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Brasil

Casos de preconceito contra atletas cresceram 40% nos estádios brasileiros em 2022

Observatório de Discriminação Racial no Futebol verificou aumento nas situações de racismo em comparação com 2021; ofensas homofóbicas dispararam ainda mais.

Campanha do Vasco contra preconceito. (Foto: Daniel Ramalho/Vasco)

O caso Vinícius Junior acendeu um alerta em praticamente todo o mundo contra manifestações de preconceito contra atletas nos campos de futebol. No entanto, as ofensas não ocorrem apenas na Europa, mas também no Brasil – e têm aumentado nos últimos anos. Além disso, não se tratam apenas de racismo, mas também de homofobia.

Segundo um levantamento do Observatório da Discriminação Racial do Futebol, o Brasil viveu um aumento no número de ocorrências de racismo no ano passado. Em 2021, o Observatório registrou 64 situações de racismo. Já em 2022, foram comprovadas 90 situações – um aumento de 40%. A alta se dá porque os atletas têm tomado consciência da necessidade de se fazer denúncias contra as ofensas.

“O jogador de futebol compreendeu que aquilo que acontece em campo, que ele dizia que deveria morrer em campo, ele já entende que isso é crime, que o racismo é crime, não pode morrer em campo e precisa ser denunciado”, diz Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório.

Já o coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ, em parceria com a CBF, afirma que episódios de homofobia passaram de 42 em 2021 para 74 em 2022 – um crescimento de 76%. Algo que tanto quem está em campo como quem vai ao estádio sente na pele.

“Muitos deixaram de jogar muito tempo atrás justamente por causa com esse preconceito. Então a gente tentou mostrar para eles que não era essa barreira que impedia. Mostrar que a qualidade técnica, técnica não tem a ver com a orientação sexual deles”, argumenta Bruno do Carmo, presidente do Alligaytors – time formado por homossexuais.

Renato Mello, atleta do Alligaytors, também pensa em quem está na arquibancada e é obrigado a ouvir ofensas homofóbicas.

“A gente vai ao estádio com receio. Mesmo eu, por exemplo, que não sou afeminado. Mas há aquele receio de ‘vou ao estádio, como será que vou ser tratado?’. Como é que vai ser o olhar das outras pessoas para comigo? Então é complicado sim, tem esse receio”, admite.O goleiro Aranha sofreu racismo durante uma partida do Santos, equipe que defendia, e o Grêmio na casa do adversário na Copa do Brasil de 2014. E naturalmente, ele nunca esqueceu o episódio. Agora, acompanha o caso de Vini Jr. triste com o ocorrido.

“Não é fácil. Eu acompanho tudo isso com muita tristeza. Mas não é nenhuma novidade para as pessoas negras que estão mais atentas ao caso, mais atentas a toda essa situação que o racismo provoca. Talvez seja uma novidade para muitas pessoas, porque muita, muita, muita gente ainda se nega a acreditar que o racismo é real, que ele existe, que ele afeta, que ele prejudica as pessoas”, lamenta.

Aranha, no entanto, acredita que as manifestações de apoio a Vini Jr. e a outras pessoas que sofrem racismo não são suficientes para conter mais atos racistas nos campos.

“Muitas vezes a gente fica só nas palavras e acaba não tendo uma atitude. Tapinha nas costas, uma palavra de apoio, isso é muito fácil. A história do brasil mostra muito disso: o Brasil é um país em que todo mundo conhece um racista, mas ninguém se declara racista. Então é muito difícil quando a gente não vê atitudes reais”, define.

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