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Meta da OMS não é atingida e esforço para vacinar o mundo contra a Covid perde força

A meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) é vacinar totalmente 70% da população mundial contra o coronavírus até junho de 2022.

Vacinação contra coronavírus na África. (Foto Themba Hadebe_AP)

Em meados do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a promover uma meta ambiciosa, que disse ser essencial para acabar com a pandemia de Covid-19: vacinar totalmente 70% da população mundial contra o coronavírus até junho de 2022.

Agora, está claro que o mundo ficará muito aquém dessa meta no prazo. E há um sentimento crescente de resignação entre os especialistas em saúde pública de que a alta cobertura de vacinação contra a Covid pode nunca ser alcançada na maioria dos países de baixa renda, à medida que o financiamento necessário dos Estados Unidos seca e tanto governos quanto doadores se voltam para outras prioridades.

— A realidade é que há uma perda de impulso — disse Isaac Adewole, ex-ministro da Saúde da Nigéria que agora atua como consultor dos Centros Africanos de Controle e Prevenção de Doenças.

Apenas alguns dos 82 países mais pobres do mundo — incluindo Bangladesh, Butão, Camboja e Nepal — atingiram 70% de cobertura vacinal. Muitos estão abaixo de 20%, de acordo com dados compilados de fontes governamentais pelo projeto Our World in Data da Universidade Oxford.

Em comparação, cerca de dois terços dos países mais ricos do mundo atingiram 70% — os Estados Unidos estão em 66%.

As consequências de desistir de alcançar uma alta cobertura vacinal em todo o mundo podem ser graves. Especialistas em saúde pública dizem que abandonar o esforço global pode levar ao surgimento de novas variantes perigosas que ameaçariam os esforços precários do mundo para viver com o vírus.

— Essa pandemia ainda não acabou. Longe disso, e é imperativo que os países usem as doses disponíveis para proteger o máximo possível de sua população — disse Seth Berkley, executivo-chefe da Gavi, a organização sem fins lucrativos que administra o consórcio global de vacinas Covax.

Países em diferentes partes do mundo, incluindo alguns na Europa Oriental e no Oriente Médio, viram suas taxas de vacinação estagnarem nos últimos meses em um terço ou menos de suas populações. Mas a taxa de vacinação da África continua sendo a mais sombria.

Menos de 17% dos africanos receberam uma imunização primária contra a Covid. Quase metade das doses de vacina entregues ao continente até agora não foram utilizadas. No mês passado, o número de doses injetadas caiu 35% em relação a fevereiro. Autoridades da OMS atribuíram a queda à vacinação em massa sendo substituída por campanhas de menor escala em vários países.

Alguns especialistas em saúde global dizem que o mundo perdeu uma excelente oportunidade no ano passado de fornecer vacinas a países de baixa renda, quando o público estava mais temeroso da Covid e motivado a se vacinar.

— Houve uma época em que as pessoas estavam muito desesperadas para se vacinar, mas as vacinas não existiam. E então eles perceberam que, sem a vacinação, eles não morriam — disse o Adewole, que deseja que os países continuem perseguindo a meta de 70%.

O ímpeto que resta na campanha global de vacinação foi prejudicado pela falta de financiamento para infraestrutura, transporte e pessoal necessários para receber as vacinas.

Nos Estados Unidos, um dos principais financiadores do esforço de vacinação, os congressistas retiraram US$ 5 bilhões destinados à ajuda global à pandemia do pacote de resposta ao coronavírus que deve ser votado nas próximas semanas. Funcionários do governo de Joe Biden disseram que, sem os fundos, eles não poderão fornecer apoio para a entrega de vacinas a mais de 20 países subvacinados.

Alguns especialistas em saúde pública apontam motivos para se ter otimismo de que a campanha global de vacinação ainda está em alta. Apesar da queda em relação ao pico de fevereiro, o número de vacinas contra a Covid sendo administradas todos os dias na África ainda está próximo de uma alta pandêmica. E a Gavi no início deste mês fez uma nova rodada significativa de promessas de financiamento, garantindo US$ 4,8 bilhões em compromissos, embora tenha ficado aquém de sua meta de US$ 5,2 bilhões.

Também há esperança de que uma cúpula global da Covid que a Casa Branca planeja cosediar no próximo mês possa ser uma oportunidade para gerar impulso e financiamento.

Mas a queda na demanda pública levou algumas autoridades e especialistas de saúde a questionar discretamente e, em alguns casos, abertamente, se a meta de vacinação de 70% é viável ou mesmo sensata.

As fatalidades da Covid-19 relatadas permanecem comparativamente baixas na África Subsaariana, embora haja debate sobre quanto disso reflete o rastreamento de dados inadequado. A percepção, no entanto, é que em muitos países da região a doença não representa uma ameaça séria, certamente não tanto quanto outros problemas de saúde generalizados que exigem atenção com recursos de saúde escassos.

Muitos governos de baixa renda estão voltando seu foco para suas economias e outros problemas de saúde como o HIV, disse Fifa Rahman, representante da sociedade civil de um grupo lançado pela OMS que coordena a resposta global à Covid.

— Há uma sensação de muitas prioridades concorrentes, mas isso é um sintoma de que o ímpeto acabou. Porque quando estava lá, todo mundo estava tipo, “onde estão nossas vacinas?” — disse.

Nas áreas rurais da República Democrática do Congo, por exemplo, onde a taxa de mortalidade por Covid relatada é muito baixa, há um aumento nos casos de sarampo que ameaçam 20 milhões de crianças. No entanto, o governo diz que não pode poupar os recursos para fornecer vacinas suplementares contra o sarampo este ano, disse Christopher Mambula, gerente médico dos Médicos Sem Fronteiras na África Oriental. Neste tipo de contexto, faz pouco sentido continuar a desviar recursos para a vacinação generalizada contra a Covid, disse.

À medida que os governos africanos receberam mais vacinas doadas de países ricos, mas tiveram dificuldades para distribuir até mesmo esses suprimentos, seu interesse em encomendar mais doses caiu.

A União Africana ainda pretende vacinar 70% de sua população até o final de 2022. Mas com os países demorando para esgotar as vacinas doadas, o bloco não encomendou mais doses das injeções da Johnson&Johnson e Moderna a quem tem direito.

A informação é do jornal O Globo.


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