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Amazonas

Cancelamento do Festival de Ópera no Amazonas “é pouco razoável e muito destrutivo”, diz diretor da mais importante revista especializada do País

Editor diz que “uma compreensão mais abrangente das influências e dos efeitos do Festival certamente evitaria o equívoco da decisão”.

O diretor e editor da Revista Concerto, mais importante veículo de divulgação da música de concerto no país, Nelson Rubens Kunze, publicou um editorial dizendo que o cancelamento do Festival Amazonas de Ópera “é pouco razoável e muito destrutivo”.

De acordo com ele, “uma compreensão mais abrangente das influências e dos efeitos do Festival certamente evitaria o equívoco da decisão”. “Festival é estruturante e também instrumento de educação e de promoção social”, afirmou.

cancelamento-do-festival-de-opNo editorial, ele diz que parece “sensato e responsável”, o argumento do governo do Amazonas de redução de gastos, para manter o equilíbrio orçamentário do governo e manutenção de serviços prioritários”. Mas diz que “o problema aqui é a dose draconiana que sobrou para a Cultura, e em especial para o Festival Amazonas de Ópera”.

“Considerando os índices sociais e econômicos críticos de algumas regiões do estado do Amazonas, é compreensível que a Cultura não entre na lista das prioridades. Mas não compreendo por que o principal festival de ópera do país, que mostra aos olhos do mundo um pouco da civilidade e da humanidade da Amazônia – não vamos nos esquecer de que lá fora, hoje, quase só se associa a Amazônia a queimadas, garimpo ilegal e genocídio indígena –, seja simplesmente limado da agenda do governo. Eu acho uma decisão pouco razoável e muito destrutiva cancelar um festival estruturante que é também instrumento de educação e promoção social”, escreveu.

Segundo Nelson Rubens Kunze, “não é razoável o poder público cancelar um dos mais exitosos projetos de cultura e de educação realizados no Brasil”. Ele argumenta que “o FAO é apenas a ponta de uma estrutura pedagógico-cultural desenvolvida no estado do Amazonas há mais de 25 anos, que é um marco no desenvolvimento civilizatório – ou deveria ser! – daquela região do país”.

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Ele lembra que foi a partir deste festival que o governo do Amazonas criou, em 1998, o Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro, “uma das mais bem-sucedidas ações de política pública na área da cultura de nosso combalido país”. E cita o portal oficial do estado do Amazonas, como fonte de que o Liceu atende uma média anual de três mil alunos e mantém dez grupos artísticos! “Não sou cientista social, mas pelo que eu vejo da realidade da capital do Amazonas, esta sem dúvida é uma importante e inestimável contribuição para a educação e a promoção social da região… ou será que não é?”.

O editor diz que “além dessa enorme revolução socioeducacional, também é pouco razoável desprezar o impacto econômico do Festival Amazonas de Ópera, demonstrado em diversas oportunidades pela diretora executiva Flavia Furtado para plateias de todo mundo”.

Diz que foi a partir do Festival que foram criados diversos corpos artísticos profissionais, como a Orquestra Amazonas Filarmônica, o Coral do Amazonas, a Amazonas Band e o Balé Folclórico do Amazonas. Que, além disso, foi criada a Central Técnica de Produção (CTP), que hoje atende diversos eventos culturais do estado e que serve de paradigma para os teatros de ópera brasileiros – sim, quando há autoridades do Theatro Municipal de São Paulo ou do Theatro Municipal Rio de Janeiro em Manaus, uma das primeiras visitas da agenda é a CTP.

Lembra, ainda, que cada edição do Festival Amazonas de Ópera mobiliza dezenas de profissionais especializados – hoje, graças ao trabalho de mais de 25 anos, praticamente todos da região amazônica – estabelecendo uma valorosa cadeia produtiva. É uma enorme máquina de produção cultural que induz desenvolvimento, capacitação profissional e alavanca qualidade.

O artigo diz que “estudos realizados em grandes eventos culturais apontam que o valor investido nessas ações resulta sempre em um retorno financeiro muito maior na economia local”.

Por fim, ele destaca”, não por ser menos importante”, o valor artístico do Festival Amazonas de Ópera. “…é pouco razoável brecar uma máquina de produção que conta com alguns dos maiores artistas brasileiros e com estrangeiros de carreira no cenário internacional”.

“Dirigido desde a virada do milênio pelo maestro Luiz Fernando Malheiro – um dos maiores regentes de óperas em atividade no país –, o festival consolidou uma reputação internacional absolutamente inédita. Basta lembrar que foi no Festival Amazonas de Ópera – sim, no “acanhado” Teatro Amazonas! – que ocorreu a histórica primeira produção brasileira do ciclo completo de O anel do nibelungo, de Richard Wagner”, lembra.

E encerra o texto dizendo que é “lamentável e bem pouco razoável a decisão do governo do estado do Amazonas em cancelar o Festival Amazonas de Ópera”. E acrescenta que “uma compreensão mais abrangente das influências e dos efeitos do Festival certamente evitaria o equívoco dessa decisão. Tem de haver uma solução de redução de gastos que viabilize pelo menos parte do festival e que mantenha acessa a chama da esperança e do futuro!”

De minha parte, tenho certeza de que, sem o Festival Amazonas de Ópera, o estado do Amazonas dá um passo atrás em seu grande desafio civilizatório e de desenvolvimento social sustentável.

O Festival e toda a infraestrutura cultural ao seu redor, no Amazonas, foram criado em 1987 pelo então governador do Amazonas, Amazonino Mendes.

Veja a íntegra do editorial.

 

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