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Brasil atinge marca de 400 mil mortes pela Covid-19, em meio a falta de vacinas

O Brasil é o segundo país em óbitos acumulados, atrás apenas dos EUA (cerca de 575 mil), e também o segundo no registro de novas ocorrências da Covid-19 na última semana, ranking liderado agora pela Índia.

Uma em cada cinco mortes notificadas no país é decorrente da doença. (Foto:Michael Dantas/AFP)

A tragédia da Covid-19 no Brasil não é visível apenas na impressionante marca, atingida nesta quinta-feira (29), de 400.021 óbitos, segundo o consórcio dos veículos de imprensa. Em meio a falta de vacinas e um governo questionado em CPI por sua ação na pandemia, o peso do novo coronavírus sobre o sistema de saúde também surge em outro indicador — uma em cada cinco mortes notificadas no país (21,7%) desde março do ano passado é decorrente da doença.

O índice foi calculado a partir de dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), entidade que representa todos os cartórios do país. A primeira morte provocada pela pandemia, segundo registros oficiais, ocorreu no dia 17 de março do ano passado. Desde aquele mês, o Brasil contabilizou 1.843.281 óbitos totais. A associação assinala que os cartórios são responsáveis pelo fornecimento de dados — e o número, portanto, pode estar defasado — mas a relação de um quinto deve permanecer.

Apesar do percentual elevado, pesquisadores entrevistados pelo GLOBO acreditam que ela pode ser ainda maior: a subnotificação ainda é alta no país, já que muitos infectados pelo coronavírus morrem em casa, sem recorrer ao atendimento médico, devido ao colapso do sistema hospitalar. Há, também, óbitos por Covid-19 que são registrados como síndrome respiratória aguda grave (SRAG) sem causa determinada.

A escalada da pandemia é comprovada por seguidos recordes batidos nas últimas semanas. Desde a chegada do coronavírus no Brasil, houve 18 ocasiões em que o país registrou mais de 3 mil mortes diárias em decorrência da doença — 13 vezes em abril e cinco em março deste ano.

O Brasil é o segundo país em óbitos acumulados, atrás apenas dos EUA (cerca de 575 mil), e também o segundo no registro de novas ocorrências da Covid-19 na última semana, ranking liderado agora pela Índia. A taxa de letalidade mais que dobrou, de 2% no final de 2020, para 4,4% na semana passada.

Para o sanitarista Christovam Barcellos, coordenador do MonitoraCovid-19 da Fiocruz, a situação da pandemia poderia ser ainda mais grave. Segundo ele, uma investigação do registro de óbitos apontaria que a Covid-19 já teria matado mais de 500 mil pessoas no país. O diagnóstico caberia às secretarias de Saúde, mas muitas não têm a infraestrutura necessária para o trabalho.

Barcellos destaca ainda as mortes “indiretas” causadas pela pressão que a pandemia causou sobre as redes hospitalares. “Há complicações que não puderam ser atendidas, devido a fatores como a exaustão dos profissionais de saúde, a falta de oxigênio e medicamentos nos hospitais e a superlotação de UTIs — explica. — Este quadro contribuiu para óbitos indiretos: quantas pessoas tiveram infarto e não conseguiram ser socorridas? Quantos tiveram cirurgias adiadas e viram sua saúde piorar?”.

Platô elevado

Um boletim divulgado nesta quarta-feira pela Fiocruz demonstra sinais tímidos de queda no número de casos (-1,5% ao dia) e óbitos (-1,8% diários) por Covid-19 no país. Para Barcellos, seria um indicativo de que o Brasil teria atingido ao pico da pandemia. No entanto, como a reprodução do coronavírus ainda é acelerada, não há tendência de queda na curva epidemiológica.

— Isso significaria que chegamos a um platô, da mesma forma como na primeira onda, em meados de 2020. A diferença é que, desta vez, estacionamos em um índice muito mais elevado. No ano passado, eram cerca de mil óbitos por dia. Agora, atingimos até 3 mil — alerta. — A lição que deveríamos ter aprendido é que este momento deve ser o de reorganização de serviços, e não de flexibilização total.

Outro obstáculo é a circulação de variantes do coronavírus, especialmente a P.1, que emergiu na Amazônia em novembro do ano passado. Um estudo divulgado na quarta-feira (28) pela Secretaria estadual de Saúde de São Paulo indicou que a variante foi detectada em 90% de 1.439 sequenciamentos genéticos analisados pelo Instituto Adolfo Lutz (SP).

A primeira onda do coronavírus demorou meses para atingir o país inteiro, destaca Barcellos. A P.1. cumpriu o mesmo trajeto em semanas. Não está comprovado se a variante é mais letal, mas, segundo pesquisadores, a velocidade do contágio poderia atrasar a erradicação da pandemia.

Inverno que se aproxima é desafio

Eliseu Alves Waldman, epidemiologista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, pondera que o país pode ter atingido o pico da segunda onda da pandemia, mas que enfrentará um novo desafio nas próximas semanas. “Entraremos no inverno no fim do mês que vem, quando ocorreu o pico da primeira onda. Então, pode haver um novo recrudescimento do Sars-CoV-2 nesta época, como ocorre com todos os vírus respiratórios — explica Waldman. — Como não tomamos medidas mais radicais para diminuir a circulação do vírus, pode ser que ela seja mantida em um patamar muito alto”.

Além das mais de 400 mil mortes, Waldman atenta que o país conta com aproximadamente 14,5 milhões de infecções confirmadas. Muitos casos, segundo o epidemiologista, são de pessoas que foram internadas. Embora tenham conseguido sobreviver à Covid-19, podem ter sido vitimadas com outras mazelas.

— O vírus deixa sequelas, principalmente respiratórias, cujas consequências a médio e longo prazos ainda são desconhecidas, mas que demandarão um atendimento especial. Hoje, a prioridade ainda é evitar o colapso do sistema de saúde — atenta o epidemiologista. — A pandemia também está provocando a diminuição da cobertura de pacientes com outras doenças infecciosas ou doenças crônicas não transmissíveis, que deixaram de ser atendidos. É o caso da tuberculose, que tem uma incidência muito alta no Brasil, da hipertensão e do diabetes.

Também preocupa a marcha lenta da vacinação no país. Iniciada em janeiro, a campanha de imunização contemplou com uma dose apenas 14,5% da população, o equivalente a 30,5 milhões de pessoas. O Brasil é o quarto país que mais aplicou vacinas, mas somente o 22º em doses aplicadas a cada cem habitantes, de uma lista 52 nações que reportam cobertura vacinal para Covid-19.

Barcellos e Waldman indicam que a imunização, que começou em grupos prioritários — idosos, profissionais de saúde e populações vulneráveis, como os indígenas — deve provocar um efeito cascata, que reduzirá a pressão nos hospitais sobre casos graves. A redução dos índices de mortalidade por Covid-19 já foi registrada em pessoas acima de 80 anos, e em breve poderá será vista em pessoas de outras faixas etárias. No entanto, devido à demora para comprar vacinas, o país segue longe da imunização em massa.

Com informações de O Globo.

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