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Amazonas

Estudo indica áreas da Amazônia mais importantes para proteção da onça-pintada

Das dez áreas protegidas de prioridade máxima para a conservação da onça-pintada na Amazônia brasileira, oito são terras indígenas (TIs).

A população estimada de onças-pintadas é de 173 mil indivíduos. (Foto: Steve Winter/Panthera)

Embora a distribuição geográfica original das onças-pintadas se estenda do México à Argentina, elas foram erradicadas de quase a metade desse território. De acordo com as estimativas mais otimistas, restam 173 mil indivíduos no continente. Metade desse número vive no Brasil, e pouco menos de um quarto na Amazônia brasileira.

Tendo esses números em mente, um grupo de pesquisadores considerou a densidade e o tamanho da população de onças-pintadas na Amazônia brasileira e utilizou um “índice de ameaça” para calcular os riscos impostos à espécie em todas as 447 áreas protegidas da região. Essas ameaças incluem perda e fragmentação de hábitat, caça, mortes por atropelamento nas estradas, mineração e incêndios.

O estudo constatou que as áreas que contêm as maiores densidades e as maiores populações de onças são justamente aquelas mais sujeitas a impactos causados pela ação humana. E, considerando os potenciais riscos à sobrevivência da espécie, identificou as áreas protegidas de maior prioridade para a conservação da onça-pintada – dez que exigem ação imediata e outras 74 que demandam ações em curto prazo.

Das dez áreas protegidas de prioridade máxima para a conservação da onça-pintada na Amazônia brasileira, oito são terras indígenas (TIs). São as TIs Arariboia, Apyterewa, Cachoeira Seca, Kayapó, Marãiwatsédé, Uru-Eu-Wau-Wau, Xingu e Yanomami, juntamente com a Estação Ecológica da Terra do Meio e o Parque Nacional Mapinguari. Com exceção da TI Yanomami, sujeita às pressões da mineração, todas estão situadas no Arco do Desmatamento, onde a perda florestal foi mais intensa nas últimas décadas.

A TI Yanomami, que abrange uma área do tamanho de Portugal, tem a maior população de onças-pintadas entre essas áreas, com uma estimativa conservadora de 1.003 indivíduos. A menor população é a de Marãiwatsédé, uma área com aproximadamente um sexagésimo do tamanho do território Yanomami, com uma estimativa de 16 onças.

Onças precisam de grandes territórios

A onça-pintada (Panthera onca) é o terceiro maior felino do mundo, ficando atrás apenas dos tigres e dos leões, mas têm a mordida mais poderosa de todos, capaz de quebrar a carapaça de uma tartaruga. Ela se alimenta de mais de 85 espécies animais e pode viver em qualquer lugar, de florestas a pradarias e pântanos. As onças-pintadas são territoriais e precisam de muito espaço para perambular e caçar.

“Salvaguardar as áreas protegidas é de fundamental importância para as onças, mas não é suficiente. Também precisamos manter a conectividade entre elas por meio de corredores seguros e um planejamento robusto de utilização das terras para garantir o fluxo genético”, diz a coautora do estudo, Valeria Boron, conselheira sênior de programas da WWF do Reino Unido.

De acordo com um estudo de 2018 publicado no periódico Oryx, as subpopulações de onças-pintadas estão ameaçadas de extinção praticamente em todos os lugares, exceto na Amazônia. A conectividade poderia ser uma salvaguarda para as populações desses felinos que vivem fora da maior floresta tropical do mundo.

O Jaguar 2030 Roadmap (Plano de Ação Onça-Pintada 2030) é um plano para conectar as principais áreas de conservação de onças-pintadas até o ano de 2030, liderado pela WWF, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Wildlife Conservation Society (WCS) e a organização global para a conservação de felinos selvagens Panthera.

“O Jaguar 2030 Roadmap dá vida nova ao mundo da conservação das onças-pintadas, oferecendo visão e soluções reais para que o mundo possa proteger essa espécie culturalmente icônica e ecologicamente essencial”, disse Howard Quigley, diretor executivo de ciência da conservação da Panthera, em uma declaração de 2018.

A importância das onças-pintadas

Como predadores-chave, as onças-pintadas são fundamentais para um ecossistema saudável. Também são consideradas uma espécie guarda-chuva na conservação. Portanto, proteger seu hábitat delas pode ajudar a proteger as milhares de outras espécies que vivem na mesma área.

“Em última instância, conservar as onças-pintadas significa conservar grandes áreas da Amazônia com importantes benefícios planetários”, diz Boron.

De todas as 447 áreas protegidas examinadas no estudo, as reservas indígenas eram o lar de cerca de 24 mil onças-pintadas, ou 63% do número total estimado de onças-pintadas em toda a Amazônia brasileira.

Em vista disso, dizem os autores do estudo, é necessário que haja o fortalecimento da participação dos povos indígenas e das comunidades locais nas decisões e na administração de seus territórios; maior financiamento e apoio às áreas protegidas, Terras Indígenas e órgãos ambientais; e implementação de políticas e estruturas jurídicas mais sólidas no Brasil para impedir que as áreas protegidas sejam diminuídas, rebaixadas ou percam o status de conservação.

“Com a Amazônia encolhendo rapidamente, o estudo aumenta a pressão para que o Brasil (e os países vizinhos) realizem a implementação efetiva da conservação e do apoio às áreas protegidas e Terras Indígenas”, diz Juliano Bogoni, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de São Paulo e da Universidade de East Anglia, no Reino Unido.
Os autores enfatizam que a grande maioria das áreas protegidas no Brasil sofrem de grave subfinanciamento, falta de pessoal e falta de infraestrutura operacional, o que persiste há décadas.

“A Amazônia é uma dos últimos grandes bastiões para as onças-pintadas, e é fundamental para sua conectividade norte-sul”, diz Allison Devlin, vice-diretora do programa de onças-pintadas da Panthera e que não estava envolvida no estudo. “As onças podem ser protegidas por meio de uma abordagem em mosaico, trabalhando dentro das áreas protegidas, e juntamente com as comunidades locais, os territórios indígenas e os governos para apoiar paisagens amigáveis à vida selvagem que garantirão a passagem segura e a persistência das onças, seu hábitat e suas presas – para sempre”.


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