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Amazonas

MP-AM decide apurar troca de apoio de facção criminosa a José Melo

O Ministério Público do Amazonas (MP-AM) vai apurar “suposto ato de improbidade administrativa” em negociação do então subsecretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Carliomar Brandão, em nome e em benefício do então governador do Estado José Melo de Oliveira, com José Roberto Fernandes Barbosa, o “Zé Roberto da Compensa”, chefe de uma facção criminosa. A conversa tratava de apoio político nas Eleições de 2014 para a reeleição do governador, em troca de favorecimentos aos membros da facção.

A Portaria de instauração do inquérito civil foi publicada foi assinada no último dia 23 de julho e publicada no Diário Oficial do MP-AM do dia 8 de agosto, pelo promotor da 78ª Promotoria de Justiça Especializada na Proteção do Patrimônio Público, Ronaldo Andrade, pelo menos dois anos após as primeiras notícias sobre a conversa de Carliomar com Zé Roberto. Os investigados são José Melo e Carliomar.

A conversa mais parece um bate-papo informal entre amigos em uma mesa de bar. O teor revela uma relação promíscua entre o poder e o crime. O encontro se deu dentro do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), a maior unidade prisional do Amazonas. São cerca de 30 minutos de uma gravação feita por um dos presentes ao encontro.

“Vamos apoiar o Melo, entendeu? A cadeia…vamos votar minha família toda, lá da rua, entendeu? Não tem nada não, a gente não conhece o Melo (trecho inaudível), a gente quer dar um alô, que ele não venha prejudicar nós. E nem mexer com nós”, diz o traficante Zé Roberto. A resposta vem do subsecretário Carliomar: “Não, ele não vai, não”. E esse acordo fica explícito: “A mensagem que ele mandou para vocês, agradeceu o apoio e que ninguém vai mexer com vocês, não”. Durante boa parte do tempo é Zé Roberto quem fala. Em vários trechos o criminoso confessa assassinatos de inimigos ou de quem não reza pela cartilha da quadrilha que controla.

Quando o assunto é política, entretanto, mostra-se receptivo e faz promessas como se fosse um cabo eleitoral. “Tá vendo o que está acontecendo em Santa Catarina (vários ataques)? É o comando dos caras, que estão rodando lá por causa do governo dos caras. Tá vendo aqui, a cadeia tá tudo em paz porque o governo daqui não mexe com nós”, afirma o criminoso num dos trechos, no que ouve a resposta de Carliomar: “O que ele quer é isso, é a cadeia em paz”. O major, em momento algum, fala o nome do governador José Melo na gravação. Ele admitiu o encontro, e disse ter ido ao local em missão oficial: “Comuniquei ao secretário porque tínhamos informações de que haveria um banho de sangue lá dentro da cadeia, e fomos tentar conversar para evitar isso”, disse, negando qualquer intenção eleitoreira.

Mas a gravação é clara em outros trechos de que, sim, trata-se de um acordo entre governo e o crime organizado amazonense. Zé Roberto fala das condições precárias, de algumas regalias e diz que ele próprio, se quisesse, poderia fugir. “A mensagem que ele mandou para vocês, agradeceu o apoio e disse que ninguém vai mexer com vocês, não”, afirma Carliomar na conversa. Zé Roberto faz uma projeção sobre o número de eleitores que conseguirá angariar para José Melo no seguinte diálogo: “Eu acho que de voto ele vai ter de nós mais de cem mil votos”, diz, completando: “Você imagina cada preso que tem família lá, se a gente der uma ordem eles vão cumprir. Não é igual aqueles caras que se der 100 reais que diz que vai votar e não vota. O nosso vai votar no Melo porque nós mandemos (sic)”, afirma. A resposta do subsecretário é seca: “Certo, tô sabendo”.

Na instauração do inquérito, o promotor que o prazo do referido Procedimento Preparatório se esgotou sem que tenham sido concluídas todas as diligências necessárias “ao deslinde do fato apurado”. E determina “que se proceda ao registro desta conversão na Planilha de Controle de PP / IC desta Promotoria de Justiça, bem como à publicação desta Portaria no DOMPE (Diário Oficial do Ministério Público do Estado).


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