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Amazonas

Amazonas está entre os estados que ainda não recuperaram economia após pandemia, mostram dados do BC

Além da região Norte, o Nordeste também encontra dificuldades para sair da crise. Os dados são do Índice de Atividade Econômica Regional, do Banco Central.

Turismo no Amazonas ainda não se recuperou após pandemia. (Foto:Reprodução)

A interrupção na produção de insumos para as fábricas do Polo Industrial de Manaus e a alta incidência de casos de Covid-19 no Amazonas fazem parte dos fatores que contribuíram para que o estado da região Norte ainda não tenha conquistado a recuperação econômica após a pandemia.

Os dados foram calculados com base no IBCR (Índice de Atividade Econômica Regional), do Banco Central. Os números mostram ainda uma recuperação desigual entre as unidades da Federação. Entre os 26 estados e o Distrito Federal, o BC calcula a atividade em 14 deles. Deste grupo, sete estados já recuperaram os níveis de atividade pré-pandemia e outros sete não.

Cinco estados que ainda não se recuperaram estão no Norte e no Nordeste: Amazonas, Pará, Bahia, Ceará e Pernambuco. A lista de estados com dificuldades é completada por Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Na outra ponta, Goiás, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul já registram atividade superior ao visto antes da pandemia.

Regiões

Além da região Norte, o Nordeste também encontra dificuldades para sair da crise. Os motivos estão relacionados a fatores como a menor diversificação produtiva, a redução de auxílios à população carente e o impacto da variante ômicron sobre o turismo.

Enquanto regiões as mais pobres do Brasil ainda lutam para recuperar sua atividade econômica e seguem em retração, o Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul do país já registram níveis de atividade superiores aos vistos antes da covid-19.

Os dados do Banco Central mostram que, de fevereiro de 2020 (antes da pandemia) a dezembro do ano passado, a atividade econômica cresceu 3,66% no Centro-Oeste, 2,69% no Sudeste e 1,77% no Sul do país. Na prática, estas regiões conseguiram superar a fase mais aguda da crise sanitária e suas economias já estão avançando.

No Norte e no Nordeste, porém, a atividade econômica ainda está em níveis abaixo do momento pré-pandemia. No período considerado, o Norte registra retração de 0,12% e o Nordeste apresenta queda de 2,43%.

Esses percentuais foram calculados com base no IBCR (Índice de Atividade Econômica Regional), do Banco Central. Medido em pontos, o indicador é uma espécie de prévia para o PIB (Produto Interno Bruto), considerando cada uma das regiões brasileiras. A lógica do indicador é a mesma do IBC-Br (Índice de Atividade do Banco Central), que mede a atividade para todo o país.

Veja os números para as regiões/IBCR em meses selecionados (em pontos):

-Fevereiro de 2020: 171,63 (Norte); 143,45 (Nordeste); 171,76 (Centro-Oeste); 138,52 (Sudeste); 144,27 (Sul)
-Fevereiro de 2021: 169,53 (Norte); 140,11 (Nordeste); 169,87 (Centro-Oeste); 140,66 (Sudeste); 148,67 (Sul)
-Outubro de 2021: 170,58 (Norte); 140,50 (Nordeste); 174,62 (Centro-Oeste); 139,24 (Sudeste); 147,98 (Sul)
-Dezembro de 2021: 171,42 (Norte); 139,96 (Nordeste); 178,05 (Centro-Oeste); 142,25 (Sudeste); 146,82 (Sul)

Por que Norte e Nordeste estão atrasados?

O atraso do Norte e do Nordeste na recuperação econômica é explicado, em grande parte, pela menor diversificação econômica, na comparação com outras regiões. A economista Augusta Pelinski Raiher, professora da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), explica que o Norte e o Nordeste possuem atividades econômicas ligadas em grande parte aos serviços, em especial o turismo. Com o avanço da covid-19 a partir de 2020 e, mais recentemente, da variante ômicron, a economia das regiões foi afetada.

