Conecte-se conosco

Manaus

Manaus: Rio Negro sobe mais um centímetro e bate recorde histórico nesta terça-feira (01/06)

A cheia severa foi antecipada deste março, quando o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) fez uma previsão de que o Rio Negro ultrapassaria os 29 metros. A previsão, agora, é de que possa alcançar os 30,5 metros.

O Rio Negro, em Manaus, alcançou, na manhã desta terça-feira, a cota de 29,98 metros, ultrapassando em um centímetro a maior cheia registrada anteriormente, em 2012, de 29,97 metros e alcançando a maior cheia já registrada, segundo medição feita pelo Porto de Manaus.

A cheia severa foi antecipada deste março, quando o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) fez uma previsão de que o Rio Negro ultrapassaria os 29 metros. A previsão, agora, é de que possa alcançar os 30,5 metros. As causas foram as fortes chuvas nas cabeceiras do rio e variação climática nos oceanos. Das 11 maiores cheias enfrentadas pelo estado, sete ocorreram desde 2009. Os especialistas defendem que casas e até cidades que todos os anos são atingidas pelas cheias na região sejam retirados das áreas críticas e reconstruídos longe dos rios, pois o fenômeno está cada vez mais frequente.

“A gente tem uma base de dados no Porto de Manaus que vem desde 1902. A maior cheia da história tinha sido em 1953, que se perpetuou por muito tempo. Quando foi em 2009 ela foi superada. Acreditava-se que a cada 50 anos, a gente teria uma cheia daquela magnitude, só que em 2012, três anos depois, ela já foi superada de novo e a gente tem entre as 11 maiores cheias 2012, 2013, 2014, 2015. Com isso, a gente observa que os fenômenos estão mais frequentes e também mais intensos”, informou a pesquisadora do CPRM, Luna Gripp.

Para Gripp as fortes chuvas que caíram em toda a bacia do Rio Negro podem ter sido fundamentais para a cheia deste ano. Segundo ela, a água se acumulou na cabeceira do rio e agora está descendo rumo a Manaus, o que ocasionou um aumento no volume de água. “A área de influência sobre o Rio Negro é muito grande. Ele vem desde a Colômbia e ali toda a região norte do Amazonas, São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos, toda aquela região, ela vai drenando e acumulando água. O volume de chuvas que caiu em toda essa bacia é que vai nos dizer se vamos ter uma grande inundação ou não”, afirmou.

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Jochen Schongart contou que o órgão chegou a publicar um artigo científico em parceria com a Universidade de Leets, do Reino Unido, sobre as cheias no Amazonas. De acordo com ele, o fenômeno vem acontecendo devido às grandes variações climáticas. “No período de 1990 a 2015, o Atlântico estava aquecido, enquanto o Pacífico Equatorial estava em um esfriamento. Então, essa diferença na pressão atmosférica nos dois oceanos intensificou aquela circulação atmosférica, trazendo mais nuvens, mais chuva e, consequentemente aumento das cheias”, defendeu o cientista.

“Nós identificamos um componente ligado com as mudanças climáticas globais causadas pelo ser humano, principalmente em relação ao cinturão de ventos no hemisfério Sul que migrou para a Antártida. Tem pesquisas que indicam que tem a ver com o Buraco de Ozônio em cima da Antártida e com o aumento de gases do efeito estufa na atmosfera, e isso abriu uma porta para que águas quentes do Oceano Índico entrassem no atlântico aquecendo ele mais ainda”.

Segundo a Defesa Civil do Amazonas, mais de 400 mil pessoas já foram afetadas pelas cheias em todo o estado. Só em Manaus, o órgão municipal estima que 4 mil pessoas sejam impactadas diretamente. No interior, 25 municípios estão em situação de emergência e muitas famílias precisaram ser retiradas das suas casas, que foram completamente inundadas.