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Brasil

Pesquisas erram projeções e divergem dos resultados das urnas até nas margens de erros

Os institutos erraram as projeções e divergiram especialmente em relação aos percentuais de voto de Bolsonaro e Ciro Gomes.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu 48,43% dos votos válidos neste domingo (2), contra 43,20% do presidente Jair Bolsonaro (PL), com 99,99% das urnas apuradas. Os números das urnas contrastam com as pesquisas eleitorais divulgadas na véspera.

“Os institutos vão ter que ir pro divã porque parece que não estão conseguindo captar esse movimento da direita, principalmente no Sudeste”, avalia o cientista político Renato Dolci ao comentar essa diferença.

Confira abaixo os resultados das principais pesquisas para a Presidência na semana que antecedeu as eleições:


Presidencial (Lula x Bolsonaro)

No sábado (1º), um dia antes do primeiro turno, Lula tinha 50% das intenções de votos válidos, enquanto Bolsonaro aparecia com 36%, segundo pesquisa Datafolha. No mesmo dia, pesquisa Globo/Ipec mostrou o petista com 51%, e o presidente, com 37%. Ambos os levantamentos tinham margem de erro de dois pontos percentuais.

A pesquisa Ipespe divulgada no sábado trazia Lula com 49%, e Bolsonaro, com 35%. A Genial/Quaest da mesma data indicava, respectivamente, 49% e 38%. O primeiro levantamento tinha margem de erro de três pontos percentuais; o segundo, de dois pontos.

Os institutos erraram as projeções mesmo considerando a margem de erro, especialmente em relação aos votos para Bolsonaro.

A cientista política Nara Pavão, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), diz que o contraste pode ser explicado pelo “voto útil”, conceito que explica a situação em que o eleitor vota de forma estratégica em um candidato que não necessariamente é a sua primeira opção.

Segundo ela, as pesquisas divergiram especialmente em relação aos percentuais de voto de Bolsonaro e Ciro. Ao contrário do atual chefe do Executivo, o pedetista recebeu menos votos do que as projeções apontavam.

“Uma coisa que chama atenção de todos é a desidratação de Ciro. É possível que essa transferência de voto que estava prevista para ocorrer no segundo turno já tenha ocorrido no primeiro turno”, diz.

A cientista política afirma que houve um realinhamento ao voto útil nos momentos que antecederam as eleições. “As pessoas migraram mais rápido para o Bolsonaro para sinalizar uma força maior. Quando saem essas pesquisas que apontam a possibilidade de vitória de Lula em primeiro turno, isso acirra a campanha e antecipa a lógica do segundo turno”, aponta.

O cientista político Renato Dolci sugere que a divergência pode ter ocorrido por fatores de metodologia. Ele diz que as bases de dados dos institutos são diferentes para a faixa entre dois a cinco salários mínimos, o que impacta nas projeções.

“Existe um peso maior na proporcionalidade dessa faixa, o que tende a gerar mais votos para Lula porque ele agrega mais esse perfil de eleitorado”, explica.

Dolci cita que o fato do Censo, realizado a cada dez anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não ter ocorrido em 2020 também dificulta as métricas atualizadas pelas projeções. “Podemos estar considerando mais gente do que de fato temos em uma faixa de renda menor, mais alinhada com a esquerda”, diz o cientista político.

Além disso, o alto índice de abstenção ― de 20,9%, número similar ao observado em 2018 ― também pode ter prejudicado o ex-presidente.

“Tendo em vista que as indicações convergem para a colocação de Lula à frente de Bolsonaro, de maneira efetiva, a abstenção é algo que preocupa mais esta campanha que a do presidente da República”, disse o cientista político Creomar de Souza à CNN.

A CNN contatou o Institutos Datafolha, Ipec, Quaest, Ipespe, Paraná, MDA, Atlas e PoderData para que comentassem o tema.

Em relação aos levantamentos de SP, RJ e RS, ele reconhece discrepâncias entre as pesquisas e os resultados finais para os cenários de governador. “Foi uma onda de polarização de última hora que afetou os resultados, desidratando os candidatos de centro, que perderam eleitores para os candidatos dos dois pólos (lulista versus bolsonarista)”, respondeu o instituto.

Para ele, Rodrigo Garcia perdeu votos para Tarcísio e Haddad em São Paulo; Rodrigo Neves perdeu votos para Cláudio Castro no Rio; e Leite perdeu votos para o Onyx e para o Edegar Pretto, no Rio Grande do Sul. “A diferença se explica principalmente por conta do voto útil, e, na margem, uma mobilização um pouco acima do esperado do eleitorado bolsonarista”, disse.

O Ipec afirmou que deve se manifestar na segunda-feira (3), após análise dos dados dos resultados finais.

Contrastes nos estados

O cientista político Renato Dolci diz que, especificamente no Sudeste, há aspectos “menos metodológicos” que as pesquisas não vêm captando nos últimos pleitos. Ele observa que a maior surpresa ocorreu em São Paulo, onde houve inversão na ordem de candidatos e não apenas imprecisão de percentuais.

“No geral, as pesquisas acertaram mais no Nordeste do que no Sudeste. Existe uma onda conservadora no Sudeste que os institutos não conseguiram pegar”, pontua.

Em São Paulo, com 100% das urnas apuradas, Tarcísio de Freitas (Republicanos) recebeu 42,32% dos votos; Fernando Haddad (PT), 35,70%. Já o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), ficou com 18,4%.

Pesquisa Datafolha para o governo de São Paulo divulgada no último sábado mostrava Haddad à frente, com 39% dos votos válidos, seguido por Tarcísio, com 31%, e Rodrigo Garcia, com 23%. O levantamento tinha margem de dois pontos percentuais.

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