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Partido decide pedir afastamento de presidente do Paraguai após protestos da população

O movimento dos parlamentares atende às manifestações nas ruas de Assunção contra a condução da pandemia de coronavírus pelo governo.

No último fim de semana, os protestos reuniram muita gente, houve repressão das forças de seguranças, e pelo menos 20 pessoas ficaram feridas.(Foto: Cesar Olmedo/Reuters)

Os deputados do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) decidiram entrar nesta terça-feira (9) com um pedido de julgamento político para afastar o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez. O processo é parecido com o dispositivo do impeachment no Brasil —mas pode ocorrer de modo muito mais rápido se a maioria do Congresso for favorável ao afastamento. A informação é da Folha.

Se for afastado, o mandatário de centro-direita, aliado do presidente Jair Bolsonaro no Mercosul, será o primeiro líder a cair em decorrência da crise sanitária. O movimento dos parlamentares se dá na sequência de manifestações que têm tomado as ruas principalmente de Assunção contra a condução da pandemia de coronavírus pelo governo.
O país vinha controlando a disseminação do vírus com a imposição de medidas restritivas, mas desde janeiro a curva de infecções começou a aumentar. Os registros diários de novos casos estão acima de mil desde 15 de fevereiro —nos primeiros meses da pandemia, esse número não chegava a cem. O Paraguai também identificou, na semana passada, a presença da variante brasileira do coronavírus.

Para que o pedido de julgamento político contra Benítez seja aceito, são necessários 53 votos —o PLRA, que deve iniciar o processo, tem 29 deputados. O partido majoritário no Congresso é o Colorado, o mesmo de Abdo Benítez. A maioria dos integrantes da legenda, no entanto, é alinhada ao ex-presidente Horacio Cartes, reunida na corrente Honor Colorado. Por ora, esse grupo não apoia o impeachment, e os deputados afirmaram que não estarão presentes na sessão desta terça-feira.

“Nós sabemos que não temos os votos. Mas não se pode dar o jogo por perdido”, disse à Folha Efraín Alegre, líder do PLRA, ex-senador e ex-candidato à Presidência. “Se estamos frágeis no Congresso, a população está forte nas ruas e vai fazer com que Cartes tenha de mudar de ideia. Vai pressioná-lo para que deixe de apoiar Abdo Benítez.” Para Alegre, o poder de Cartes “é grande, e hoje sua vontade predomina, mas não se pode esquecer que a população também lhe coloca limites, como aconteceu com a reeleição”.

Ele se refere ao episódio de março de 2017, quando Cartes tentou aprovar, apenas com seus parlamentares, uma emenda constitucional que permitiria a ele se candidatar à reeleição. O resultado foi que manifestantes queimaram parte do Congresso, num protesto violento que deixou um morto. “Seu poder é grande, mas vem do dinheiro, de comprar todo mundo com o que ganha com seus negócios ilícitos, como o contrabando de cigarros. A Cartes interessa ter Abdo Benítez frágil no cargo, porque pode manipulá-lo. E Abdo Benítez tem, com isso, impunidade”, afirma Alegre.

O empresário e ex-presidente é dono de uma das principais fábricas de cigarro da região e enfrenta acusações de exportar, também de modo ilegal, pela porosa fronteira com o Brasil. Alegre ainda acrescenta que a crise paraguaia poderia ser resolvida pelo Brasil, se houvesse vontade política. “Para Bolsonaro, é um grande negócio ter um entendimento com Abdo Benítez, que é submisso em relação ao uso da hidrelétrica de Itaipu. O atual acordo dá muitas vantagens ao Brasil. Um outro presidente poderia mudar isso. Então claro que Bolsonaro deve adorar Abdo Benítez.”

Na noite desta segunda (8), quando manifestantes começaram a chegar às redondezas do Congresso, na capital paraguaia, encontraram as quadras nas imediações do local cercadas. Policiais impediram que as pessoas se aproximassem do edifício. Houve um encontro entre carreatas: os grupos que gritavam pela renúncia de Abdo Benítez cruzaram com a marcha das mulheres, que carregavam bandeiras pedindo a liberação do aborto e o fim da violência de gênero. O som de buzinas ecoou por todo o centro da cidade.

As mulheres também carregavam cartazes pedindo a saída do presidente. “Marito, basura, vos sos la dictadura” (Marito, lixo, você é a ditadura) era um dos gritos de guerra. Mais tarde, os manifestantes avançaram em direção ao Congresso e obrigaram os policiais a retrocederem com as cercas. Os participantes do protesto atiraram pedras, gerando uma resposta das forças de segurança com alguns tiros de bala de borracha.

Por volta das 21h, muitas pessoas estavam em torno do edifício, subindo nos postes e sacudindo bandeiras do Paraguai. Os gritos começaram a aumentar de tom: “Vamos entrar, vamos entrar”. Outro grupo grande de manifestantes se reuniu diante da casa do ex-presidente Horacio Cartes, chamando-o de “corrupto” e pedindo que ele “saia do Paraguai”, pois já tinha “roubado muito”. Na residência, numa área nobre da cidade, havia um grande contingente de policiais, como na noite anterior, um ao lado do outro e com escudos. Até 22h, não tinha havido confrontos.

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