Conecte-se conosco

Brasil

PISA 2022: avaliação internacional diz que pandemia fez educação brasileira piorar ainda mais

Na edição de 2022, os jovens brasileiros apresentaram desempenho ligeiramente pior em todas as notas, em relação à edição de 2018.

O Brasil registrou piora nos indicadores e voltou a figurar mal no Pisa, o Programa de Avaliação Internacional de Estudantes, na sigla em inglês. O teste, mantido pela OCDE, a organização que reúne as nações mais desenvolvidas do mundo, é o principal parâmetro internacional de qualidade da educação e avalia as habilidades dos alunos de 15 anos nas áreas de matemática, leitura e ciências.

Na edição de 2022, os jovens brasileiros apresentaram desempenho ligeiramente pior em todas as notas, em relação à edição de 2018:

Em matemática, a nota foi de 384 para 379
Em leitura, ela caiu de 413 para 410
Em ciências, oscilou de 404 para 403

A performance está na rabeira da registrada pelos 81 países que participaram da rodada de avaliação e bastante distante da média, que é considerada uma espécie de nota de corte para se atingir a excelência nos níveis de ensino: 472 em matemática, 476 em leitura e 485 em ciências.

Mais preocupante ainda é o desempenho dos estudantes brasileiros quando separado por nível de conhecimento. Quatro em cada dez alunos está abaixo do nível 2 em todas as áreas de conhecimento. Em matemática, por exemplo, isso significa que 7 em cada 10 estudantes não são capazes de converter preços em uma moeda diferente. Somente 2,6% do total atingiram níveis 5 e 6 em algum dos quesitos testados.

Em termos de comparação, mais de 42,5% dos estudantes de Singapura, que lidera o ranking, tiveram um desempenho neste nível – ou superior – em matemática.

“É um ciclo vicioso”, aponta a presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz. “Os poucos alunos que aprendem matemática são muito disputados no mercado de trabalho que está hiperaquecido para as áreas de exatas. Quase ninguém quer se tornar professor e ensinar a matéria”, diz.

Como se trata de uma área do conhecimento que depende basicamente da capacidade do aluno de compreender e assimilar o conteúdo, sem a subjetividade das matérias de humanas, os resultados colhidos no exame de matemática são considerado pelos especialistas como os principais indicadores para se avaliar a eficiência dos sistemas de ensino mundo afora.

Nesse sentido, o Brasil inspira cuidados, já que desde 2012, ano em que o país apresentou seu melhor resultado, a quantidade de alunos que não atinge o nível 2 aumentou 5%. Apesar da piora, a OCDE classifica a situação brasileira como sendo de estagnação.

Covid-19 e o fechamento das escolas

A atual edição do PISA serviu para medir o impacto da pandemia de Covid-19 que afetou profundamente o ensino em todo mundo. O próprio teste foi adiado em função da desorganização que a política de isolamento social trouxe para os sistemas educacionais.

O relatório destaca que todos os países apresentaram uma queda sem precedentes nos resultados: “Em comparação com 2018, o desempenho médio caiu dez pontos em leitura e quase 15 pontos em matemática, o que equivale a três quartos do valor de um ano de aprendizagem”, disse a entidade.

O relatório aponta que os países que obtiveram melhores resultados, como Austrália, Japão, Coreia do Sul, Singapura e Suíça fizeram fechamentos de escolas mais curtos, facilitaram o acesso ao aprendizado remoto e souberam dar continuidade aos estudos com apoio dos professores e pais

O Brasil está entre os países que mais mantiveram as escolas fechadas, ao lado de Jamaica e Irlanda. Somente 26% dos estudantes brasileiros responderam que suas escolas baixaram as portas por menos de três meses. Apesar do período prolongado, a queda do desempenho não foi substancialmente alta. “Esperávamos um resultado bem pior, sinal de que o trabalho da sociedade civil organizada para manter a mínima qualidade do ensino durante a pandemia surtiu efeito”, diz Priscila Cruz.

A OCDE reconhece que nem toda piora pode ser colocada na conta do coronavírus. A entidade já vinha registrando enfraquecimento das nações mais ricas desde 2017 e pontua que não há uma correlação direta entre o tempo em que as escolas ficaram fechadas e a perda de rendimento.

Brasil sobe no ranking apesar de piora

Mais uma vez, os países asiáticos se destacam no ranking. Singapura obteve o melhor desempenho sendo seguido por territórios administrados pela China – como Macau, Taipé e Hong Kong -, japão e Coréia do Sul. A primeira nação europeia da lista é a Estônia, em sétimo lugar. Entre os vinte primeiros colocados, apenas o Canadá pertence ao continente americano.

O Brasil figura na posição de número 65 em matemática, 52 em leitura e 62 em ciência, no total de 81 países, ficando atras de diversas nações latino-americanas, como Chile, México, Peru e Colômbia. Figura uma posição adiante da Argentina.

Apesar da piora na comparação com o próprio desempenho, o Brasil subiu no ranking, já que alguns países que não aplicaram o PISA em 2018, passaram a integrar o teste esse ano, como Paraguai, Uzbequistão e Palestina. Outros, como Jordânia e Albânia pioraram consideravelmente de desempenho.

Mudar essa posição passa por atacar questões que sempre foram negligenciadas pelos governos brasileiros. “Tem muita coisa acontecendo na educação brasileira, mas tá faltando disposição para enfrentar o que realmente é difícil. É preciso aprimorar a formação e os salários dos professores para tornar a profissão atraente, melhorar as condições de trabalho e tornar a gestão escolar mais eficiente. Isso nunca foi feito e esse será o divisor de águas da educação”, defende Priscila Cruz.