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Amazonas

Cientistas descobrem espécies em montanhas isoladas no Amazonas

A missão dos cientistas no topo da montanha é percorrer a maior variedade possível de ambientes e coletar a maior diversidade possível de plantas e animais.

Mais da metade dos anfíbios coletados é inédita para a ciência (Foto: Herton Escobar/USP Imagens)

Uma equipe de cientistas da Universidade de São Paulo (USP) já está documentando o resultado de pesquisas com várias descobertas realizadas na Serra do Imeri, no Norte do Amazonas, fronteira com a Venezuela. O levantamento indica plantas e bichos inéditos que habitam a área da montanha mais alta do Brasil. A expedição é uma sequencia do trabalho realizado desde 2018 no Pico da Neblina (2.995 metros). As informações são do site https://www.todapalavra.info/single-post/amazonia-cientistas-descobrem-especies-em-montanhas-isoladas.

A Serra do Imeri é uma região menos alta que o Pico da Neblina, porém mais isolada, sem qualquer infraestrutura instalada ou via de acesso preestabelecida. A área fica a 1.875 metros de altitude, uma cadeia isolada de montanhas no extremo norte do Amazonas. Pesquisadores acreditam que ninguém jamais colocou os pés ali. As comunidades Yanomami do entorno foram consultadas antes da expedição e nem mesmo elas conheciam as partes mais elevadas da serra.

A missão dos cientistas no topo da montanha é relativamente simples: percorrer a maior variedade possível de ambientes e coletar a maior diversidade possível de plantas e animais, para ter uma ideia do que existe ali. Simples de dizer, difícil de executar. Passar duas semanas no alto de uma serra, no meio da lama, exposto às intempéries da natureza, subindo e descendo trilhas todos os dias (e noites) não é nenhum passeio no parque.

“Foi a expedição mais difícil da minha vida”, diria Rodrigues, ao final da aventura. Aos 69 anos, com um histórico acadêmico e de vida do tamanho da Amazônia, Rodrigues é o ícone da equipe e mentor da expedição, realizada em parceria com o Exército brasileiro e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do programa Biota. Foi ele quem concebeu o projeto e selecionou os integrantes da equipe, incluindo especialistas em répteis e anfíbios (herpetologia), mamíferos (mastozoologia), aves (ornitologia), plantas (botânica) e parasitas (parasitologia). Quatorze pesquisadores ao todo, oriundos da USP, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) e do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS). O Jornal da USP acompanhou toda a expedição, realizada entre 2 e 23 de novembro.

Desde o início havia a expectativa de que muitas espécies novas seriam descobertas, em função do isolamento biogeográfico da região. Dito e feito: em 12 dias de trabalho no campo, os pesquisadores coletaram 285 animais, de 41 espécies, das quais 12 (30%), pelo menos, são inéditas para a ciência (cinco anfíbios, quatro lagartos e três aves). Pode parecer pouco, mas é muita coisa. E isso é só o que os pesquisadores conseguiram identificar de imediato como coisas novas. À medida que o material for sendo examinado em detalhe no laboratório, é muito provável que outras novidades apareçam, tanto do ponto de vista genético quanto morfológico.

Tão importante quanto o número de novas espécies, segundo os pesquisadores, é o fato de que grande parte das plantas e animais coletados na expedição parece ser exclusiva (ou endêmica, na linguagem técnica) dessas formações montanhosas do norte da Amazônia, que incluem o Pico da Neblina, o Monte Roraima e outros maciços tabulares (chamados tepuis), que se espalham pelo norte do Brasil, sul da Venezuela e oeste da Guiana. Ou seja, são espécies que só existem no topo das montanhas e chapadas dessa região, conhecida como Pantepui.

Cravada na fronteira do Brasil com a Venezuela, a Serra do Imeri fica no extremo sul dessa região montanhosa, guardada em território brasileiro por uma dupla camada de áreas protegidas: a Terra Indígena Yanomami e o Parque Nacional do Pico da Neblina (mapa acima).

“O nível de endemismo aqui é muito alto. Essa é a grande diferença”, destrincha o professor Taran Grant, também do IB-USP, especialista em anfíbios. Como comparativo, antes de embarcar para as montanhas, os pesquisadores passaram uma noite coletando répteis e anfíbios no entorno do aeroporto de Santa Isabel do Rio Negro, 90 quilômetros (km) ao sul da Serra do Imeri, que o Exército utilizou como base de apoio para a expedição. Em três horas de trabalho tranquilo, sem muito esforço, coletaram 45 bichos, de 20 espécies diferentes. Já na Serra do Imeri, foram necessários cinco dias de trabalho intenso para coletar esse mesmo número de animais, com o uso de dezenas de armadilhas e dezenas de horas de busca ativa na natureza. No final, voltaram para casa com 160 bichos, de pelo menos 12 espécies.

A diferença fundamental, conforme anotou Grant, é que nenhuma das 20 espécies coletadas em Santa Isabel do Rio Negro era nova, enquanto que quase todas as 12 espécies recolhidas na Serra do Imeri são inéditas (quatro lagartos e cinco anfíbios, pelo menos), além de serem todas endêmicas da região dos tepuis, segundo Rodrigues.

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