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Amazonas

Amazônia tem 990 mil pessoas sem eletricidade ou com soluções poluidoras e caras, mostra estudo

Os alertas estão no estudo “Sistemas Fotovoltaicos da Amazônia Legal” desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema).

Na Amazônia Legal há mais de 990 mil pessoas sem acesso público à energia elétrica -ou com soluções particulares, poluidoras e caras como geradores a diesel. São quase 220 mil moradias, escolas ou postos de saúde não conectados ao sistema integrado nacional. O programa “Mais Luz para a Amazônia”, de 2020, que prevê atendimento por sistemas de energia solar, pode exigir um volume de 12 milhões de equipamentos, entre painéis e baterias. É fundamental incluir no esforço um sistema de coleta de resíduos, hoje quase inexistente. As informações são do Valor Econômico.

Os alertas estão no estudo “Sistemas Fotovoltaicos da Amazônia Legal” desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). É uma análise dos desafios da universalização da energia na região Norte.

As áreas mais carentes do serviço público são terras indígenas, territórios quilombolas, assentamentos rurais e ribeirinhos. “São pessoas que vivem em regiões remotas da Amazônia, longe das capitais, onde a rede de distribuição de energia não os alcança”, diz Vinícius Oliveira da Silva, analista de projetos do Iema e um dos coordenadores do diagnóstico.

12 milhões de equipamentos deve ser a necessidade do programa Mais Luz para a Amazônia
Em 2020, durante o governo Bolsonaro, foi lançado o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica na Amazônia Legal – Mais Luz para a Amazônia (MLA), com o objetivo de levar energia para 219.221 unidades consumidoras (principalmente residências, mas também postos de saúde e escolas) até 2022. Apenas 5% da meta havia sido atendida ao fim do prazo, que foi prolongado para 2030.

Dos nove Estados da Amazônia Legal, o Acre tem o maior percentual de pessoas sem energia em relação ao total da população do Estado (10%). É o Pará, contudo, com a maior demanda de pessoas sem acesso ao serviço público de energia elétrica, com quase 155 mil pontos, seguido pelo Amazonas (33 mil).

A estimativa de custos do programa gira em torno a R$ 10 bilhões. “É um esforço muito importante, mas é preciso observar que estamos diante de um programa social”, diz André Luis Ferreira, diretor-executivo do Iema. “Não se trata de uma estratégia para resolver a rota de desenvolvimento sustentável da Amazônia, pensando na logística necessária para transporte e estrutura de energia elétrica para manter a floresta em pé”.

O programa Mais Luz para a Amazônia especifica que a lacuna deve ser atendida por energia renovável. Para a região, a energia solar via painéis fotovoltaicos é a que ganhou destaque.

O sistema considera o painel fotovoltaico, uma bateria para armazenar a energia e um inversor, que controla e distribui a energia gerada entre a casa e a bateria. O estudo lembra que 96% dos módulos fotovoltaicos são importados.

Há duas opções para o atendimento das pessoas. Um deles, individual (o SIGFI), contempla casas ou postos de saúde com um sistema próprio. O outro prevê uma minirede de geração (o MIGDI). Nesse caso haverá uma pequena usina e uma pequena rede de distribuição de energia para a comunidade.

O primeiro formato prevê a geração de 45 kWh/mês. O outro é de 180 kWh/mês de energia gerada. Segundo o diagnóstico do Iema, o SIGFI 45 não atende à demanda básica dos domicílios da região Norte. Praticamente 99% dos sistemas instalados até agora são no padrão individual com capacidade de até 45 kWh de energia por mês. “As famílias contempladas com esse sistema conseguem ligar uma tevê de tubo, uma geladeira pequena, acionar lâmpadas por algumas horas à noite e carregar celular”, diz Oliveira da Silva.

O SIGFI 180 é melhor desenhado para atender a média de consumo das residências da região Norte e também permitiria algumas atividades produtivas, como ligar um pequeno motor elétrico para bombear água, um freezer, uma máquina de costura, diz o estudo.

Os painéis fotovoltaicos precisam de baterias para armazenar energia que não é gerada de noite. O estudo avaliou as duas principais baterias disponíveis, a de chumbo-ácido, que tem uma cadeia já desenvolvida no país, e a de íon-lítio, mais moderna e com tendência de ser mais usada globalmente. Pelos cálculos dos pesquisadores, a necessidade média seria de instalar quase 800 mil unidades de módulos fotovoltaicos ao ano na região e 200 mil baterias.

Os painéis fotovoltaicos têm vida útil de 25 anos; as baterias de chumbo duram em torno de 3 anos, e as de lítio, 10. “As quantidades de resíduos de baterias de chumbo serão constantes e em grande volume”, diz Oliveira da Silva. “É preciso endereçar nesse programa a logística reversa dos eletroeletronônicos”, reforça.

Aqui está um desafio: só 7 % dos municípios da região amazônica têm algum tipo de logística reversa e estão concentrados nas capitais. “Os resíduos irão para algum lugar e não há nada realmente desenhado no manual do programa, com responsabilidades claras. Isso é preocupante”, continua o pesquisador do Iema.

“Os números são altos”, continua Oliveira da Silva. Dependendo do sistema adotado, o cálculo de resíduos varia entre 70 mil toneladas e 237 mil toneladas. “É uma média de sete mil toneladas de resíduos ao ano, quase o dobro de toda a capacidade coletada no país de resíduos eletroeletrônicos”, diz. “O volume nas zonas remotas da Amazônia seria muito superior à do Sudeste, onde existe uma estrutura montada de coleta e logística reversa”.

Só 71 municípios na Amazônia têm aterros e 444 têm lixões. “Esses equipamentos possuem resíduos tóxicos, não podem ser jogados em qualquer lugar”, diz o especialista. “Há um problema de articulação de políticas públicas”, destaca Ferreira.