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Brasil

Queda na confiança em militares é mais aguda entre bolsonaristas e nas regiões Norte e Centro-Oeste, aponta pesquisa

Levantamento mostra que Forças Armadas tiveram imagem arranhada e hoje 64% declaram desconfiar dos militares.

A confiança dos brasileiros nas Forças Armadas recuou desde o fim do ano passado, mostra novo recorte da pesquisa mais recente da série Genial/Quaest. No Norte e no Centro-Oeste, regiões onde o ex-presidente teve mais votos que Lula no segundo turno, esse percentual foi de 46% para 32% no período.

O levantamento indica que, entre dezembro e agosto, passou de 43% para 33% o percentual dos que dizem “confiar muito” nos militares. Já a soma dos que declaram “confiar pouco” ou “não confiar” na instituição subiu de 54% para 64% no período.

A constatação de que os militares perderam parte do prestígio que detêm entre os bolsonaristas é reforçada na análise de outros segmentos alinhados com o ex-presidente. Entre os evangélicos, por exemplo, grupo que majoritariamente apoiou a tentativa de reeleição de Bolsonaro, a taxa dos que “confiam muito” nas Forças Armadas caiu de 53% para 37% em oito meses.

As Forças Armadas são a única instituição que viu sua avaliação junto à opinião pública ter variação significativa, além da margem de erro estimada para o estudo (de 2,2 pontos percentuais), desde o levantamento anterior.

Também foram mensurados os níveis de confiança dos brasileiros na Polícia Militar, nas igrejas evangélicas e católicas, no Supremo Tribunal Federal (STF), no Congresso Nacional e nos partidos políticos.

O abalo na imagem dos militares ocorre após tramas golpistas terem se aproximado dos quartéis desde o segundo turno das eleições, quando o Ministério da Defesa, pasta à qual Exército, Marinha e Aeronáutica estão subordinados, divulgou relatório no qual diz não ter identificado nenhuma evidência de fraudes nas urnas eletrônicas, mas ainda assim enfatizou que “não descartava” essa hipótese.

A queda na crença dos brasileiros nos militares se deu em praticamente todos os segmentos da população, mas foi mais acentuada entre os que votaram no ex-presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições do ano passado. Nesse grupo, caiu de 61% para 40% a taxa dos que afirmam “confiar muito” nas Forças Armadas. O percentual dos que dizem “não confiar” na instituição subiu de 7% para 20% desde dezembro, enquanto os que declaram “confiar pouco” passaram de 31% para 38%.

Parte dos apoiadores de Bolsonaro, um ex-militar, acampou em frente a quartéis do Exército após a derrota do ex-presidente na eleição de outubro, na esperança de mobilizar os militares para uma ação que revertesse o resultado do pleito.

A ação culminou na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, ocorrida em 8 de janeiro. Após o episódio, o ministro da Defesa, José Múcio, demitiu o comandante do Exército, general Júlio César Arruda, e promoveu em seu lugar o general Tomás Paiva.

Para Felipe Nunes, diretor da Quaest, a mudança na avaliação de bolsonaristas em relação aos militares sugere “algum tipo de frustração, de alguma expectativa que havia entre essas pessoas”.

“Não parece ser uma mera coincidência que uma das instituições mais sólidas e respeitadas do país venha sofrendo esse desgaste de imagem. Foram muitos escândalos envolvendo gente da mais alta patente na corporação. É como se o pós-governo Bolsonaro tivesse dragado o Exército para uma crise sem precedentes”, disse.

Nunes cita ainda que as Forças Armadas podem herdar desconfiança de uma parcela da população por conta das desventuras do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. Preso desde maio por suposta fraude no cartão de vacinação do ex-presidente, Cid também é investigado por suspeita de ter atuado na compra e venda ilegal de presentes oficiais dados a Bolsonaro no exterior.

A pesquisa foi feita de 10 a 14 de agosto a partir de 2.029 entrevistas realizadas presencialmente, em 120 municípios, com brasileiros de 16 anos ou mais. A margem de erro é estimada em 2,2 pontos percentuais para mais ou menos, para um nível de confiança de 95%.

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