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Amazonas

Seca no rio Solimões, em Tabatinga (AM), revela forte do século 18 na fronteira com terra espanhola

A edificação foi erguida em 1766 ainda pela Coroa Portuguesa na região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru.

Imagens de 2010, em uma das primeiras revelações das ruínas. (Foto:Marcia Kambeba)

A seca histórica do rio Solimões fez reaparecer as ruínas do Forte São Francisco Xavier, no município de Tabatinga (AM). A localização foi informada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que visitou o local no dia 25 de outubro, fez registro de acervo inédito e decidiu incluir o local no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos, que reúne dados desse patrimônio no Brasil. As informações são do site UOL.

A edificação foi erguida em 1766 ainda pela Coroa Portuguesa na região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Segundo o Iphan, a edificação no extremo noroeste brasileiro é considerada um “marco da consolidação da fronteira brasileira na região Norte.”

Vestígios arqueológicos, como louças, vidro, material construtivo e ferroso, foram achados no local.

“Esse conjunto de vestígios nos possibilita conhecer a ocupação do local e a estrutura de edificações”, informa Jaime Oliveira, arqueólogo do Iphan.

Ocupação e proteção

Segundo estudo dos pesquisadores Ricardo José Batista Nogueira, Thiago Oliveira Neto e Fellipe Costa Barbosa, os primeiros registros sobre a ocupação dessa região são do século 16, com a expedição de Francisco Orellana. Em nome do império espanhol, ele saiu da cidade de Quito, no Equador, em 1542, e percorreu a maior parte do que hoje chamamos de rios Maranon, Solimões e Amazonas.

Ainda segundo os pesquisadores, esses exploradores chegaram ao oceano Atlântico e fizeram crônicas descrevendo os inúmeros povos, ambientes e territórios desbravados.

Apenas um século depois é que uma expedição brasileira, de Pedro Teixeira, partiu da cidade de Belém, na foz do rio Amazonas, fazendo o primeiro percurso inverso e deixando isso registrado.

Segundo os registros históricos do Exército, o forte tinha a função de posto militar, mas era usado especialmente para coibir o contrabando de mercadorias. Inicialmente, ele foi destinado a inspecionar canoas que se dirigiam à povoação espanhola de San Pablo de Loreto, no Peru.

O Exército explica que o local ficava ao lado de uma aldeia construída por jesuítas, provavelmente em 1710. O forte teria servido como demarcação da fronteira noroeste do Brasil, “assim defendendo de ataques espanhóis aquela região.”

Quem determinou a construção do local foi o governador do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Fernão da Costa de Ataíde Teive Souza Coutinho. Ele tinha um hexágono irregular, com madeira grossa e sete palmos de projeção vertical.

“A fortificação de Tabatinga, mesmo precária, teve o seu papel de importância, tendo em vista reclamações espanholas sobre aquele espaço territorial”, informa Graciete Guerra da Costa, na publicação Fortes Portugueses na Amazônia Brasileira.

Não era para guerra

Um detalhe que Jorge Oliveira ressalta é que a edificação, assim como outras no Amazonas, não tinha estrutura imponente, ou seja, não foi feita como estratégia de defender o país em uma eventual situação de guerra.

“Essas construções do século 18 tinham mais a meta de contribuir com a consolidação do território e da fronteira atual. Elas eram feitas inicialmente de palhas de madeira, e só posteriormente foram criando estrutura de alvenaria”, diz Jaime Oliveira, arqueólogo do Iphan

Jaime explica que o rio Solimões sofreu, como outros rios da Amazônia, um processo de mudança de curso ao longo dos anos. Por isso, o material achado agora pelo Iphan possui grande relevância arqueológica.

“Isso cria o fenômeno das terras caídas, que são situações em que o rio sofre desbarrancamento nas suas laterais, fazendo com que antigos locais de ocupação, sejam pré ou pós-coloniais, se tornem áreas alagáveis do rio. Por isso o forte e outros sítios ficam parcialmente cobertos por água”, informa Jaime Oliveira

O forte guardava nove peças de artilharia, das quais restam cinco: duas estão expostas no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro e três, no Quartel do Comando de Fronteira do Solimões, do Exército Brasileiro. Na última semana, técnicos do Iphan vistoriaram as ruínas do forte.

Forte desabou

O forte existiu até 1889, quando foi desocupado. Em 1910, ele foi reocupado por tropas do Exército, que ficaram ali por 22 anos até que enchentes no rio Solimões derrubaram o local em 1932.

Em 1949, o local passou a abrigar uma nova edificação do 5º Pelotão de Fronteira. Vinte anos depois, virou o Comando de Fronteira Solimões.

A partir de 1992, ele passou a ter a atual denominação (Comando de Fronteira Solimões/8º Batalhão de Infantaria de Selva), hoje subordinado à 16ª Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Tefé. O local também é conhecido como Batalhão Forte São Francisco.

Revelação sobre ocupação portuguesa no Amazonas

O pesquisador e geógrafo da Universidade Federal do Amazonas, professor Ricardo José Batista Nogueira, disse para o site 18 Horas/Rádio Mix, que a revelação das ruínas, agora, não é algo inédito. A construção já apareceu, antes, em outros momentos de seca extrema da Bacia Amazônica. No entanto, a cada aparição, há uma contribuição para as pesquisas.

“A descoberta das ruínas do forte construído pelos portugueses tem muito a revelar sobre a atuação dos portugueses na Amazônia. Revela as estratégias que os portugueses montaram para a construção de fortes em toda a Amazônia, pois ainda existem o Forte do Príncipe da Beira, no rio Guaporé (Mato grosso e Rondônia); o Forte do Presépio, em Belém e outra fortaleza em Macapá, defendendo a entrada no rio Amazonas. Este, em Tabatinga, define a fronteiras entre as terras de Espanha e Portugal”, explicou.  As ruínas, segundo o pesquisador, permitem buscar novas histórias e identificar os materiais usados na construção, entre outras informações. “É um marco para a história do Amazonas e para a formação territorial do Brasil”, disse.


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