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Com críticas a Putin, chefe da missão diplomática da Rússia na ONU pede demissão: ‘Vergonha’

No texto, ele classifica a invasão russa na Ucrânia como “o crime mais grave contra o povo da Rússia”

Presidente russo, Vladimir Putin. (Foto:Reprodução)

Chefe da missão russa na ONU (Organização das Nações Unidas), o diplomata Boris Bondarev renunciou nesta segunda-feira, 23/5,  ao cargo com uma carta aberta repleta de críticas ao governo do presidente Vladimir Putin.

No texto, ele classifica a invasão russa na Ucrânia como “o crime mais grave contra o povo da Rússia”. Bondarev trabalhou no Ministério das Relações Exteriores da Rússia desde 2002 —primeiro em Moscou e depois em Genebra.

“Durante 20 anos de minha carreira diplomática vi diferentes reviravoltas em nossa política externa, mas nunca senti tanta vergonha de meu país como em 24 de fevereiro deste ano”, disse o diplomata russo Boris Bondarev.

Na carta, ele diz que o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, é “uma boa ilustração” do sistema político russo. Na missiva, o diplomata culpa o chanceler por muitas das escolhas recentes do governo russo, criticando-o por “ameaçar o mundo” e servir “aos interesses de poucos, contribuindo assim para um maior isolamento e degradação” do país eurasiático.

Sem citar Putin, o diplomata diz que a guerra na Ucrânia foi concebida por pessoas que estão dispostas a sacrificar vidas para “permanecer no poder para sempre, viver em palácios pomposos de mau gosto, gozando de poder ilimitado e total impunidade”.

Alto militar já havia criticado governo Putin Bondarev é o primeiro representante russo de alto nível a criticar a guerra na Ucrânia. Antes dele, em fevereiro deste ano, Leonid Ivashov, um condecorado militar da linha dura que tem atuado junto à Assembleia de Oficiais de Toda a Rússia (associação que reúne militares aposentados) desde que deixou o posto de chefe de cooperação no Ministério da Defesa do país, havia alertado que a nação eurasiática se tornaria um pária internacional.

A declaração foi dada poucas semanas antes de a Rússia iniciar a ocupação armada do território ucraniano. “A situação que está sendo criada em torno da Ucrânia é, antes de tudo, artificial, de natureza mercenária para algumas forças internas, incluindo a Federação Russa”, disse Leonid Ivashov em carta aberta a Putin.

No documento intitulado “A Véspera da Guerra”, Ivashov criticou a “política criminosa” de Putin de “provocar uma guerra”, num momento em que, em sua avaliação, a Rússia não enfrenta nenhuma “ameaça crítica”.

Leia a tradução da carta de Boris Bondarev

“Meu nome é Boris Bondarev, no Ministério das Relações Exteriores da Rússia desde 2002 até agora — Conselheiro da Missão Russa no Escritório da ONU em Genebra.

Durante 20 anos de minha carreira diplomática vi diferentes reviravoltas em nossa política externa, mas nunca senti tanta vergonha de meu país como em 24 de fevereiro deste ano. A guerra agressiva desencadeada por Putin contra a Ucrânia, e de fato contra todo o mundo ocidental, não é apenas um crime contra o povo ucraniano, mas também, talvez, o crime mais grave contra o povo da Rússia, com uma letra Z em negrito riscada todas as esperanças e perspectivas de uma sociedade próspera e livre em nosso país.

Aqueles que conceberam esta guerra querem apenas uma coisa: permanecer no poder para sempre, viver em palácios pomposos e de mau gosto, navegar em iates comparáveis em tonelagem e custo a toda a Marinha russa, desfrutando de poder ilimitado e total impunidade.

Para conseguir isso, eles estão dispostos a sacrificar quantas vidas forem necessárias. Milhares de russos e ucranianos já morreram só por isso. Lamento admitir que ao longo de todos esses vinte anos o nível de mentiras e falta de profissionalismo no trabalho do Ministério das Relações Exteriores têm aumentado cada vez mais.

No entanto, nos últimos anos, isso se tornou simplesmente catastrófico. Em vez de informações imparciais, análises imparciais e previsões sóbrias, há clichês de propaganda no espírito dos jornais soviéticos da década de 1930. Foi construído um sistema que engana a si mesmo.

O ministro Lavrov é um bom exemplo da degradação desse sistema. Em 18 anos, ele passou de um intelectual profissional e educado, que muitos dos meus colegas tinham em tão alta estima, para uma pessoa que constantemente transmite declarações conflitantes e ameaça o mundo (ou seja, a Rússia também) com armas nucleares!

Hoje, o Ministério das Relações Exteriores não tem nada a ver com diplomacia. É tudo sobre belicismo, mentiras e ódio. Serve aos interesses de poucos, muito poucos, contribuindo assim para um maior isolamento e degradação do meu país. A Rússia não tem mais aliados, e não há ninguém para culpar, a não ser sua política imprudente e mal concebida.

Estudei para ser diplomata e sou diplomata há vinte anos. O Ministério se tornou minha casa e minha família. Mas eu simplesmente não posso mais compartilhar essa ignomínia sangrenta, tola e absolutamente desnecessária.”

A informação é do UOL.

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