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Brasil

Publicação da Embrapa defende tecnologia que substitui o fogo para fins agrícolas

Roça Sem Fogo possibilita prática sem queima na Amazônia e diminui, assim, riscos de incêndios florestais

A fire burns along the road to Jacunda National Forest, near the city of Porto Velho in the Vila Nova Samuel region which is part of Brazil’s Amazon, Monday, Aug. 26, 2019. The Group of Seven nations on Monday pledged tens of millions of dollars to help Amazon countries fight raging wildfires, even as Brazilian President Jair Bolsonaro accused rich countries of treating the region like a “colony.” (AP Photo/Eraldo Peres)

A tecnologia da Roça Sem Fogo, que possibilita a prática da agricultura sem queima na Amazônia, é detalhada em publicação recém-lançada pela Embrapa Amazônia Oriental. O livro reúne artigos sobre o processo tecnológico que substitui o fogo para fins agrícolas e, assim, diminui o risco de incêndios florestais. O conteúdo pode ser acessado gratuitamente no Portal da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

“Reproduzida sem a escala e os cuidados dos indígenas que dominavam o seu uso, a queimada se tornou um problema ambiental, inclusive uma das causas do aquecimento global”, afirma o engenheiro-agrônomo Raimundo Nonato Brabo Alves, pesquisador da Embrapa, editor técnico e um dos seis autores da coletânea.

O pesquisador conta que o vácuo tecnológico entre a agricultura moderna e a agricultura de derruba (corte) e queima na Amazônia trouxe um grande desafio à comunidade científica e aos produtores: encontrar um modo sustentável de substituir as queimadas.

Uma das alternativas às queimadas desenvolvida com sucesso por pesquisadores da Embrapa em estreita parceria com os produtores é a Roça sem Fogo, que dispensa o uso de máquinas agrícolas. De fácil adoção, aplicável a culturas anuais e perenes, esse método de preparo de área registra diversos ganhos nas esferas social, econômica e ambiental quando comparado a práticas que se utilizam do fogo em alguma etapa do processo de cultivo.

A relação custo-benefício positiva que resulta da adoção da Roça sem Fogo foi testada e validada por meio de experimentos científicos instalados e acompanhados nos municípios paraenses de Moju (onde a tecnologia foi gerada), Acará, Abaetetuba, Baião, Cametá, Vigia, Mãe do Rio, Tomé-açu, Ourém e Irituia.

Segundo a Embrapa, o conjunto de benefícios da Roça sem Fogo permite o aumento da produtividade das culturas e torna viável que uma mesma área seja cultivada por mais tempo. “No sistema tradicional, o constante uso do fogo, em médio prazo, diminui a fertilidade do solo a níveis críticos, situação que compromete a capacidade produtiva da terra e custa caro ao pequeno produtor rural, pois será preciso providenciar a correção imediata do solo”, explana o engenheiro-agrônomo Moisés Modesto, analista da Embrapa, também editor técnico e coautor da coletânea.

De acordo com Modesto, Roça sem Fogo é uma tecnologia que favorece especialmente os agricultores familiares, pois dispensa o uso de máquinas agrícolas e pode ser aplicada apenas com ferramentas manuais, como a foice, o machado, o facão e a motosserra.

Os autores do livro destacam outras vantagens, como a manutenção da fertilidade do solo (possível porque a matéria orgânica é mantida na terra por meio de cultivos em diversos arranjos espaciais, inclusive com a introdução de plantas acumuladoras de biomassa); a possibilidade de aproveitamento do material lenhoso para a produção de energia; e a menor ocorrência de plantas daninhas em comparação ao sistema de derruba e queima.

Moisés Modesto adverte que, por si só, a existência de um processo tecnológico como o Roça sem Fogo, já validado, com custo-benefício positivo, não basta para quebrar o paradigma do fogo na agricultura.

Os autores têm a expectativa de que o livro desperte a atenção do poder público para que a tecnologia da Roça sem Fogo possa se transformar em incentivo à agricultura sem queima na Amazônia. “É uma prática de desenvolvimento sustentável, uma tecnologia ambientalmente ajustada, economicamente viável e socialmente justa. Precisamos que chegue amplamente ao campo, como um marco de mudança de paradigma de uso da terra na Amazônia, incentivada por políticas públicas e mecanismos que facilitem sua difusão e a capacitação intensiva de estudantes, técnicos e agricultores”, finaliza Moisés.

Outros quatro engenheiros-agrônomos são coautores do livro: Alfredo Kingo Oyama Homma, Antônio José Elias Amorim de Menezes, José Edmar Urano de Carvalho e Otávio Manoel Nunes Lopes.

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