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Novo centro de pesquisa vai mapear saúde na Amazônia com estudo inédito sobre populações vulneráveis

O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia IARA-Saúde , sediado na sede da USP, em São Paulo, vai descrever o perfil epidemiológico das populações da região amazônica, em especial ribeirinhos, quilombolas, indígenas e extrativistas.

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Um novo centro de excelência científica, sediado no Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica (CPCE) do Hospital Universitário (HU) da USP, no campus da capital, terá como missão diminuir o impacto das doenças crônicas nas populações da região amazônica. Chamado Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Investigação Ampla na Região Amazônica de Saúde (IARA-Saúde), o centro foi aprovado na chamada pública 19/2024 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que busca apoiar projetos de pesquisa em rede que contribuam de forma significativa para o desenvolvimento científico, tecnológico e a inovação na Região Amazônica Legal, com foco em sustentabilidade e abertura à inovação social.

“O sucesso inicial do IARA-Saúde, ao ser escolhido num certame concorrido para os INCTs, se deve à rápida mobilização de pesquisadores da região amazônica”, explica o coordenador do projeto, Paulo Andrade Lotufo, da Faculdade de Medicina (FM) e do Hospital Universitário (HU), ambos da USP. Ele explica que o projeto reúne mais de 100 pesquisadores de 27 universidades federais, estaduais e institutos de pesquisa dos nove estados da Amazônia e da USP.

O foco do instituto será descrever o perfil epidemiológico das populações da região amazônica, em especial ribeirinhos, quilombolas, indígenas e extrativistas, em articulação com o Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), além de organizações civis e instituições federais de ciência e tecnologia. O objetivo é compreender os principais fatores de risco, adoecimento e cuidado relacionados às doenças crônicas entre as populações amazônicas.

Com um investimento de R$ 9 milhões em recursos públicos, o IARA-Saúde financiará estudos epidemiológicos, aquisição de equipamentos para centros de pesquisa locais, além de capacitação de cientistas locais com concessão de bolsas. “A participação das Fundações de Apoio à Pesquisa dos nove estados da região amazônica será fundamental no apoio aos pesquisadores de seus próprios estados”, destaca Lotufo.

A atuação do novo INCT também implicará apoio dos Ministérios da Saúde (MS), da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), da Educação (MEC), do Esporte (Mesp), da Agricultura e Pecuária (Mapa), do Planejamento e Orçamento (MPO) e da Defesa (MD), em áreas específicas. O projeto contará ainda com a colaboração de institutos federais, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os Institutos Nacionais de Pesquisa da Amazônia (Inpa) e de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI Renato Archer), o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), além do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Instituto Evandro Chagas.

Pesquisa em saúde e aplicação cotidiana

A primeira fase do projeto envolverá servidores e técnicos de mais de 130 campi das universidades da região amazônica, com a realização de um estudo de prevalência de morbidade, dieta, saúde mental, deficiência e medidas antropométricas, fisiológicas e bioquímicas, semelhante ao aplicado no Estudo Longitudinal de Saúde (ELSA-Brasil). Os resultados permitirão comparações por gênero, etnia e local de moradia entre os campi incluídos no IARA-Saúde, além de análises frente aos dados já disponíveis do ELSA-Brasil, conforme explica o coordenador.

A segunda fase do IARA-Saúde será dedicada a quantificar e qualificar a carga de doenças e fatores de risco em populações particularmente vulneráveis. Já foram definidos locais como Alcântara (MA), município com o maior número de quilombolas; Laranjal do Jari (AP), onde está a maior favela fluvial do País; e a Reserva Extrativista Chico Mendes (AC), além de outras comunidades ainda a serem incluídas.

Paralelamente, o projeto propõe o monitoramento epidemiológico de pontos críticos nas novas rotas bioceânicas da Amazônia, como Oiapoque (AP), Boa Vista (RR), Tabatinga (AM), Guajará-Mirim (RO) e Assis Brasil (AC). A interligação do Brasil com países sul-americanos deve ampliar a circulação de pessoas, mercadorias, vetores e patógenos entre diferentes biomas, o que exigirá vigilância permanente nos locais por onde passará uma das rotas.

O processo de inovação terá dois eixos: linhas de cuidado na Atenção Primária à Saúde e implementação de métodos diagnósticos e de tratamento na região. O conhecimento obtido nas pesquisas epidemiológicas permitirá a aplicação no cotidiano da Atenção Primária, em sintonia com as esferas locais do SUS e com as comunidades, especialmente as mais vulneráveis. As abordagens para diagnóstico rápido e tratamento de doenças prevalentes poderão ser testadas em laboratórios já existentes nas universidades da região amazônica.

Formação e participação ativa

Lotufo ressalta que o IARA-Saúde também tem como objetivo ampliar a formação de recursos humanos na região, oferecendo bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, em perspectiva inclusiva com cotas específicas para indígenas, quilombolas e populações ribeirinhas. “Todos os participantes da pesquisa receberão treinamento em princípios éticos, epidemiologia, antropologia, sociologia e políticas públicas, com atenção especial às questões ambientais”, diz.

Ainda é considerada a internacionalização do projeto, que ocorrerá em parceria com universidades da América do Sul, principalmente da Colômbia, Peru e Bolívia, e também com a França, devido à proximidade com a Guiana Francesa. Além disso, o instituto estará aberto a financiamentos de agências do Hemisfério Norte, dentro dos objetivos do INCT.

De acordo com o coordenador, o IARA-Saúde vai buscar, desde o início, atuar junto às populações originárias para garantir sua participação ativa na formatação do estudo, evitando a tradicional posição passiva de apenas receber informações. Esse desafio será acompanhado por material de divulgação voltado ao público em geral, incluindo podcasts, vídeos e manuais de pesquisa.


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