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Desmatamento da Amazônia afeta as borboletas: elas estão perdendo as cores e podem desaparecer, mostra estudo

O estudo na região amazônica revelou que áreas desmatadas impactam diversas espécies de borboletas – e isso pode ser percebido na coloração de suas asas.

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Uma borboleta azul, a “blue morpho” (Morpho menelaus), fotografada em plena Floresta Amazônia, na Guiana Francesa. (Foto:Reprodução)

Borboletas coloridas e de tons vibrantes se tornando cinzas… O motivo: desmatamento. Uma pesquisa realizada de autoria de cientistas brasileiros realizada na Floresta Amazônica, em parceria entre a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Centro para a Ecologia e Conservação da Universidade de Exeter do Reino Unido, comprovou que há espécies de borboletas se tornando menos coloridas em áreas desmatadas em comparação aos locais de florestas preservadas.

A National Geographic Brasil explica este preocupante fenômeno gerado pelo desmatamento e que impacta a longo prazo às borboletas, afetando não só suas cores, mas também prejudicando o habitat natural de espécies que entraram em perigo de extinção, como a bela “blue morpho”, nativa da Amazônia.

A alteração das cores das borboletas por conta do desmatamento

A biodiversidade da Amazônia é algo impressionante, sendo a maior floresta tropical do planeta “a casa” de milhares de espécies vegetais e animais. Entre elas, estão muitas espécies de borboletas, como a borboleta “blue morpho” (Morpho menelaus), a Prepona narcissus, a Cithaerias andromeda, a Historis acheronta, entre tantas outras nativas da região amazônica, detalha o estudo realizado em conjunto das universidades citadas.

Como as borboletas são sensíveis às mudanças ambientais repentinas – por estarem intimamente associadas às espécies vegetais do ambiente em que vivem – elas se tornaram um “termômetro” dos efeitos do desmatamento ocorrido na Amazônia, pois são afetadas diretamente com a diminuição das áreas de mata.

Cristiano Agra, professor de ciências biológicas e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas que coorientador do estudo realizado em 2021, afirmou para um artigo da Agência Brasil (agência de comunicação oficial do governo federal brasileiro) que o impacto do desmatamento nos ecossistemas é gigantesco.

Os cientistas do estudo em questão analisaram as cores nas asas de 60 espécies de borboletas encontradas em diferentes pontos da mata amazônica com impactos humanos distintos e fizeram uma classificação. Assim, cada espécie foi listada por sua composição geral e seu provável contato com o ambiente ao redor.

Os pesquisadores observaram que, em locais recentemente desmatados, a cor das asas das borboletas era parda ou acinzentada, comparada à tonalidade dessas mesmas borboletas que viviam na floresta não desmatada e apresentavam uma riqueza de cores e tons azuis, brilhantes, transparentes, vermelhos e alaranjados em suas asas.

Em um artigo publicado no site da Universidade Federal de Pelotas, o biólogo Ricardo Spaniol, um dos principais autores da pesquisa, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRGS, explica que o início do estudo focava em verificar como o desmatamento afetaria as borboletas em diferentes aspectos, mas no decorrer do trabalho foi notado que as características das borboletas estavam correspondendo às mudanças no ambiente.

“Começamos com uma ideia um pouco diferente, não necessariamente aplicada às cores, mas foram elas que nos chamaram a atenção naquele momento e buscamos investigar mais a fundo o que estava acontecendo com a coloração das borboletas”, explicou Spaniol.

Como os pesquisadores constataram as mudanças das cores das borboletas amazônicas

O estudo foi realizado dentro de uma área do Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, no Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), no Amazonas, que possui fragmentos de florestas originais, áreas desmatadas e um grande contínuo de Floresta Amazônica preservada, um diversidade ambiental que se tornou essencial para a observação dos pesquisadores.

Após intensa pesquisa, eles chegaram a resultados que demonstram que a composição colorida das borboletas acompanha as características do habitat de cada borboleta. Isso porque as florestas não afetadas pela ação humana apresentam uma diversidade e riqueza de plantas para alimentação destes insetos.

Algo que não ocorre em áreas desmatadas por terem, claro, a sua vegetação limitada, acarretando também no desaparecimento de espécies —- que é o caso da bela borboleta azul conhecida como “blue morpho”, que está em perigo de extinção e tem papel ecológico fundamental na manutenção de ecossistemas florestais. Neste sentido, acabam sobrevivendo apenas as espécies de tons semelhantes ao do ambiente queimado e que conseguem se camuflar melhor no “novo cenário”, conforme relata o artigo sobre a pesquisa no site da UFPel.

O professor Cristiano Agra ressalta a importância dos resultados obtidos como alerta ao ritmo desenfreado de destruição dos ambientes e a necessidade de transmitir tais descobertas para além dos ambientes acadêmicos, informando a população da importância de trabalhar pela defesa dos ecossistemas no mundo todo.

“É importante chamar a atenção e trazer a população local para trabalhar pela conservação e contribuir efetivamente no cuidado com a riqueza gigante de plantas e animais da Amazônia, levando o conhecimento gerado pela pesquisa básica para sua aplicação de forma coerente, correta, inclusiva e necessária para além dos muros da universidade”, destaca o pesquisador no site da UFPel.


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