Brasil
Uso de inteligência artificial para aplicar golpes cresce nas redes, aponta pesquisa
Relatório analisou 142 golpes divulgados pelas redes sociais e encontrou padrões e estratégias usados para convencer vítimas e coletar dados.

A inteligência artificial (IA) passou a ser cada vez mais adotada por criminosos virtuais para induzir usuários das redes sociais a caírem em golpes diversos, segundo aponta um relatório da Agência Lupa, que atua no combate à desinformação. Uma das principais estratégias é o uso de deepfakes de políticos, empresários e jornalistas. O relatório analisou 142 golpes virtuais aplicados nas redes sociais nos últimos três anos. Desses, 31 contavam com recursos de IA.
Apesar de não representarem a maior parte, eles vêm crescendo, aponta a agência. Em 2023, foram apenas três casos. No ano passado, as ocorrências saltaram para dez, enquanto entre janeiro e maio de 2025 foram encontrados 18 golpes pelos pesquisadores.
— O padrão que notamos é o uso de personalidades, como jornalistas de TV, artistas e políticos, inclusive o presidente Lula e Bolsonaro. Eles são colocados em peças de deepfake como uma estratégia de aumentar a credibilidade do conteúdo — diz a pesquisadora Beatriz Farrugia.
Jornada complexa
O relatório destaca que os golpes funcionam como uma jornada complexa. A partir dos vídeos e áudios falsos, as vítimas são convocadas a acessarem sites igualmente falsos, nos quais acabam por preencher formulários e fornecerem dados pessoais. A prática, conhecida como phishing, abastece os criminosos de informações, como nomes completos, números de documentos, senhas e dados bancários, que são usadas de forma ilegal.
— São jornadas muito fidedignas às de empresas ou do próprio governo. Alguns reproduzem sites de marcas ou do Gov.br, alguns até com chatbots. Da identidade visual à tipologia e ao tom da marca, é tudo muito bem reproduzido. É um alto nível de sofisticação. Não é algo grotesco — comenta a pesquisadora. — O interesse não é descolar o dinheiro imediatamente, mas a coleta de dados.
Um dos golpes analisados pelos pesquisadores usava um deepfake do apresentador do Jornal Nacional William Bonner para divulgar uma falsa promoção de cervejas. O vídeo estava inserido em um site que simulava o portal de notícias g1. Nele, um link levava para um segundo endereço que, por sua vez, imitava o site da Ambev. A promessa era de que ao preencher um formulário, a vítima receberia um suposto kit de cervejas.
Outro golpe usava deepfakes de políticos como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, além do ex-presidente Michel Temer. O rosto do empresário Luciano Hang, dono da Havan, também era usado pelos criminosos. Os vídeos falsos prometiam às vítimas o saque de “dinheiro acumulado no CPF”.
“Sim, gente, é verdade, agora você consegue sacar o valor acumulado de todas as compras que você já fez em seu CPF, mas preste atenção para não passar a data do saque, senão, todo o dinheiro volta para os cofres públicos”, diz o deepfake do presidente Lula no vídeo manipulado por inteligência artificial.
As vítimas eram levadas até um site que simulava o Gov.br, o portal do governo federal que unifica acesso a diferentes serviços públicos. Uma tela de login na página falsa indica que o objetivo dos criminosos virtuais era coletar o acesso dos usuários do portal, como o número do CPF e a senha, destaca o relatório.
Principais tipos
Segundo a Lupa, entre os golpes aplicados no Brasil , predominam temas ligados a promessas de promoções, descontos e brindes em lojas famosas. Em seguida, vêm os golpes que usam o nome de programas sociais, como o Desenrola Brasil, para enganar. No terceiro lugar, ficam os golpes financeiros.
“Cerca de 77,5% dos golpes analisados pela Lupa desde o ano de 202 mencionavam o nome de uma empresa ou de uma pessoa famosa para enganar. E essa tendência cresceu ainda mais em 2025, cerca de 90% dos golpes desse tipo usavam esse artifício para convencer as vítimas”, destaca o relatório.
— Qual o nível do golpista que tem como investir nos anúncios (nas redes sociais), pagar uma conta de Whatsapp verificada e colocar um site no ar? — questiona a pesquisadora, que acrescenta. — Investigações estão descobrindo um crime organizado por trás. Claro que existem os golpistas individuais, mas tem se destacado o envolvimento de organizações criminosas atuando nesses tipos de fraudes.
O documento da Agência Lupa cita um relatório divulgado pela Interpol em 2024 que aponta para indícios crescentes da participação de organizações criminosas latino americanas, como os brasileiros Comando Vermelho (CV), o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o mexicano Cartel Jalisco Nueva Generación (CJNV).
“As mudanças na tecnologia e o rápido aumento na escala e no volume do crime organizado impulsionaram a criação de uma série de novas formas de fraudar pessoas inocentes, empresas e até governos. Com o desenvolvimento da IA e das criptomoedas, a situação só vai piorar sem uma ação urgente”, disse, em nota, o então secretário-geral da Interpol, Jürgen Stock.
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