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Economia

Mundo ‘está pronto’ para bioeconomia da Amazônia, diz economista norte-americano

O economista americano Jeffrey Sachs, um dos nomes mais respeitados em geopolítica e da nova economia global, deu entrevista ao Valor Econômico.

Economista norte-americano Jeffrey Sachs. (Foto:Reprodução)

“Penso que o mundo está pronto para se mobilizar para uma nova bioeconomia para a Amazônia. Acredito que o investimento e o financiamento social vão fluir para o Brasil.” A percepção otimista com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é do economista americano Jeffrey Sachs, um dos nomes mais respeitados entre os estudiosos da geopolítica e da nova economia global, em entrevista ao Valor Econômico.

“Há muito dinheiro disponível para clima, biodiversidade e floresta, se as políticas no Brasil forem bem concebidas”, diz ele, que acredita “que o Brasil alcançará uma classificação de crédito mais elevada sob o presidente Lula”. Sachs promete, inclusive, fazer lobby para o Brasil junto às agências de classificação de risco. Dirá que o país tem muitos pontos fortes como economia verde, energia sustentável, produção de alimentos, mineração e serviços, incluindo instituições científicas e universidades. “Tudo isto dá ao Brasil fortes perspectivas de crescimento.”

Professor e diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade Columbia, o economista diz que o Brasil, ao ocupar a presidência do G20 em 2024 e talvez sediar a COP30, em 2025, “poderá ajudar a reformar a arquitetura global, incluindo finanças e política externa, em prol do desenvolvimento sustentável”.

Os atos golpistas de 8 de janeiro foram “inquietantes”, mas “fortalecerão a democracia expondo os abusos de poder e a retórica de políticos demagogos”. Acredita que o Brasil, com Lula – “um grande pacificador” -, pode trabalhar com outros para “acabar com a guerra na Ucrânia através da diplomacia, e não da escalada militar”.

Em 2019, junto ao cientista Carlos Nobre, fundou o Painel Científico para a Amazônia. A iniciativa inédita reuniu 240 cientistas de oito países amazônicos e produziu o mais abrangente diagnóstico sobre a região. “Agora o painel irá trabalhar com os governos da região buscando identificar os melhores caminhos para o desenvolvimento sustentável da Amazônia incluindo o fim do desmatamento, a restauração de milhões de hectares de terras degradadas e a promoção da nova bioeconomia”.

Ex-assessor especial do secretário-geral da ONU, Sachs defende uma abordagem cooperativa na América do Sul. “Os EUA devem acabar com o boicote e sanções contra a Venezuela, para que a América Latina possa se reunir em torno do objetivo comum do desenvolvimento sustentável”, diz.

“A crise climática global continuará a se agravar nos próximos anos. Serão necessárias muito mais ações políticas, investimentos em energias verdes e financiamento climático”, alerta.

Sachs esteve no Brasil para a posse do presidente Lula, que conhece pessoalmente há anos. Durante 11 dias esteve em Brasília, Rio, Salvador e Belém. Em Brasília teve várias reuniões – uma delas com o ministro da Educação Camilo Santana. Para o economista, educar a todos deve ser uma prioridade central. “Esse é um dos pontos da incrível desigualdade que existe no Brasil”, disse, em evento em setembro, em Nova York. Logo ao retornar do Brasil, concedeu esta entrevista ao Valor, por escrito:

Valor: O que pensa sobre este momento no Brasil?

Jeffrey Sachs: Apesar do caos recente que aconteceu em Brasília, este é um momento de grande esperança. O presidente Lula fará um enorme benefício para o Brasil, como fez durante 2003-2010. Acredito que ele também dará grande contribuição global como um líder mundial para o desenvolvimento sustentável e presidente do G20 em 2024.

Valor: O senhor acha que a democracia brasileira está ameaçada? A invasão do Congresso, do Palácio do Planalto e do STF colocará em risco novos investimentos?

Sachs: Os acontecimentos foram inquietantes, claro. Ainda precisamos compreender seus antecedentes, e quaisquer possíveis ligações a “conselheiros” dos EUA também. A natureza do evento foi, obviamente, muito semelhante à que foi concebida por Donald Trump em 6 de janeiro de 2021. No entanto, penso que os eventos no Brasil fortalecerão a democracia aqui, expondo os abusos de poder e a retórica de políticos demagógicos. Acredito que o presidente Lula terá pulso firme e que os líderes políticos brasileiros, tanto federais como estaduais, atuarão para proteger as instituições da democracia brasileira. Apesar do caos que aconteceu em Brasília no dia 8 de janeiro, este é um momento de grande esperança”

Valor: Como foi seu encontro em Brasília com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad?

Sachs: Foi muito inspirador, assim como a reunião com o ministro da Educação Camilo Santana. Ficou claro para mim que o objetivo deles é seguir uma agenda ousada para o Brasil, que subscrevo inteiramente. Encontrei também com diretores do BNDES e de várias universidades, servidores públicos e líderes da sociedade civil.

Valor: A ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva, terá muitos desafios que estão apenas começando. Qual a sua visão sobre o momento ambiental que o Brasil vive?

Sachs: Acho que o mundo está pronto para se mobilizar para uma nova bioeconomia para a Amazônia. Acredito que o investimento e o financiamento social vão fluir para o Brasil. O presidente Lula tem sido muito claro: o desmatamento tem de parar, e o desenvolvimento verdadeiramente sustentável tem que começar. A ministra Marina Silva é conhecida no mundo todo e muito respeitada como liderança ambiental. Ao longo da nossa viagem no Rio, na Bahia, e no Pará, ouvimos muitos falarem da confiança que depositam nela.

Valor: O senhor é fundador do Painel Científico sobre a Amazônia, que lançou um importante relatório sobre a região com muitos cientistas. Como o painel vai avançar?

Sachs: O painel reúne mais de 200 cientistas de renome, de oito países amazônicos. Em um curto período estes pesquisadores estudaram a história, produziram um diagnóstico e uma visão abrangente da Amazônia. Agora o painel científico vai trabalhar com os governos da região buscando identificar os melhores caminhos para o desenvolvimento sustentável da Amazônia incluindo o fim do desmatamento, a restauração de milhões de hectares de terras degradadas e a promoção da nova bioeconomia.

Valor: O desafio na Amazônia é dar valor à floresta e oportunidades para as pessoas que vivem na região. O senhor tem ideias concretas sobre o que fazer?

Sachs: O mais importante é que as pessoas na Amazônia têm muitas ideias excelentes. Na floresta existem muitos produtos de alto valor que poderiam gerar mais renda às comunidades e populações locais. Há muitas oportunidades para melhorar a saúde pública, a educação e a infraestrutura. Ainda, há múltiplas formas de promover os produtos da Amazônia para se obter maior valor nos mercados mundiais. Uma das coisas impressionantes que notamos nestes dias no Brasil foi o grau de envolvimento da sociedade civil, dos povos indígenas e dos cientistas, além dos funcionários públicos e de empresários.

Veja neste link a entrevista na íntegra: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/01/24/mundo-esta-pronto-para-bioeconomia-da-amazonia-diz-sachs.ghtml

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