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Amazonas

Guia de observação de aves flagrou espécie de papagaio careca, raro e exclusivo da Amazônia

A espécie ocorre em baixas densidades em uma área restrita da Amazônia. Além disso, habita as copas das árvores.

Papagaio careca. (Foto Bruno Rennó)

As características da plumagem (ou a falta dela) dão pistas dos nomes dessa ave, chamada popularmente de papagaio-de-cabeça-laranja ou papagaio-careca (Pyrilia aurantiocephala). Exclusivo do norte do Brasil, o papagaio vive no baixo Tapajós e no rio Teles Pires.

Apesar de não estar na lista de espécies ameaçadas de extinção, é considerado muito raro, portanto, dificilmente é flagrado nas matas. “A espécie ocorre em baixas densidades em uma área restrita da Amazônia. Além disso, habita as copas das árvores, onde, mesmo tendo a cabeça laranja, é difícil de ser visualizado caso não vocalize”, explica o ornitólogo Luciano Lima.

Com cerca de 20 centímetros de comprimento, a ave se destaca pela característica da cabeça sem plumas e de pele alaranjada. O peito esverdeado, a barriga em tons de azul claro e as asas que mesclam vermelho e verde compõem a plumagem típica da espécie, que foi descoberta em 2002 por cientistas brasileiros na Amazônia. Na época, a ave foi encontrada no sudeste do Pará, nas margens do rios Cururú-açú e São Benedito, dois afluentes da margem direita do rio Teles Pires, no alto Tapajós.

Em busca do papagaio-careca

Tamanha raridade faz com que os escassos encontros com o papagaio-careca emocionem especialistas, observadores e fotógrafos de natureza. O guia de observação de aves Bruno Rennó teve a chance de garantir 28 registros da espécie durante expedições na área de ocorrência do papagaio, realizadas há seis anos. “A minha primeira observação foi em 21 de julho de 2016 e o meu vigésimo oitavo registro foi em setembro desde ano. Encontrá-lo na natureza é sempre um enorme desafio, porque é um animal arisco, geralmente observado em voo. Das 28 vezes que consegui registrar a espécie, só seis foram da ave pousada”, conta.

“As duas últimas observações foram bem marcantes: eu ouvi a vocalização das aves, que estavam em voo e logo pousaram em uma árvore muito baixa, bem perto da gente. Confesso que foi difícil controlar a emoção de ver esse bicho tão raro, pousado, assim, tranquilo e tão próximo”, detalha.

“Muitos observadores de aves vêm de longe, de outros países, para tentar registrar as raridades dessa região amazônica”, comenta Bruno, que lembra do primeiro encontro com a espécie. “Eu estava acompanhado de dois observadores de aves da Holanda, um deles era o Arjan Dwarshuis, que tentava bater o recorde mundial do maior número de espécies de aves observadas em um ano. Um dos principais objetivos dele na região era o papagaio-careca, único lugar do mundo onde poderia registrar essa espécie. O grande recorde mundial do ano de 2016 foi do Arjan, com um total de 6.852 espécies flagradas, incluindo o papagaio”.

“Toda vez que a gente consegue registrar essa espécie é uma grande emoção. Eu costumo dizer que o meu papel principal como guia de observação é transformar o sonho das pessoas em forma de pássaros. E sempre que os observadores vão para aquela região amazônica o papagaio-careca é o ‘top 1’ da lista de ‘desejos’, então é sempre desafiador e emocionante encontrá-lo”.

Parente ameaçado

As cores da plumagem mais vívidas, assim como a cabeça em tons de preto, diferem a curica-urubu (Pionopsitta vulturina) do papagaio-careca, apesar de ambos pertencerem à mesma família. A ave mais colorida, assim com o “primo”, é endêmica da Amazônia brasileira, no entanto, essa corre risco de extinção.

No Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção a curica é classificada como ‘Vulnerável’, vítima principalmente do desmatamento contínuo no bioma: estimativas indicam que cerca de 60% do habitat original da espécie já tenham sido perdidos.

Nos anos 50 o ornitólogo Helmut Sick capturou um indivíduo de papagaio-de-cabeça-laranja, no entanto, na época pensou se tratar de um exemplar imaturo de curica-urubu (Pionopsitta vulturina).

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