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Invasão do Capitólio nos EUA: morte, depredação e multidão descontrolada

Apoiadores de Donald Trump – alguns armados e fantasiados – invadiram o Congresso destruindo equipamentos e móveis para paralisar sessão que contava os votos do Colégio Eleitoral para certificar a vitória de Joe Biden na eleição presidencial.

Em um dos dias mais tensos da História recente dos Estados Unidos, apoiadores de Donald Trump invadiram o Congresso e provocaram a paralisação da sessão realizada para contar os votos do Colégio Eleitoral e certificar a vitória de Joe Biden na eleição presidencial de novembro, a última etapa formal do processo eleitoral antes da posse do democrata, em 20 de janeiro. As informações são do jornal O Globo.

Os manifestantes  — alguns fantasiados e outros portando armas  — ocuparam o plenário das duas Casas, destruíram equipamentos e móveis e obrigaram os congressistas e o vice-presidente, Mike Pence, que presidia a sessão como presidente do Senado, a se esconderem em suas salas sob a proteção dos agentes de segurança. A área usada pela imprensa também foi invadida. Uma mulher foi baleada e morreu, sem que saiba a origem do tiro. A prefeitura de Washington declarou toque de recolher à noite.

Antes de as primeiras bombas de gás serem detonadas dentro e fora do prédio, Trump, que se recusa a reconhecer sua derrota e fracassou em todas as tentativas jurídicas de contestar o resultado, havia sido alvo de declarações duras de Pence e do líder republicano no Senado, Mitch McConnell, que o apoiaram ao longo do seu mandato. Além disso, o republicano assistiu nesta quarta-feira à derrota inédita dos dois candidatos republicanos na disputa pelas cadeiras do estado da Geórgia no Senado, que agora passará ao controle dos democratas.

Cerca de duas horas depois da invasão, que foi insuflada por Trump quando ele discursou mais cedo em uma manifestação de seus apoiadores, o presidente divulgou um vídeo em que pedia que os invasores “fossem para casa”, mas apoiava os manifestantes e insistia nas falsas alegações de que a vitória lhe foi roubada. Minutos antes do vídeo, Biden falou em rede nacional de TV, denunciando um “ataque sem precedentes” à democracia americana e exigindo que o republicano se pronunciasse “para pedir o fim deste cerco ao Capitólio”.

Os invasores acabaram sendo retirados do prédio depois de mais de três horas, com a chegada de reforços policiais da Guarda Nacional e da polícia do estado da Virgínia  — antes, surgiram informações desencontradas sobre uma recusa do Departamento de Defesa a autorizar o envio da Guarda, formada por reservistas. Os congressistas anunciaram então que retomarão os trabalhos ainda hoje.

No início da sessão conjunta do Congresso, o vice-presidente Pence, que presidia a plenária em uma função cerimonial, divulgou uma carta em que rejeitava a pressão de Trump para que alterasse os resultados do Colégio Eleitoral, o que seria ilegal.

“Os fundadores de nosso país eram profundamente céticos quanto à concentrações de poder e criaram uma república baseada na separação de poderes (…). Atribuir ao vice-presidente autoridade unilateral para decidir as disputas presidenciais seria totalmente contrário a esse projeto”, afirmou o vice-presidente.

Já McConnell fez um discurso veemente a favor da oficialização da vitória de Biden, dizendo que, se os republicanos a rejeitassem, iriam causar danos irreversíveis à democracia americana.

“Este será o voto mais importante que já dei”, disse McConnell. “Não podemos simplesmente nos declarar um conselho eleitoral nacional anabolizado. Os eleitores, os tribunais e os estados todos se manifestaram. Todos se manifestaram. Se rejeitarmos isso, prejudicaremos nossa república para sempre”.

A invasão aconteceu uma hora e quinze minutos depois do início da sessão do Congresso, às 15h no Brasil (13h em Washington), na qual um grupo de senadores pró-Trump, liderados pelo texano Ted Cruz, começou a apresentar objeções aos resultados de alguns estados onde Biden venceu, começando pelo Arizona. O processo prometia ser longo, pois, quando há um questionamento, a certificação é interrompida por duas horas, e os congressistas debatem caso a caso, com votações separadas depois na Câmara e no Senado.

