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PGR arquiva denúncia contra senador do Amazonas que disse querer enforcar Marina Silva

Segundo procurador Paulo Gonet, conduta de parlamentar não foi praticada por ela ser mulher ou estar em situação de violência doméstica

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A Procuradoria-Geral da República (PGR) decidiu arquivar uma denúncia contra o senador Plínio Valério (PSDB-AM) por ele ter afirmado que teve vontade de enforcar a ministra Marina Silva (Meio Ambiente). A frase foi dita pelo parlamentar em um evento, em março, dias após a participação da ministra na CPI das ONGs, no Senado. As informações são da coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo.

“Imagine o que é tolerar Marina 6 horas e dez minutos sem enforcá-la”, afirmou Plínio.

Em sua decisão pelo arquivamento, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, argumenta que as declarações do senador, “embora revestidas de aparente cunho ameaçador”, foram proferidas após a sessão e em local diverso da CPI, o que, portanto, não caracteriza crime de constrangimento ilegal. “A ministra Marina não foi obrigada a manter nenhum comportamento indesejado ou contrário à sua vontade.”

Diz também que para iniciar uma investigação sobre um possível crime de ameaça, a própria chefe da pasta do Meio Ambiente deveria ter apresentado uma representação, o que não ocorreu —a denúncia do caso à PGR foi feita pela deputada federal Luciene Cavalcanti (PSOL-SP).

Afirma ainda que não seria possível enquadrar o caso em ação penal pública incondicionada (que não precisa de uma denúncia da vítima), uma vez que a conduta de Plínio “não foi praticada por razões da condição do sexo feminino ou em situação de violência doméstica ou familiar.”

Em sua representação, a deputada Luciene afirmava que as frases do senador configuravam “um ato de violência política de gênero, uma vez que subvertem a dignidade e a integridade da ministra Marina Silva.”

“Tais afirmações não apenas desrespeitam sua posição como autoridade pública, mas também incitam um clima de intimidação e violência contra mulheres que atuam na política, perpetuando a cultura da misoginia”, complementava ela.

Marina Silva rebateu os comentários de Plínio. “Com a vida dos outros não se brinca. Quem brinca com a vida dos outros ou faz ameaça aos outros de brincadeira e rindo, só os psicopatas são capazes de fazer isso”, disse ela no programa Bom dia, Ministra, do governo federal.

Marina afirmou que a fala do parlamentar é uma forma de incitar a violência contra a mulher, e que mesmo em posições de poder e visibilidade como a dela, as mulheres ainda estão sujeitas a ataques.

Em sessão plenária, o senador Plínio Vieira pediu a palavra para rebater as críticas que recebeu por suas declarações. Ele afirmou não ter se arrependido e alegou que a frase foi uma brincadeira.

“Um ano se passou [desde a sessão na CPI] e fui receber uma medalha. Em tom de brincadeira, eu disse: imagine vocês o que é ficar com a marina seis horas e 10 minutos sem ter vontade de enforcá-la”, afirmou Valério. “Todo mundo riu, foi brincadeira. Se você perguntar: você faria de novo? Não. Mas se arrepende? Não. Foi uma brincadeira.”

O senador disse ainda que Marina foi tratada com respeito e paciência durante toda a CPI. “Por ser mulher, por ser ministra, por ser negra, por ser frágil, foi tratada com toda delicadeza”, disse.

Procurado anteriormente pela coluna, o parlamentar disse, em nota, “para minha surpresa, esse incidente ganhou dimensão, ao ser discutido inclusive no plenário do Senado Federal, creio eu que a partir de uma disputa eleitoral regional. Passei a ser chamado até de misógino e machista. Minha vida pessoal e minha trajetória política desmentem esses adjetivos”.


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