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Amazonas

Apagão de dados reflete o baixo investimento em ciência na Amazônia, aponta relatório do INPI

Por trás da falta de dados seguros, situação que dificulta conciliar atividades econômicas com conservação ambiental na foz do Amazonas, está o gap de acesso a recursos para ciência e tecnologia na região.

A Amazônia Legal, com 60% do território brasileiro, representa menos de 1% dos dispêndios nacionais para o setor. São 20 mestres e doutores por 100 mil habitantes – metade da média brasileira, segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O Amapá é o Estado que menos recebe investimentos em pesquisas científicas, 0,1% do total no país.

“Tamanha desigualdade interfere não somente nos estudos exploratórios de petróleo, como também de possíveis fontes renováveis, como a energia das marés, que na região registram as amplitudes de dez metros, as maiores do país”, atesta Valdenira Ferreira dos Santos, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Científica e Tecnológica do Amapá (IEPA). Segundo ela, a necessidade de reverter o apagão científico com mais investimentos em território estratégico ao Brasil, gerando dados confiáveis sobre oceanos, é a principal lição do atual debate envolvendo o petróleo na Amazônia.

Apesar da agenda da transição energética para o baixo carbono, em curto a médio prazo os combustíveis fósseis continuarão com significativa participação na matriz energética global. “Além da energia, os oceanos propiciam uma série de serviços e recursos para os quais convergem múltiplos atores, desencadeando conflitos e desafios para a gestão costeira e marinha”, reforça Santos. “Hoje, na bacia da foz do Amazonas, no total de 350 mil km², não temos dados para dizer que os bancos pesqueiros precisam ser protegidos, por exemplo, em caso de derramamento de óleo de navios-tanque”, lamenta.

“A viabilidade da exploração de petróleo na área dependerá de estudos mais robustos de melhor qualidade e maior segurança para minimizar os riscos”, ressalta Nils Edvin Asp, oceanógrafo da Universidade Federal do Pará (UFPA). Como consultor independente, o pesquisador acompanha as tentativas de licenciamento ambiental na região desde a década passada. “Ao contrário de outros lugares, faltam dados básicos de biodiversidade e dinâmicas oceânicas para caracterização ambiental”, diz.

Emilio La Rovere, professor de planejamento energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), reforça a necessidade da Avaliação Ambiental Estratégica, criada em 2012 pelo governo federal. “Não adianta atropelar a legislação ambiental, porque não há qualquer sentido fazer de qualquer jeito”.

Além da imagem no exterior, está em jogo a competitividade do Brasil no setor. “Precisamos vender com menos custo e menor pegada ambiental, e o petróleo da Amazônia não se encaixa nisso. No futuro, pode não haver mercado para esse petróleo”, afirma.

No médio e longo prazo, não faz sentido destruir o potencial da bioeconomia devido à exploração de petróleo”, afirma o pesquisador. No entanto, segundo analistas, há carência de dados também na produção florestal, vocação econômica do Amapá – em grande parte não inserida nas estatísticas da economia do país. “Não podemos perder a oportunidade de desenvolver uma economia condizente com a biodiversidade, em detrimento do petróleo”, avalia Decio Yokota, coordenador do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), que apoia comunidades extrativistas na produção e no desenvolvimento de mercados.

Com 74% do território coberto por floresta tropical, quase toda em área legalmente protegida, o Amapá – do tupi, “lugar da chuva” – é dono de expressiva fonte de matéria-prima para a bioeconomia como vetor de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, possui PIB entre os mais baixos do país, o que leva políticos e empresários a defenderem royalties do petróleo como forma de financiar a produção florestal. Caso o dinheiro chegasse na ponta, funcionaria como uma espécie de compensação da energia suja.

“Investir no manejo florestal, mantendo áreas produtivas, é a melhor estratégia para conservar a Floresta Amazônica e desenvolver a economia na região”, destaca Marcelino Guedes, pesquisador da Embrapa em Macapá (AP). Segundo ele, o Amapá tem quase cinco milhões de hectares de florestas de alta produção, com potencial para o manejo. Grande parte se localiza na Floresta Nacional do Amapá e na Estadual, abertas à exploração madeireira por empresas, em regime de concessão.

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