais ligados a reformas e reparos, como o tijolo, que ficou 29% mais caro, as tintas (31,8%), os revestimentos, como pisos e azulejos (38%), e os materiais hidráulicos, que tiveram uma alta de 52%.
“Foi uma pressão de demanda”, explica Juliana Inhasz. “Muita gente ficou em casa. Para alguns, sobrou renda e as pessoas foram reformar a casa.”
Também se destacam os produtos ligados a energia: todos eles aparecem no topo do ranking das maiores altas.
De um lado, está a energia elétrica, que sofreu em 2021 com o choque adicional da crise hídrica que secou as hidrelétricas. A conta de luz está hoje 33% mais cara que dois anos atrás.
De outro lado, estão todos os combustíveis, que sofrem influência direta da disparada que a cotação do petróleo vem, desde o ano passado, sofrendo continuamente no mercado internacional.
É neste grupo, aqui no Brasil, que estão o gás encanado (30,3%), o gás veicular (41,7%), a gasolina (44,6%), o botijão de gás (46%) e o diesel (47%), além do etanol (47,1%), que acabou sob uma pressão tripla de custos vinda da concorrência do petróleo, do açúcar e ainda do impacto das secas no ano passado.
Eletrônicos e eletrodomésticos também saem da pandemia bem mais caros que antes, numa mistura de dólar e componentes importados caros com um pico de demanda inesperado por produtos típicos de quem fica em casa. O preço das televisões subiu 40,5% e, dos videogames, 44,1%. As geladeiras estão 32% mais caras.
Um capítulo à parte da pandemia foram os automóveis, uma das principais vítimas da falta de chips que atingiu toda a indústria global depois do desequilíbrio que o estouro da pandemia levou às linhas de produção.
O Brasil não saiu ileso às dificuldades de conseguir as peças que controlam os comandos dos veículos, o que atrasou a produção e colaborou para encarecer o preço dos carros novos. Com os zero quilômetros mais caros, os brasileiros foram em busca dos usados —e os preços deles também dispararam.
Pelos números do IPCA, um automóvel novo custa hoje 24% mais do que no início da pandemia e, um usado, 23%.
Nem as bicicletas escaparam das mudanças de hábitos: o preço delas subiu, em média, 25% nos últimos dois anos. As motos encareceram 19%, além de peças e serviços ligados aos veículos, como pneu, conserto e aluguel, também terem visto alta nos preços.
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