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Papa reage a comentário sarcástico sobre plumas indígenas dentro do Sínodo para a Amazônia

Francisco se disse ‘entristecido’ e afirmou que ornamento é equivalente aos chapéus utilizados dentro da liturgia católica.

Em mais um gesto de deferência aos povos indígenas durante o Sínodo para a Amazônia, no Vaticano, o papa Francisco afirmou não ver diferenças entre as plumas usadas na cabeça por algumas dessas populações e os chapéus utilizados na liturgia católica. O pontífice também criticou o que chamou de “colonização ideológica” destes grupos.

As declarações foram realizadas na abertura dos debates desta segunda-feira. O papa foi aplaudido pelos cerca de 250 participantes ao fazer a analogia entre o adereço indígena e os elementos católicos e se disse motivado por um comentário dentro do próprio evento.

“Me entristeceu ouvir, aqui mesmo, um comentário sarcástico sobre um homem devoto que carregava oferendas com plumas na cabeça. Me digam: qual é a diferença entre ter plumas na cabeça e o chapéu de três pontas utilizado por certas hierarquias em nossos dicastérios?”, questionou Francisco.

O papa também reagiu contra as “palavras ofensivas” direcionadas aos povos originais e rechaçou as “colonizações ideológicas”, que classificou como destrutivas ou redutoras. “Os povos amazônicos possuem entidade própria, sabedoria própria, consciência de si. Eles têm uma maneira de ver a realidade e tendem a ser protagonistas da própria história”, declarou Francisco.

Na abertura das discussões, o pontífice já havia alertado que a aproximação com os indígenas não deve ser abordada no tom de “domesticação”: “Que nos aproximemos (dos indígenas) sem o afã empresarial de fazer programas pré-confeccionados de disciplinar os povos amazônicos, disciplinar sua história e cultura. Isso não. Quando a Igreja se esqueceu disso, de como tem que se aproximar de um povo, não o inculturou. Inclusive, chegou a menosprezar certos povos”.

A linha de seus discursos, bem como o conteúdo do documento de trabalho que norteará a resolução do sínodo, tem incomodasdo os setores ultraconservadores da Igreja, mas o pontífice defendeu que os bispos se sintam livres para redigir seu próprio documento final.

O “instrumentum laboris” (“documento de trabalho”, em latim) surgiu de uma ampla consulta aos povos indígenas da Amazônia. Bem-humorado, Francisco se referiu ao texto como “mártir, destinado a ser destruído”, e provocou risadas entre os presentes.

A assembleia discute se o catolicismo deve conjugar sempre e em todos os lugares como símbolo da cultura romana e latina ou, por outro lado, se a crença pode ser interpretada à sua maneira sem negar outras culturas.

O relator do sínodo, o cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, também discursou e trouxe à tona pontos polêmicos para as alas ultraconservadoras.

“Será necessário definir novos caminhos para o futuro. Na base da escuta, comunidades locais, missionários e comunidades indígenas pediram que, reafirmando o grande valor do carisma do celibato na igreja, se abra caminho para ordenação presbiteral de homens casados, que residam nas comunidades”, afirmou Hummes. “Ao mesmo tempo, diante do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia, se reconheça este serviço e se procure consolidá-lo como um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade”.

Antes do início dos trabalhos sinodais, os participantes da conferência se reuniram na Basílica de São Pedro. Representantes de povos indígenas formaram um círculo em torno de uma barca de madeira, representando a Amazônia, posicionada dentro do templo, e entoaram cantos tradicionais. O papa e os cardeais, por sua vez, cantaram um texto católico tradicional.

O pontífice recebeu, ainda, alguns presentes de indígenas que ostentavam as plumas que inspiraram seu discurso. Na sequência, todos deixaram a basílica em procissão, ao ritmo de cantos locais em espanhol sobre “os filhos da selva”, “as águas dos rios” e “a terra fecunda”.

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