Amazonas
Pavimentação da BR-319 gera bate-boca entre ministra Marina Silva e senadores do Amazonas
Senador Plínio Valério disse que a ministra não merecia respeito; antes, houve discussão com senador Omaz Aziz, da base de Lula.

Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, se retirou da sessão após discutir com senadores. (Foto:Reprodução)
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou a Comissão de Infraestrutura do Senado nesta terça-feira (27/5) após bate-boca com senadores e embates sobre a pavimentação da BR-319, estrada que liga Porto Velho a Manaus.
De acordo com o jornal O Globo, Marina Silva deixou a sessão depois que o líder do PSDB, senador Plínio Valério (AM), afirmou querer separar a mulher da ministra porque a primeira merecia respeito e a segunda, não. A ministra disse que só continuaria na comissão se houvesse um pedido de desculpas. Plínio se recusou. Em março, disse ter vontade de enforcar a ministra.
— Ao olhar para a senhora, eu estou vendo uma ministra, não estou vendo uma mulher. A mulher merece respeito. A ministra não. Por isso eu quero separar. — disse Valério, nesta terça.
Marina, então, se retirou da Comissão afirmando que não havia respeito por parte do parlamentar, já que havia sido convidada como ministra.
— Eu fui convidada como ministra, então tem que respeitar. Eu me retiro porque eu não fui convidada por ser mulher.
Ao sair da Comissão, Marina citou o episódio em que o senador Plínio afirmou em março que tinha vontade de enforcá-la. A ministra citou ainda os embates sobre a nova Lei de Licenciamento ambiental, aprovada pelo Senado na última semana, e que não poderia ter tido outra atitude que não fosse deixar a Comissão.
— Ouvir um senador dizer que não me respeita como ministra, eu não poderia ter outra atitude. Ele é uma pessoa que disse que da outra vez que eu vim aqui como convidada foi muito difícil para ele ficar 6h10 comigo sem me enforcar, e hoje veio de novo para me agredir…. Além de pessoas que atribuem a mim responsabilidade que são deles. Dizer que a demolição da legislação ambiental praticada pelo Senado, com relatório aprovado, é responsabilidade minha é não querer honrar o voto que os elegeu. Quem tem mandado de Senador e deputado vota pelas convicções que tem, não porque alguém obrigou.
Ao sair da Comissão, Marina entrou em uma reunião com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para tratar sobre o projeto de licença ambiental que agora será debatido pela Câmara.
Outras discussões
Anteriormente, na mesma sessão, a ministra e o senador Marcos Rogério (PL-RO), presidente da comissão, também haviam discutido.
Marina Silva afirmou ter se sentido ofendida por falas do senador Omar Aziz (PSD-AM), da base do governo Lula, e questionou a condução dos trabalhos feita por Marcos Rogério. Ele ironizou:
— Essa é a educação da ministra, ela aponta o dedo…
A ministra disse que Marcos Rogério gostaria que ela “fosse uma mulher submissa”.
— Eu tenho educação. O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa. Eu não sou.
Rogério, então, rebateu:
— Me respeite, ministra. Se ponha no teu lugar — respondeu Rogério.
Discussão sobre BR
Durante a discussão anterior, Aziz acusou a ministra de “atrapalhar o desenvolvimento do país” por questões ambientais. Marina, por sua vez, afirmou que defende o desenvolvimento econômico com sustentabilidade e que explorações ambientais ilegais e suas consequências são “concretos”.
O senador citou mais de 5 mil obras que estariam paradas por entraves ambientais. A mais comentada foi a BR-319, que liga Manaus a Porto Velho e enfrenta um impasse com ambientalistas. Por um lado, asfaltar a rodovia — o que já foi prometido pelo presidente Lula — , pode facilitar a integração da região e questões econômicas. Por outro, pode facilitar o desmatamento e ameaçar a biodiversidade da região.
— A senhora atrapalha o desenvolvimento do país. Lhe digo isso com a maior naturalidade do mundo. A senhora está atrapalhando o desenvolvimento do nosso país. Tem mais de 5 mil obras paradas por causa dessa conversinha ‘governança’, nhe nhe nhe
Marina, por sua vez, defendeu a realização de estudos de impacto ambiental e afirmou que há picos de atividade ilegal na região quando o tema da BR-319 volta a ser discutivo.
— Desde o processo em que vem se discutido o anúncio da estrada, quando se fala da estrada a primeira coisa que tem é uma corrida de grilarem. Por isso o que se propõe desde lá é a avaliação ambiental estratégica. Qual é o problema de fazer? De ter governança? Estamos propondo desde sempre, por que não faz? Agora o ministro Renan (dos Transportes) está trabalhando para fazer, porque é isso que dá segurança aos empreendimentos (…) Não é questão ideológica. Desmatamento, exploração ilegal de madeira, garimpo ilegal é objetivo.
Marina também afirmou que o tema é complexo e por isso não teve solução ao longo dos 15 anos em que ficou fora do governo.
— Temos visões que podem ser diferentes, mas gostei de uma equação que vossa excelência coloca: que não é conversa fiada, mas coisa concreta (…) Uma coisa é concreta, concretíssima. O debate da 319 virou um debate em cima de bode expiatório, que chama Marina Silva. É concreto que eu saí do governo em 2008. Até 2023, são 15 anos. Porque as pessoas que são tão dadas a coisas concretas não fizeram a BR?
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já sinalizou apoio à recuperação, incluindo trechos mais críticos, mas com condicionamento ambiental. Uma das propostas é avançar com as obras em trechos já liberados por licenciamento, enquanto Ibama e o Ministério do Meio Ambiente analisam o impacto do asfaltamento completo.
Falta de apoio no governo
Marina foi ao Senado após a aprovação do projeto que muda normas de licenciamento ambiental. Dois terços dos 54 votos a favor da flexibilização (houve 13 contrários) virem da base.
A ministra já sinalizou que irá pedir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vete trechos do projeto, caso seja aprovado na Câmara, acrescentando que a mobilização popular poderia reverter as mudanças.
Entre as mudanças mais criticadas por ambientalistas, pela ministra e por sua equipe, estão a substituição do licenciamento em três etapas por uma só. O projeto também permite que comunidades tradicionais, como indígenas ou quilombolas, que sejam afetadas por empreendimentos, sejam ouvidas no processo apenas no caso de estarem em territórios já homologados.
Além disso, a proposta isenta atividades de licenciamento ao prever que empreendimentos de pequeno e médio porte e potencial poluidor poderão ter uma Licença por Adesão e Compromisso, automática e autodeclaratória.
Embora o PT tivesse orientado contra o projeto, o fato de o governo não ter trabalhado para obstruir as sessões em que a proposta avançou e no corpo a corpo com senadores foi visto como um aceno à pauta no Congresso. Outro sinal foi uma emenda do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que autoriza licenciamentos especiais para obras consideradas estratégicas pelo Conselho de Governo do presidente.
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