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Brasil

Estudo indica que quase 1 milhão de pessoas não têm fornecimento de luz na Amazônia

Na região ainda há cerca de 3 milhões de habitantes fora do Sistema Interligado Nacional (SIN).

Os cerca de 80 habitantes de Vila Limeira, no sul do Amazonas, parte dos quase um milhão sem acesso ao serviço público de energia na Amazônia, conhecem de perto o impacto da chegada da eletricidade para povoados isolados. Há dois anos, só tinham três horas diárias de luz, quando o gerador a diesel era ligado. A comunidade passou a ter energia ininterrupta após a instalação de um sistema de energia solar, doado pela Fundação Mott, dos Estados Unidos.

“Desde então, nossa vida melhorou muito”, conta Napoleão Oliveira, integrante do conselho deliberativo da Reserva Extrativista do Médio Purus. Com a eletricidade, a vila pôde bombear água de um poço até as casas dos moradores. “Depois que deixamos de beber água do rio, as crianças quase não têm mais diarreia”, diz ele. O acesso à educação também ficou mais fácil. “Agora, seis jovens estão fazendo faculdade on-line.” Mas ainda nem tudo é possível. “Se tivéssemos energia elétrica suficiente, poderíamos montar uma pequena fábrica para beneficiamento de açaí e cupuaçu e vender a polpa por 500% a mais do que hoje cobramos pelas frutas sem processamento.”

Com algumas das maiores hidrelétricas do país, como Tucuruí e Belo Monte (PA), a Amazônia Legal fornece 25,5% da energia elétrica do país, mas só consome 8,5%. Na região ainda há cerca de 3 milhões de habitantes fora do Sistema Interligado Nacional (SIN), que recebem energia de usinas locais, a maioria termelétricas a óleo diesel, nos chamados Sistemas Isolados, predominantes em áreas remotas.

“Existe um contraste entre o Brasil da energia renovável e interconectado e o Brasil isolado e abastecido a combustível fóssil”, diz estudo do Climate Policy Initiative (CPI), organização com foco em políticas ambientais e mudança climática. Amanda Schutze, coautora do relatório e professora da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP), classifica como “distorção” o fato de a Amazônia enviar energia renovável para outras regiões e utilizar localmente termelétricas movidas a combustível fóssil.

Mais caros, os sistemas isolados são subsidiados pela Conta de Consumo de Combustível (CCC), incluída nas contas de luz de todos os brasileiros, para que seus usuários paguem em média o valor cobrado pela energia no restante do país. A CCC somou R$ 12,4 bilhões em 2022, alta de 66,7% em relação ao valor de 2019. “O número de sistemas isolados diminui, mas a conta só aumenta, com subsídio per capita superior a R$ 3.000 por habitante das áreas com sistemas isolados”, diz Schutze. “Imagine quantas usinas solares seria possível fazer com esse dinheiro.”

Segundo o Fórum de Energia Renováveis de Roraima, o custo de operação de um sistema solar para consumo de 10MWm de energia é de R$ 4,4 milhões em 25 anos, contra R$ 2,3 bilhões de uma usina a diesel. A instalação da solar, porém, custa mais – R$ 490 milhões, ante R$ 60 milhões da termoelétrica -, exigindo mais tempo para o retorno do investimento. “Para incentivá-la, é importante que prazos longos sejam considerados na concessão”, afirma Schutze.

O Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) também defende sistemas solares. “Mas, na maior parte das vezes, populações indígenas e quilombolas recebem das fornecedoras o mínimo estabelecido, de 45 Kwh por mês, suficiente apenas para uma geladeira pequena, uma TV de 14 polegadas ligada por três horas e três lâmpadas leds acesas por quatro horas”, afirma Vinícius Oliveira da Silva, especialista na área de energia da entidade. “Não dá, por exemplo, para ligar uma máquina de costura”, diz.

Segundo o Iema, o programa Mais Luz para Amazônia, criado em 2020 para levar energia a toda a região, atingiu no ano passado só 5% da meta prevista para o período. Em agosto, o governo antecipou em dois anos, para 2028, a meta para universalização do acesso à energia na Amazônia.

As informações são da revista Exame.