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‘Grande foco da fome no Brasil hoje é a Amazônia’, diz criador do Fome Zero

“Quando a natureza é devastada, as comunidades que dependem dela para pescar, caçar ou produzir seu alimento perdem a capacidade de se sustentar”, disse.

Dados da Fundação Abrinq mostram que 18 milhões de crianças estão em situação de insegurança alimentar no Brasil. (Brazil Photos / Contributor/Getty Images)

O ex-diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) e idealizador do programa Fome Zero, José Graziano da Silva, afirmou neste domingo (12/10) que, embora o Brasil tenha os avanços no combate à fome, o problema permanece concentrado na Amazônia.

Graziano participou, pela manhã, de um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Embaixada do Brasil em Roma e, na saída, conversou com jornalistas.

O presidente chegou domingo na capital italiana para participar da abertura do Fórum Mundial da Alimentação
2025, principal evento anual da FAO. A visita marca a comemoração dos 80 anos da entidade e simboliza a retomada do protagonismo brasileiro no combate à fome e à pobreza no cenário internacional.

Segundo Graziano, os dados mais recentes da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar e da FAO mostram uma leve melhora em relação aos índices de 2023, resultado, sobretudo, da recomposição das políticas sociais e da valorização do salário mínimo.

Graziano lembrou que o “núcleo histórico” da fome no Brasil, o Sertão e a Zona da Mata nordestina, vem apresentando redução contínua de insegurança alimentar, impulsionada por programas como o Bolsa Família. A situação é diferente na Amazônia, onde fatores ambientais agravam o problema.

“O grande foco da fome hoje é a Amazônia. O garimpo e o mercúrio estão destruindo as condições de vida da população. Quando a natureza é devastada, as comunidades que dependem dela para pescar, caçar ou produzir seu alimento perdem a capacidade de se sustentar”, disse.

Na época em que dirigia a FAO, Graziano repetia uma frase que, segundo ele, ainda vale hoje: “Se você quiser salvar vidas, salve o meio ambiente primeiro.” Para o ex-diretor, essa ideia resume o desafio amazônico. “Sem floresta, não há alimento para quem vive dela”, afirmou.

Questionado sobre a realização da COP30 em Belém, no Pará, Graziano reconheceu que há grande expectativa internacional, mas também preocupação. “Gostaria que a conferência fosse muito bem-sucedida, com presença significativa de países importantes e da sociedade civil organizada, mas estamos enfrentando alguns desafios”, disse.

“Quando você tem muita gente com fome, qualquer política macroeconômica que eleva o poder de compra, como o reajuste do mínimo, tem efeito direto. Agora, o desafio é combater a fome localizada, entre indígenas, quilombolas e ribeirinhos”, disse

Ele destacou que o êxito da COP dependerá do compromisso político dos países participantes. “O que falta é colocar os pingos nos is: desmatamento zero, um plano de saída do petróleo e metas reais para 2030. Estamos atrasados em tudo”, afirmou.

Ao comentar a decisão do governo brasileiro de autorizar uma nova plataforma da Petrobras na região amazônica, Graziano ponderou que a exploração de petróleo pode ocorrer de forma segura, desde que acompanhada de tecnologia avançada e rigor ambiental. “Não é bem na Amazônia, é mais distante. A questão é garantir as condições para que não haja vazamento”, afirmou.

Segundo ele, novas tecnologias vêm permitindo operações mais seguras em regiões sensíveis. “No Golfo do México, que antes registrava vazamentos frequentes, não ocorre um grande acidente há dez anos. É possível explorar o petróleo sem danificar o meio ambiente. A Petrobras tem capacidade técnica para isso”, disse.

Apesar disso, ele alertou para o paradoxo global da dependência energética. “O problema não é extrair, é continuar aumentando o uso. O desafio é reduzir a dependência do petróleo e isso exige convencer países produtores a se somarem a essa transição”, concluiu.

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