Economia
Relatório mostra que 1% mais rico do mundo detém 45% da riqueza global. E 3,7 bilhões de pobres só têm 2,4%
Apenas 3 mil bilionários possuem 14,6% do PIB mundial. Relatório da Oxfam defende taxas super-ricos para aliviar redução da pobreza.

Relatório divulgado na quarta-feira pela Oxfam mostra como a desigualdade global continua a crescer. De acordo com a entidade, entre 2015 e 2022 (último dado disponível), a fortuna do 1% mais rico da população mundial cresceu mais de US$ 33,9 trilhões. Esse montante, segundo a Oxfam, seria suficiente para eliminar a pobreza global anual 22 vezes.
O cálculo foi feito considerando que bastaria US$ 1,515 trilhão para acabar com a pobreza, com base na linha de pobreza estabelecida pelo Banco Mundial (de US$ 3 por dia em países pobres).
O relatório mostra ainda que o 1% mais rico — composto por 77 milhões de pessoas, incluindo bilionários, milionários e aqueles que ganham US$ 310 mil ou mais por ano — acumula cerca de 45% da riqueza global. Esta é estimada em US$ 556 trilhões em 2023. Ou seja, o 1% mais rico detém entre US$ 250 trilhões e US$ 278 trilhões.
De acordo com Carolina Gonçalves, coordenadora de Justiça Social e Econômica da Oxfam Brasil, o aumento da concentração de renda e a consequente desigualdade social no mundo ocorrem principalmente por dois fatores: a ausência de uma tributação progressiva e a visão de que iniciativas de desenvolvimento devem ser financiadas por meio de recursos privados, não públicos.
— Nós temos um sistema tributário, não só no Brasil, mas também no ambiente internacional e em outros países, que não favorece uma redistribuição da riqueza. Pelo contrário, favorece uma concentração absurda de renda na mão de poucos, que nós chamamos nesse estudo de oligarquia. Ou seja, temos uma dinâmica tributária regressiva, que mantém um abismo entre aqueles que já estão no topo da pirâmide econômica, que são muito poucos, e os que são muito pobres, que são muitíssimos — afirma Carolina.
3 mil bilionários têm 14,6% do PIB global
Para dar a dimensão do tamanho desse abismo, a Oxfam ressalta que os 3 mil bilionários existentes no mundo (conforme dados da Forbes) viram sua fortuna aumentar em US$ 6,5 trilhões desde 2015, e agora equivale a 14,6% do PIB global.
Enquanto isso, as 3,7 bilhões de pessoas que vivem na pobreza — quase metade da população mundial — detêm apenas 2,4% da riqueza global, ou seja, cerca de US$ 13,34 trilhões.
Na visão da pesquisadora da Oxfam, há ainda um conjunto de instrumentos de política econômica voltados para o desenvolvimento que favorecem a utilização do capital privado. Isso, afirma, colabora para manter a concentração da riqueza, com Estados que acabam contribuindo para o acúmulo de capital, enquanto faltam recursos para oferecer serviços básicos à população.
— Esses dois fatores promovem um cenário em que países em desenvolvimento acabam contraindo muitas dívidas que vão ser colocadas no mercado e se tornam títulos financeiros dos poucos que têm a renda. E isso faz com que você mantenha esses países em uma situação de pobreza, de endividamento, enquanto o percentual mais rico vai se beneficiar dessa estrutura. Então, nessa lógica que está atrelada à financiarização do financiamento para o desenvolvimento, há esses títulos de dívida pública servindo como um modo de extrair recursos dos Estados para o capital privado — diz Carolina.
Rolls-Royce personalizado: empresário indiano presenteia filha de um ano com carro de luxo cor-de-rosa em Dubai
Além disso, o relatório mostra que, entre 1995 e 2023, a riqueza privada do mundo aumentou em US$ 342 trilhões — oito vezes mais que a riqueza pública global (a riqueza líquida dos governos), que cresceu apenas US$ 44 trilhões.
Necessidade de taxar super-ricos
A análise cita, como possíveis caminhos para reduzir a desigualdade, pautar a taxação de grandes fortunas nos países e se voltar para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), plano global adotado pela ONU para erradicar a pobreza.
Embora os ODS tenham sido aprovados há dez anos, ainda estão longe de serem cumpridos — apenas 16% das metas estão no rumo certo para 2030, de acordo com o estudo.
— Essas metas dos ODS estão cada vez mais pressionadas por outro fenômeno que estamos vivendo, que é a emergência climática, que aumenta demandas sociais de investimento em saúde pública e em cidades sustentáveis adaptadas, por exemplo. Então, nossa compreensão é que esse financiamento precisa vir do aumento da arrecadação de recursos do Estado, com a progressividade fiscal como um de seus principais elementos, e não por uma financiarização que favorece a concentração e a desigualdade — conclui Carolina.
O documento lembra que os impostos recolhidos pelos bilionários representam apenas 0,3% de sua fortuna. E lembra a iniciativa do governo brasileiro no ano passado, quando estava na presidência do G20 e propôs um acordo global para a taxação dos super-ricos.
O relatório “Do Lucro Privado ao Poder Público: Financiando o Desenvolvimento, Não a Oligarquia” foi preparado para a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, em 30 de junho, em Sevilha, na Espanha.
Não deixe de curtir nossa página no Facebook, siga no Instagram e também no X.

Faça um comentário