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FMI anuncia fechamento do escritório no Brasil, após críticas do ministro Paulo Guedes

Pasta afirma que escritório está ‘obsoleto’ e ministro disse que representantes do Fundo ficam no país porque ‘gostam de feijoada’.

A medida ocorre em meio às reclamações sobre as estimativas econômicas da instituição.(Foto: Reprodução)

Um dia após ser criticado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, o Fundo Monetário Internacional (FMI) confirmou em nota, na manhã desta quinta-feira,16/12, que fechará seu escritório de representação no Brasil. A unidade em Brasília funciona como uma espécie de “embaixada” da instituição. A informação é do jornal O Globo.

“O FMI fechou um acordo com as autoridades brasileiras para encerrar o Escritório de Representação do FMI em Brasília até 30 de junho de 2022”, informou, em nota o Fundo, lembrando que esta é a data do fim do mandato do atual representante do Fundo no país.

Nesta quarta-feira, Guedes antecipou que a missão do FMI no Brasil seria encerrada e disse que havia assinado o documento para terminar a cooperação internacional com o Fundo.

— Vou dizer até com delicadeza que nós estamos dispensando o FMI. Eles estão aqui há bastante tempo, havia bastante desequilíbrio. E eu assinei: pode voltar, pode passear lá fora. Vieram aqui para prever uma queda de 9,7%, e a Inglaterra ia cair 4%. Nós caímos 4%, a Inglaterra, 9,7%. Achamos melhor eles fazerem previsões em outro lugar — afirmou Guedes, em evento na Fiesp.

Na prática, o governo deixará de reconhecer o escritório do FMI no Brasil a partir de 30 de junho, quando o atual representante deverá ser substituído.

Escritório ‘obsoleto’

Ao GLOBO, o Ministério da Economia disse que comunicou ao Fundo Monetário Internacional que não será mais necessário manter escritório em Brasília. Na visão do ministério, a representação estava obsolta.

“O Fundo mantém escritórios apenas em países com os quais tem programa ativo, o que torna o obsoleta a manutenção de um escritório no país. No caso brasileiro, o último acordo financeiro com o FMI ocorreu em 2002 e foi pago antecipadamente em 2005. O Brasil hoje é credor do FMI”, diz a nota.

A pasta também afirma que valoriza o FMI.

“O Brasil valoriza o diálogo construtivo com o FMI, participa ativamente das atividades e iniciativas do Fundo, inclusive as que resultaram em auxílio internacional aos países vulneráveis durante a pandemia e permanece comprometido em continuar trabalhando para garantir um relacionamento frutífero com organismo”, afirma o texto.

A medida pode ser vista como uma expulsão do FMI do país, na visão de diplomatas ouvidos pelo GLOBO, e ocorre em meio às reclamações sobre as estimativas econômicas da instituição.

As representações do FMI nos países atuam como elo entre o Fundo e o governo local. Para as nações que não têm empréstimos da instituição, caso do Brasil, isso pode significar focar nas políticas e recomendar as melhores práticas econômicas.

A decisão do Brasil de encerrar a representação do FMI em Brasília uma insatisfação com a instituição que já vinha se formando há meses, de acordo com fontes do governo.

Tudo começou quando a organização publicou suas estimativas econômicas de 2020 para o Brasil. Depois de várias discussões com o corpo técnico do FMI sobre métricas e modelos para estimar o PIB em um momento de crise como uma pandemia, Guedes sentiu que o Fundo não levou em consideração os pontos do Brasil, de acordo com a fonte.

Guedes também não gostou dos comentários recentes sobre as perspectivas econômicas do Brasil feitos pelo ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn, que agora está assumindo como diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental. Em entrevista na terça-feira, Goldfajn criticou o governo e disse que os investidores já saíram do Brasil.

— Se temos um brasileiro bem preparado no FMI criticando o país, não preciso de outro crítico do Fundo aqui — disse Guedes.

Futebol e feijoada

Guedes disse que há muitos anos não haveria mais necessidade de o Fundo manter seus representantes no Brasil e que eles “ficaram porque gostam de feijoada, de jogo de futebol, de conversa boa, e, de vez em quando, criticar um pouco e fazer previsão errada”.

O FMI informou que o escritório foi aberto em 1999, quando o país ainda recorria aos empréstimos da entidade para obter liquidez internacional.

“Embora o acordo do FMI com o Brasil tenha terminado em 2005, o escritório foi mantido aberto para facilitar o diálogo entre o corpo técnico do Fundo e as autoridades”.

A nota ainda indica que pretende manter uma boa relação com o Brasil, apesar das críticas de Guedes.

“Esperamos que a alta qualidade do envolvimento do corpo técnico do Fundo com as autoridades brasileiras continue, à medida que trabalhamos de perto para apoiar o Brasil no fortalecimento de sua política econômica e configurações institucionais”, conclui a nota.

‘Lambança’

O ministro já fez diversas declarações públicas contra o Fundo. Numa audiência na Câmara, disse que não dava bola para o Fundo:

— Eu não dou muita bola para o FMI, não. Eu conheço o FMI desde que eu era jovem. Eles vinham aqui. Eles gostavam muito de goiabada, feijoada, futebol. Eles adoravam vir ao Brasil. E ficavam assinando acordos que nós nem cumprimos e eles também não estavam muito interessados se nós íamos cumprir ou não.

Também disse que o FMI fez uma “lambança” no ano passado com previsões do desempenho da economia brasileira: uma queda de 9,1%, quando o dado efetivo foi uma retração de 4,1%, afirmou.

— O FMI fez uma lambança — afirmou ele, acrescentado: — O FMI veio ao Brasil. E eu descredenciei a missão.

Guedes repetiu que o FMI fez uma “lambança” no ano passado com previsões do desempenho da economia brasileira: uma queda de 9,1%, quando o dado efetivo foi uma retração de 4,1%, afirmou.

— O FMI fez uma lambança — afirmou ele, acrescentado: — O FMI veio ao Brasil. E eu descredenciei a missão.


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