“O turismo foi fortemente abalado pela pandemia. É natural que o Nordeste não tenha se recuperado plenamente. A região litorânea tem atividades que exigem maior interação entre as pessoas. Assim, sua economia é atingida a cada pico da covid-19”, diz Augusta Pelinski Raiher, economista da UEPG.

Estudiosa do desenvolvimento regional, Augusta Raiher chama atenção ainda para o fato de, no Nordeste, a atividade produtiva estar limitada a algumas áreas principais. “Existem ilhas de atividades produtivas no Nordeste. Não é como no Sul e no Sudeste, onde há homogeneidade”, afirma. “A estrutura produtiva é bastante localizada e não diversificada, o que faz com que a região não consiga os efeitos multiplicadores de emprego e renda.”

Essa concentração produtiva é verificada também no Norte: boa parte da atividade industrial está reunida na Zona Franca de Manaus. Nesta área, as indústrias vêm sendo prejudicadas pela interrupção na cadeia global de uma série de insumos.

“A crise de abastecimento de insumos prejudicou a Zona Franca de Manaus. Os eletroeletrônicos dependem de condutores e chips. Se a indústria não possui os insumos, como vai produzir?, questiona Lucas Vitor de Carvalho Sousa, economista da Ufam.

De acordo com o economista Lucas Vitor de Carvalho Sousa, professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), os surtos de covid-19 também prejudicaram o turismo, uma importante fonte econômica para o Norte. “A ômicron se expandiu e limitou as atividades que exigem relação social. De novembro a abril, por exemplo, ocorre no Amazonas a temporada dos cruzeiros turísticos, que chegam da Europa. Mas eles foram suspensos.”

Auxílios menores também pesaram

Os economistas ouvidos pelo UOL afirmam ainda que as mudanças ocorridas nos auxílios pagos à população carente, desde que começou a pandemia, ajudam a explicar a recuperação mais lenta do Norte e do Nordeste. No auge da pandemia, em 2020, o governo federal chegou a pagar um auxílio emergencial de R$ 600 para a população com menor renda. Em alguns casos, o benefício chegava a R$ 1.200. Posteriormente, o benefício foi renovado, mas com valores menores (R$ 300 e R$ 600).

Em 2021, o auxílio deixou de ser pago por três meses, mas acabou voltando, com parcelas de R$ 150 e R$ 375 por mês. No fim do ano, ele deu lugar ao Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família), no valor de R$ 400. Lucas Sousa, da Ufam, lembra que o Norte e o Nordeste são justamente as regiões mais pobres do país, que receberam a maior parte dos auxílios. “Em um primeiro momento, tivemos o auxílio emergencial de R$ 600 e, depois, o valor diminuiu drasticamente. Agora, nem todas as famílias recebem”, diz Sousa, em referência ao Auxílio Brasil. “A questão do auxílio na pandemia pesou fortemente para o desempenho destas regiões.”

No início da pandemia, o auxílio pago à população de baixa renda do Norte e do Nordeste foi fundamental para que atividades locais, como as do pequeno comércio, sobrevivessem. Com a mudança de valores, o impulso para a retomada diminuiu. Agronegócio e indústria puxam recuperação em outras regiões As regiões mais ricas do país retomaram os níveis de atividade pré-pandemia mais rapidamente.

O Centro-Oeste foi puxado pelo bom desempenho do agronegócio. O avanço dos preços das commodities no mercado internacional, na esteira da demanda por alimentos como soja e milho, fez com que a atividade econômica na região se recuperasse. Mais diversificadas, as regiões Sudeste e Sul também já atingiram os níveis de atividade de antes da covid-19. Essas regiões foram favorecidas, em grande medida, pela indústria.

“A característica da estrutura produtiva de cada região é que está determinando esta retomada. Regiões que têm a agropecuária mais forte em sua composição conseguiram mais rapidamente a recuperação”, afirma Augusta Raiher, da UEPG. “Regiões com atividade produtiva mais diversificada também conseguiram a retomada mais rapidamente. Como o Norte e o Nordeste têm atividades concentradas, a recuperação é lenta.”

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