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Amazonas

Wilson Lima contradiz familiares de vítimas e diz que ninguém morreu por falta de respirador

Familiares de vítimas tiveram que publicar vídeos mostrando o desespero diante da falta de atendimento médico em unidades públicas de saúde em Manaus, em meio à pandemia do novo coronavírus.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), disse em entrevista à CNN, na última terça-feira, que ninguém morreu por falta de respirador no Estado. Ele respondia sobre a a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que não há muitos casos de pessoas no país que tiveram a vida interrompida por Covid-19 devido à falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou de respiradores mecânicos.

O governador do Amazonas respondeu: “Tivemos dificuldades no atendimento, chegamos a trabalhar no limite. Não posso dizer que houve mortes por falta de respirador. Chegou um momento que trabalhamos no limite, mas os números começaram a cair. O aporte do governo também nos deu um certo fôlego”.

A resposta do governador contradiz depoimentos de familiares de vítimas da pandemia que morreram sem atendimento médico no Amazonas, como o caso relatado no início de maio por Luziane Rabelo: o marido dela, Leandro Jorge de Lima, de 44 anos, internado no Hospital e Pronto Socorro Platão Araújo, na Zona Leste de Manaus, morreu após ser atendido com um improvisado respirador de saco plástico. “Ele sofreu muito. Ele não conseguia respirar e eles ficam falando que tem, todos os hospitais estão equipados. Tudo mentira”, disse Luziane.

No mesmo hospital, o consultor de vendas Sérgio Monteiro lamentou a perda do pai Antônio Telles da Gama, de 66 anos. Ele foi diagnosticado com o novo coronavírus, esperou oito dias por um respirador. Depois de transferido para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) , sobreviveu por apenas cinquenta minutos, antes de ter uma parada cardíaca.

“Ele foi muito feliz para entubação, o meu pai. Muito feliz cara. O desejo que ele sempre teve era ter um respirador. Ele tinha esperança. Um desejo que ele sempre pediu desde o início. ‘Eu quero um respirador, eu quero um respirador’, e a gente não encontrou. A gente lutou, não encontrou. Quando encontrou, foi no final da vida dele. Muito triste”, lamentou Monteiro.

Os médicos que atuam no Hospital e Pronto-Socorro Platão Araújo relataram que não havia respiradores para atender a todos os pacientes e que muitas vezes são obrigados a escolher quem vai ter acesso ao equipamento.

Também no início de maio, vídeos gravados no Hospital Pronto Socorro João Lúcio mostraram o colapso no sistema de saúde do Amazonas com salas lotadas, respiradores quebrados e familiares retirando caixões do local. No dia seguinte, o próprio governador Wilson Lima afirmou que, se o número de casos de Covid-19 no estado não diminuíssem, havia “ a possibilidade de fechar tudo”, se referindo ao comércio no estado.

O UOL publicou três vídeos gravados por moradores de Manaus mostrando o desespero da população diante da falta de atendimento médico em unidades públicas de saúde da cidade, em meio à pandemia do novo coronavírus.

Em uma das gravações, Wollace Lima mostra seu pai, um idoso, deitado em uma maca dentro do SPA de São Raimundo, na zona oeste de Manaus. “Negligência médica aqui. Meu pai morrendo aqui. Não leito. Não tem urgência. Não tem enfermeiro. Não tem nada”, diz ele no vídeo

Na époica a Secretaria de Saúde do Amazonas (Susam) afirmou que “o avanço da pandemia de coronavírus no estado e o aumento rápido do número de casos sobrecarregou os serviços de saúde”. “Além da limitação de leitos, a capacidade de atendimento dos serviços de urgência e emergência está sendo afetada pelo afastamento de profissionais de saúde”, informou.

A declaração do governador do Amazonas, Wilson Lima, afirmando que “o Estado trabalhou no limite, mas ninguém morreu porque não tinha respirador”, revoltou o deputado estadual Wilker Barreto (Podemos) nesta quarta-feira, 10. Para o parlamentar, a frase do chefe de Estado, dita em debate ao vivo do canal da TV paga CNN Brasil, é uma falta de respeito com o povo do Amazonas e com as famílias dos 2.315 mortos pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no Estado.

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