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Amazonas

Amazonas registra maior desmatamento desde 2003, mostram dados do Inpe

Notícias sobre o asfaltamento da BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM) podem estar na base do aumento da especulação com o valor das terras e o desmatamento no Sul do Amazonas.

O Amazonas teve um salto de 36% na área desmatada, – de 1.045 km² para 1.421 km² – entre agosto do ano passado e julho deste ano, a maior taxa desde 2003, dados estaduais do sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), publicados pelo jornal O Estado de S. Paulo. Com esse aumento, o Estado passou a ocupar o terceiro lugar entre os maiores desmatadores, passando Rondônia. A troca de posições também se deu porque Rondônia teve uma redução de 5,4% no desmatamento.

A devastação está se expandindo para além do tradicional arco do desmatamento em direção ao interior da Região Amazônica. É o que especialistas interpretam com base nos dados estaduais do sistema Prodes/Inpe, que foram oficialmente divulgados na segunda-feira. Estados que em geral apresentavam taxas menores de desmate tiveram altas expressivas neste ano.

Para Raoni Rajão, da Universidade Federal de Minas, os Estados de Amazonas, Acre e Roraima “são novas fronteiras de especulação, não de expansão e produção agropecuária”. Segundo ele, grande parte da perda no Amazonas pode estar ligada à especulação entorno do asfaltamento da BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM).

Essa explicação também foi aventada pelo pesquisador Tasso Azevedo, que coordena o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa. “O Amazonas tem unidades de conservação na fronteira com Mato Grosso e a leste, com o Pará, que tinham criado uma espécie de barreira, mas o desmatamento começou a subir por Rondônia, chegou a Apuí (uma das localidades que mais queimaram em agosto) e está se espalhando. A grilagem está se deslocando, diante da expectativa de repavimentação da Transamazônica e da BR-319. A grilagem é como a bolsa de valores, cresce com a especulação”, diz.

O governo do Amazonas disse que reconhece o aumento no desmatamento, mas que representa apenas 0,09% da área do Estado. O governo disse que “91% do desmatamento no Amazonas está concentrado em municípios do sul do Estado, que vêm sofrendo grande pressão da expansão da fronteira agrícola de outros Estados da região” e a região “tem sido foco das ações de combate ao desmatamento ilegal desde o início de 2019”.

Estudo

O estudo ‘BR-319 como propulsora de desmatamento: ‘Simulando o impacto da rodovia Manaus-Porto Velho’, do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), diz que a rodovia BR-319, que liga Rondônia à Amazônia central, dá aos desmatadores acesso a vastas áreas da floresta amazônica. Somente uma parte relativamente modesta do impacto total da rodovia no desmatamento seria ao longo da rota da rodovia em si, sendo que o grande papel potencial da rodovia em permitir a migração para fronteiras mais distantes faz com que esta rodovia seja diferente de outras estradas amazônicas.

Também diz que até agora, o desmatamento da Amazônia brasileira esteve quase inteiramente confinado à faixa nas bordas sul e leste da floresta, conhecida como o “arco do desmatamento”. A parte sul do Estado do Amazonas, que já tem acesso rodoviário a partir de Rondônia, é hoje um foco de desmatamento porque os atores e processos do arco do desmatamento se movem para essa área.

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