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Papa critica ‘internacionalização da Amazônia’ e defende presença de ONGs na região

‘A solução não está numa ‘internacionalização’ da Amazônia, mas a responsabilidade dos governos nacionais torna-se mais grave’, diz o texto.

A solução para “o desastre ecológico enfrentado pela Amazônia” não está na “internacionalização” da região. Mas a presença de ONGs que atuam de forma crítica e fazem pressão “sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais” é legítima. As afirmações foram feitas pelo papa Francisco no documento final do Sínodo da Amazônia, divulgado nesta quarta-feira (12/02), cinco meses depois da troca de acusações e farpas entre os presidentes Jair Bolsonaro e Emmanuel Macron, da Fraça, sobre as responsabilidades pela gestão da região amazônica. As informações são do site da BBC Brasil.

No texto, o papa cita “indígenas, ribeirinhos e afrodescendentes” ao defender políticas orientadas aos povos mais pobres da região e diz que interesses colonizadores, no passado e no presente, empurram essas populações para as periferias das cidades. Ali, diz o papa, eles “não encontram uma real libertação dos seus dramas, mas as piores formas de escravidão, submissão e miséria”.

Quase 60 bispos brasileiros — junto a pares de todos os países amazônicos — participaram do Sínodo da Amazônia, realizado no Vaticano entre 6 e 27 de outubro de 2019.
Mais restritos do que os concílios, que agregam bispos do mundo todo, os sínodos são reuniões entre o papa e seus bispos de determinada região ou tema para definir estratégias da igreja nessas áreas.

A cúpula era vista com extrema preocupação pelo governo Bolsonaro, que vinha enfrentando críticas no Brasil e no exterior por suas posturas em relação à Amazônia e à questão ambiental.

“Além dos interesses econômicos de empresários e políticos locais, existem também os enormes interesses econômicos internacionais”, diz o texto final do Sínodo. “Por isso, a solução não está numa ‘internacionalização’ da Amazônia, mas a responsabilidade dos governos nacionais torna-se mais grave (…) Pela mesma razão, é louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando legítimos sistemas de pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e não-delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais.”

No texto, o papa também afirma que slogans como “não entregar” a Amazônia são erradamente associados a “países estrangeiros, quando os próprios poderes locais, com a desculpa do progresso, fizeram parte de alianças com o objetivo de devastar, de maneira impune e indiscriminada, a floresta com as formas de vida que abriga”.

O lema “integrar para não entregar” foi um dos principais motes usados na ditadura brasileira em políticas destinadas à região. “Quando algumas empresas sedentas de lucro fácil se apropriam dos terrenos, chegando a privatizar a própria água potável, ou quando as autoridades deixam mão livre a madeireiros, a projetos minerários ou petrolíferos e outras atividades que devastam as florestas e contaminam o ambiente, transformam-se indevidamente as relações econômicas e tornam-se um instrumento que mata”, diz um dos trechos mais fortes do texto do papa.

A maior autoridade da Igreja Católica diz que “não podemos permitir que a globalização se transforme num novo tipo de colonialismo” e que “a economia globalizada danifica despudoradamente a riqueza humana, social e cultural”.

“É usual lançar mão de recursos desprovidos de qualquer ética, como penalizar os protestos e mesmo tirar a vida aos indígenas que se oponham aos projetos, provocar intencionalmente incêndios florestais, ou subornar políticos e os próprios nativos. A acompanhar tudo isto, temos graves violações dos direitos humanos e novas escravidões que atingem especialmente as mulheres, a praga do narcotráfico que procura submeter os indígenas, ou o tráfico de pessoas que se aproveita daqueles que foram expulsos de seu contexto cultural.”

Em outro trecho, sem dar detalhes, o papa diz que “podem-se encontrar alternativas de pecuária e agricultura sustentáveis, de energias que não poluem, de fontes dignas de trabalho que não impliquem a destruição do meio ambiente e das culturas”.

Em uma espécie de sugestão de projeto de lei, o papa diz que “todos deveríamos insistir na urgência de criar um sistema normativo que inclua limites invioláveis e assegure a proteção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder derivadas do paradigma tecno-econômico acabem por arrasá-los não só com a política, mas também com a liberdade”.

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