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Amazonas

Com barcos cheios, coronavírus seguiu rota de rios para infestar a Amazônia, mostra estudo

Levantamento daUniversidade Federal do Pará (UFPA) e Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) apontou 9,7 milhões de passageiros que passaram em 2017 pelos 196 terminais hidroviários oficiais da região.

O médico e doutorando na Universidade de Oxford, no Reino Unido, Ricardo Parolin Schnekenberg, produziu um mapa que ilustra como a covid-19 se disseminou, partindo dos grandes centros amazônicos para locais menores, que são o destino das viagens pelos rios.

O caminho da covid-19 na região Norte — a mais afetada do país em termos proporcionais — seguiu uma rota similar aos 16 mil quilômetros de rios que cortam a Amazônia e servem de principal via de transporte de passageiros.

“A questão é que as viagens de barco são o ambiente propício para os eventos de superspreading (super espalhamento), nos quais uma única pessoa, às vezes assintomática, contamina dezenas ou centenas de pessoas. Bastava que isso tivesse acontecido uma única vez, e toda a região Norte seria contaminada”, afirma o médico, que pesquisou a situação da covid-19 na Amazônia.As informações são do UOL.

O mapa mostra que os casos começaram a surgir basicamente a partir da metade de março e começaram a ganhar uma força devastadora entre abril e maio. “Pelo mapa, os casos ocorrem quase simultaneamente em várias cidades da região Norte, como Manaus, Belém e Macapá. E poucos dias depois, em várias outras cidades da região. Essa expansão tão rápida em uma área geográfica tão grande é impossível de ter sido sequencial. Ou seja, quando aqueles casos foram detectados, a coisa já tinha se espalhado fazia semanas”, avalia.

Segundo Januário Cunha Neto, presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Amazonas, os rios foram decisivos no processo de espalhamento do vírus. “As nossas estradas são os rios. Quase a totalidade dos municípios só são acessados por eles”, observa.

A chegada do vírus

Viajando pelos rios o coronavírus causou a primeira morte fora dos estados de Rio de Janeiro e São Paulo. O pescador e empresário Geraldo Sávio, 49, morreu vítima de covid-19 em 24 de março. Ele morava em Parintins e visitou Manaus dias antes de apresentar os sintomas — que chegaram a ser confundidos com um resfriado.

Também por barco o vírus chegou à cidade hoje com maior número de casos do país, em termos proporcionais: São Gabriel da Cachoeira, no extremo oeste do Amazonas, onde quase 5% da população já foi contabilizada com a covid-19.

A importância dos rios para o transporte na Amazônia foi atestada em um levantamento daUniversidade Federal do Pará (UFPA) e Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), que apontou 9,7 milhões de passageiros que passaram em 2017 pelos 196 terminais hidroviários oficiais da região.

“Isso é o que a gente sabe por portos oficiais, fora os que a gente não sabe. Acho que é até o dobro disso”, diz Hito Braga, diretor da Faculdade de Engenharia Naval da UFPA.

A hipótese de que o início da circulação do coronavírus tenha ocorrido antes do fechamento das cidades será alvo de análise da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia. O pesquisador Felipe Naveca foi o primeiro a sequenciar o novo coronavírus que apareceu no Norte.

Ele explica que fez a análise de 30 amostras de mortes por causas respiratórias sem agente causador definido em dezembro de 2019 no Amazonas, mas não encontrou o novo coronavírus. Ele pretende analisar mortes registradas em janeiro e fevereiro, para comprovar se o vírus circulou ou não naqueles meses.

Naveca concorda que os itinerários pelos rios contribuíram para a disseminação do novo coronavírus. “Apesar de a Marinha ter participado desse controle do isolamento, no início isso demorou a acontecer; o tempo foi passando, e o vírus, se alastrando. E os municípios tinham dificuldades com testes, mandar as amostras para Manaus levava dias para sair o resultado, e aí teve tempo para o vírus se espalhar.”

Ele explica que as próprias características dos barcos contribuem para uma contaminação de muitas pessoas. “Na maioria dos barcos, as pessoas penduram as redes uma por cima das outras, então o contato realmente é próximo. Como você vai ficar dias naquela situação, a chance de ter um contato mais próximo e de transmitir, se alguém estiver positivo, existe”, pontua.

 

 

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