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População do Equador vota 59% contra exploração de petróleo na Amazônia em plebiscito

Com o resultado, o governo terá que retirar progressiva e ordenadamente todas as atividades relacionadas à extração de petróleo que existem hoje no local.

Centro de Processamento Tiputini, da estatal Petroecuador, no Parque Nacional Yasuni, no nordeste do Equador (Foto: AFP)

Além de decidir os dois candidatos que disputarão a Presidência em outubro, o Equador votou contra a exploração de petróleo em uma parte da Amazônia equatoriana em plebiscito histórico neste domingo (20). Os campos em questão ficam localizados no Parque Nacional Yasuni, uma das áreas ambientais mais ricas do mundo, na fronteira com o Peru.

Com 70% das urnas apuradas, 59% dos eleitores responderam “sim” à seguinte consulta popular: “Você concorda que o governo equatoriano mantenha o petróleo do ITT [Ishpingo, Tambococha e Tiputini], conhecido como bloco 43, indefinidamente sob o subsolo?”. Muitos criticaram a confusa formulação da pergunta.

Com o resultado, o governo terá que retirar progressiva e ordenadamente todas as atividades relacionadas à extração de petróleo que existem hoje no local em até um ano —o prazo começa a contar em 4 de outubro, com a publicação dos resultados oficiais. O Estado também não poderá fazer novos contratos.

Apesar de a área ter sido declarada uma “reserva da biosfera” pela Unesco em 1989, a estatal Petroecuador tem extraído petróleo do bloco 43 de Yasuni desde 2016, com permissão do então presidente Rafael Correa. Ele tentou criar um fundo de preservação ambiental com aportes internacionais para evitar a exploração, mas fracassou.

Quem advogou pelo “não” no plebiscito argumentou que a paralisação vai causar perda de receitas para o país, que passa por uma grave crise de segurança. Já quem defendeu o “sim” destacou o alto impacto da atividade para a natureza e os povos indígenas da região. A polêmica atraiu a atenção de celebridades, como o ator de Hollywood Leonardo DiCaprio e a ativista ambiental Greta Thunberg.

O parque Yasuní cobre mais de 1 milhão de hectares e abriga pelo menos 2.000 espécies de árvores e arbustos, 204 de mamíferos, 610 de pássaros, 121 de répteis, 150 de anfíbios e 250 de peixes. É também o lar de várias populações indígenas, incluindo pelo menos duas das últimas tribos “isoladas”.

Segundo estimativas do governo, o “bloco 43” fornece 12% dos 466 mil barris de petróleo produzidos por dia pelo país sul-americano. A gestão do atual presidente, Guillermo Lasso, diz que o fechamento das operações fará o país perder US$ 1,2 bilhão (R$ 6 bilhões) por ano em receitas. Isso equivale a 0,1% do PIB (Produto Interno Bruto) local.

Os equatorianos decidiram que esse é um preço pequeno a pagar. “Eu acho que não vale a pena, que não compensa explorar o pouco que nos resta de natureza por isso, então votei contra [sim]”, dizia a estudante Daiana Abril, 25, na porta de um colégio eleitoral em Magdalena, bairro periférico de Quito, pela manhã.

Ela criticou a pergunta que estava nas cédulas de papel. “O mais lógico seria responder ‘não’ à exploração de petróleo”, afirmou. O funcionário público Wilson Chulde, 57, opinou o mesmo: “Eu votei no ‘sim’, mas acho que muita gente vai votar errado por não entender a questão, fizeram ao contrário para confundir”, falou.

Confusos ou não, os equatorianos terminaram optando pela retirada dos maquinários da Amazônia. “Esperamos que nosso exemplo inspire outros países a fazerem o mesmo”, disse à BBC antes da votação Pedro Berneo, um dos líderes do Yasunidos, grupo ambiental que fez campanha há dez anos pelo plebiscito.

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