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Rosatom descarta Angra 3, quer fabricar radiofármacos e levar reator à Amazônia

A ideia da estatal russa da área nuclear é construir uma fábrica de radiofármacos de padrão internacional para vender no Brasil e países da América Latina.

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A estatal russa da área nuclear Rosatom quer aumentar a presença no Brasil e já conversa com o governo brasileiro para expandir seus negócios, disse ao Broadcast do jornal Estado de São Paulo o presidente da empresa para América Latina, Ivan Dybov. Fornecedora de metade dos isótopos utilizados no País para produção de fármacos usados no tratamento de câncer, a empresa russa pretende investir R$ 20 milhões em uma fábrica de radiofármacos em São Paulo, com parceiros privados ou estatais. No momento, a empresa conversa com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) sobre o projeto.

“Estamos dispostos a oferecer nossos conhecimentos, nossos investimentos para fazer isso junto. Mas também falamos com empresas privadas brasileiras, algumas interessadas em desenvolver esse mercado, como redes hospitalares daqui. É um negócio interessante, não vou falar nomes porque eles são concorrentes, mas nós estamos bastante felizes de como estão indo as coisas. O mercado de radiofármacos está muito interessante para nós e vamos formar alguma parceria em breve”, afirma Dybov, destacando que os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro são bem atendidos nesse segmento, mas o Nordeste ainda é carente de fornecimento.

A ideia é construir uma fábrica de radiofármacos de padrão internacional para vender no Brasil e países da América Latina, utilizando em um primeiro momento os isótopos fornecidos pela Rosatom. Os isótopos são produzidos por reatores nucleares pequenos e, segundo Dybov, o Brasil poderá começar a produzir a matéria-prima desses medicamentos quando o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) for concluído, o que ainda levará tempo, apesar de ter sido incluído recentemente na lista do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

“O Brasil fala disso [RMB] há muito tempo, e agora está avançado porque foi colocado na lista do PAC, agora tem fundos para isso. Mas precisa de tempo para realizar, tecnologia para produzir os isótopos no laboratório, é um prazo longo e, enquanto isso, o mercado precisa ser abastecido e nós temos grande interesse no mercado brasileiro”, explica.

Usinas nucleares brasileiras

Mas se a medicina nuclear aponta um futuro promissor para a Rosatom no Brasil, a venda de urânio enriquecido ainda é o maior negócio da companhia no País. No final de 2023, a estatal assinou um novo contrato para fornecimento do combustível para as usinas Angra 1 e Angra 2, no Rio de Janeiro, por cinco anos. Na semana passada, a empresa trouxe 21 toneladas do combustível para abastecer Angra 1.

Os planos de entrar no projeto de construção de Angra 3 já foram totalmente descartados, informa Dybov, já que a usina está quase toda pronta, “e não há nada para fazer”. Mas novos projetos de pequenos reatores modulares (Small Modular Reactors) flutuantes para atender regiões remotas, como a Amazônia, também estão na pauta das conversas de Dybov com o governo brasileiro.

“Para o mercado de maneira geral, é bom que Angra 3 seja concluída, porque vamos fornecer mais urânio e o mercado vai crescer, mas pensamos que agora no Brasil e em outros países existe uma discussão muito forte de usar pequenos e médios reatores nucleares”, informa, explicando que já existem conversas em andamento dentro do governo para permitir a participação de investidores privados na construção de pequenos reatores nucleares.

Segundo o presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares do Brasil (Abdan), Celso Cunha, no caso da produção de radiofármacos, a Rosatom precisaria apenas de uma autorização para realizar parceria com o Ipen, enquanto os pequenos reatores nucleares podem ser construídos pela empresa, mas teria restrições na operação. Para ajudar a estimular a construção dessas unidades no País, a Abdan pretende propor, ainda este ano, um Projeto de Lei (PL) flexibilizando o setor por meio dos parlamentares ligados ao setor nuclear.

Só Rússia tem reator flutuante em operação

De acordo com Dybov, a Rússia é o único país que tem um reator nuclear em operação flutuante no momento. A vantagem da utilização do modelo na Amazônia, em contraponto a usinas eólicas ou solares, na avaliação do executivo, seria evitar o desmatamento que as fontes em terra poderiam causar. O projeto foi apresentado à Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) e à Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep).

“Tem plano de governo para não emitir mais CO2 na Amazônia e ao mesmo tempo tem planos para desenvolver a região amazônica, planos de parar o desmatamento. Acho que essa usina flutuante poderia funcionar por lá”, avalia, indicado que a parte flutuante, ou seja, a embarcação que sustenta o reator, poderia ser construída em estaleiros brasileiros.

Ele refutou a ideia de haver possíveis riscos da operação de um reator nuclear no meio da Amazônia, informando que há 30 anos a Rússia usa a tecnologia em áreas remotas para quebrar gelo. Atualmente, a única usina nuclear flutuante do mundo abastece a cidade russa de Pevek.

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