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Anderson Torres nos EUA: o que diz a Gol sobre o embate entre PGR e ex-ministro em torno da viagem

Ministério Público questiona autenticidade de passagem aérea

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Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

A Procuradoria-Geral da República identificou possível falsidade no documento usado pelo ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, para justificar sua viagem aos Estados Unidos nos dias que antecederam os ataques de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.

De acordo com as alegações finais protocoladas pela PGR no Supremo Tribunal Federal (STF), o bilhete aéreo apresentado pela defesa de Torres não corresponde aos registros da companhia Gol Linhas Aéreas.

Segundo o documento, a defesa anexou apenas um “print” da suposta passagem, que teria sido emitida em novembro de 2022. Não foi apresentado o bilhete de forma autônoma nem qualquer comprovante de compra. Segundo a companhia aérea informou ao Ministério Público oficialmente, nenhuma passagem vinculada ao nome de Anderson Torres foi localizada com esse código.

A Gol informou que o localizador “MYIDST”, citado pela defesa, “não condiz com os dados descritos em nome de Anderson Gustavo Torres” e que não foram encontrados voos no trecho Brasília-Orlando, no voo G3-9460, em nome do ex-secretário.

Procurada, a Gol declarou que não vai comentar o caso. Mas, segundo apuração do Globo, a empresa identificou no sistema que o nome de Anderson Torres aparece como “no show”, classificação dada aos passageiros que não embarcam em seus voos designados.

Para a PGR, a constatação levanta “grave suspeita” sobre a veracidade das informações prestadas e “reforça a gravidade da conduta do réu à época dos crimes”, podendo inclusive justificar a adoção de novas providências criminais.

A procuradoria afirma ainda que a tentativa de comprovar a viagem com um documento possivelmente fraudulento compromete a versão de que a ausência de Torres havia sido planejada com antecedência.

“A escandalosa constatação coloca em xeque a versão do réu de que sua viagem já se encontrava agendada desde muito antes e confirma a sua estratégia deliberada de afastamento e conivência com as ações violentas que se aproximavam”, diz um trecho do relatório.

Além disso, o Ministério Público ressalta que não houve comprovação de que a viagem tenha sido previamente comunicada ao então governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, como alega a defesa.

O episódio do bilhete integra um conjunto de evidências citadas pela PGR para sustentar a acusação contra Anderson Torres pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e omissão dolosa que teria contribuído para a eclosão dos atos de 8 de janeiro.

O que diz a defesa
A defesa de Anderson Torres sustenta que não houve qualquer conduta criminosa relacionada à sua ausência no dia dos ataques. Os advogados alegam que a viagem aos Estados Unidos estava planejada previamente, durante o período de transição de governo, e que Anderson não ocupava função no Executivo Federal desde o fim de dezembro de 2022.

Para os defensores, a acusação é infundada e ignora que o então governo de Jair Bolsonaro ainda estava em exercício até o final de 2022, o que tornaria incabível imputar a Torres participação em atos voltados à abolição do Estado Democrático de Direito naquele período.

Em reação à suposta inconsistência no localizador da passagem, a defesa de Anderson Torres protocolou uma petição no STF, na qual contesta a tese da PGR e apresenta documentação detalhada que, segundo os advogados, comprova a veracidade da viagem. Os advogados classificam a acusação de “absolutamente injusta, infundada e abusiva”, afirmando que ela ignora provas já anexadas aos autos desde janeiro de 2023.

“A respeito do localizador da reserva, precisa ficar claro que é um localizador de 21/11/2022. Esse localizador, se consultado agora, depois de quase 3 anos, ou não existirá, ou é reaproveitado, uma vez que são 6 dígitos e, com o tempo, as combinações se esgotam, e são reiniciadas”, afirma a defesa.

Entre os documentos apresentados estão: uma declaração formal do agente de viagens Leandro Anderson Sofka, da empresa Viagens Pimentur Ltda; o plano de viagem da Gol, com o localizador “MYIDST” e status de emissão em 21 de novembro de 2022; os números dos bilhetes que teriam sido emitidos para Anderson Torres e seus familiares; uma fatura do sistema BSP-IATA, que é a plataforma oficial de liquidação entre agências e companhias aéreas; e também a reserva de aluguel de veículo em nome de Torres no aeroporto de Orlando, datada de 3 de dezembro.

“O que se vê é uma tentativa inaceitável de construir um enredo incriminador contra um inocente, ignorando provas documentais robustas”, escreveram os advogados na petição. Eles também argumentam que a PGR teve mais de dois anos para questionar a autenticidade dos documentos e só o fez às vésperas das alegações finais.

A participação de Anderson Torres
Anderson Torres é um dos principais investigados no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado articulada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. A PGR aponta que Torres, ao assumir o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal no início de janeiro de 2023, teve papel omissivo determinante para o êxito da invasão às sedes dos Três Poderes, uma vez que não teria mobilizado as forças de segurança para conter os ataques, apesar de ter conhecimento dos riscos.

A ausência de Torres de Brasília no dia dos ataques foi tratada, desde o início das investigações, como um elemento-chave da apuração. A descoberta de um rascunho de decreto golpista em sua residência durante busca da Polícia Federal agravou a situação do ex-secretário.

A PGR sustenta que sua atuação integrou um conjunto de ações deliberadas, por omissão e conivência, para facilitar a tentativa de ruptura institucional. O episódio da suposta passagem falsa, na avaliação do Ministério Público, se insere nesse contexto e corrobora a tese de que sua viagem aos Estados Unidos foi uma manobra para se esquivar da responsabilidade durante os atos golpistas de 8 de janeiro.

 

 

Com informações da Folha de Pernambuco


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