A chance de que as objeções fossem aceitas, porém, eram nulas, já que a Câmara tem maioria democrata e muitos senadores republicanos reconheceram a vitória de Biden.

Do lado de fora do prédio, milhares de manifestantes pró-Trump ecoavam a falsa alegação do presidente de que a eleição foi fraudada, e tentavam pressionar os congressistas para que adotassem uma saída favorável ao republicano.

Desde o começo do dia o clima era tenso, e no meio da tarde ocorreu a invasão do prédio do Congresso. A sessão foi suspensa, e Pence levado para um local seguro.

“Isso foi o que vocês conseguiram, caras!”, disse o senador Mitt Romney ao deixar o plenário, aparentemente se dirigindo aos colegas republicanos que apoiaram a tentativa de Trump de derrubar os resultados do Colégio Eleitoral.

Alguns dos manifestantes que invadiram o prédio estavam armados, e chegaram a entrar nos plenários da Câmara e do Senado. Partes do prédio foram depredadas, e a polícia chegou a apontar armas para alguns dos invasores.

Parlamentares, funcionários do Congresso e jornalistas foram levados para locais seguros. Do lado de fora, partes do palco que será usado na posse de Biden, no dia 20 de janeiro, foram danificadas. Uma mulher que estava com os manifestantes foi baleada perto de uma porta que estava bloqueada na entrada do plenário da Câmara. Ela acabou morrendo no hospital. Há relatos de outras pessoas feridas.

Entre os invasores, muitos trajavam uniformes militares, cartazes da campanha do presidente à reeleição e fantasias. Bandeiras dos Confederados, associadas a grupos segregacionistas, também estavam nas mãos das dezenas de pessoas que entraram no prédio sem muita resistência policial.

Diante da situação, a prefeitura de Washington decretou um toque de recolher em toda a capital americana, entre 18h (20h de Brasília) e 6h desta quinta-feira (8h no Brasil). Apenas pessoas designadas pela prefeitura, incluindo jornalistas credenciados e trabalhadores de serviços essenciais, poderão circular nesses horários.

A secretária de Imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, afirmou no meio da tarde que, a pedido de Donald Trump, a Guarda Nacional estava a caminho do Congresso com “outros serviços federais de proteção”. Contudo, segundo o Washington Post, o Departamento de Defesa havia negado antes  um pedido da prefeitura de Washington para que a Guarda Nacional fosse empregada na defesa do prédio.

Hoje, o departamento é liderado pelo secretário interino Christopher Miller, um aliado de Trump que assumiu o cargo em novembro. Jornalistas e parlamentares que acompanharam a situação afirmaram ser evidente que a polícia precisava de reforços para lidar com os manifestantes, mas a ajuda da Guarda Nacional — que foi empregada nos protestos contra o racismo no ano passado — não chegou. Mais tarde, o Pentágono confirmou o envio das tropas.

Mais cedo, Trump fez três publicações no Twitter: uma atacando o vice (“Mike Pence não teve a coragem de fazer o que deveria ser feito e proteger nosso país e a Constituição”) . Em duas outras mensagens, pediu  que seus apoiadores agissem de forma pacífica e respeitassem as forças de segurança.

Em nenhum momento ele condenou a invasão do Congresso. Já o vice Mike Pence pediu que todos os protestos sejam interrompidos imediatamente, e afirmou que todos envolvidos na violência serão processados.

Mais cedo, em discurso, Donald Trump defendeu que seus apoiadores se concentrassem diante do Congresso para pressionar deputados e senadores para que atuassem em sua defesa, e prometeu que “estaria junto deles”, sem especificar se iria comparecer ao ato. Na véspera da votação, as autoridades de Washington reforçaram a segurança na cidade, e alertaram os moradores para que evitassem as concentrações de apoiadores de Trump.

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