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Deportação de brasileiros dos EUA dispara e já é mais que o dobro dos últimos três anos somados, diz EL PAÍS

Nos últimos 12 meses, 56.881 brasileiros foram detidos após cruzarem a pé a fronteira com o México

Em março de 2019, um carro de agentes dos EUA fiscaliza a fronteira com o México. Rota tem sido usada por brasileiros / Foto: Charlie Riedel (AP)

Quando deixou Minas Gerais no início deste ano, Leo, de 23 anos, tinha um plano: tentar uma vida melhor nos Estados Unidos, como muitos de seus conterrâneos. Mas na última sexta-feira, 22, ele voltou ao Brasil em um voo no qual passou boa parte do tempo algemado nos pés, mãos e cintura após sete meses de um pesadelo americano, em que ficou o tempo todo detido em uma cadeia.

“Nos colocaram em prisões de alta segurança e nos devolveram ao nosso país algemados. Eu, que sempre fui saudável, voltei tomando cinco antidepressivos e tive alopecia, metade do meu cabelo caiu. Foram sete meses de agonia e terror”, explicou ele à reportagem do EL PAÍS, assim que saiu no saguão do aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins. Veio num voo fretado, junto com outros brasileiros deportados após cruzarem a fronteira entre o México e os Estados Unidos.

Voos como este se tornaram frequentes na cidade desde que em outubro de 2019 a medida começou a ser implementada pelo Governo Donald Trump. Eles chegam uma vez por semana. Em agosto deste ano, já sob o governo democrata de Joe Biden, os EUA pediram a ampliação para dois voos, e a expectativa de Washington é conseguir enviar ao país três aviões semanais com deportados brasileiros. É o reflexo do aumento exponencial do número de brasileiros deportados após cruzarem a fronteira mexicana. Dados obtidos pelo EL PAÍS apontam que nos últimos 12 meses o número de brasileiros detidos nesta situação já é mais do que o dobro do registrado nos três anos anteriores somados.

Os números são da U.S. Customs and Border Protection (CBP) ou Serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras, em português, órgão dos EUA responsável pelo patrulhamento das divisas e apreensão de imigrantes ilegais. No período que constitui o ano fiscal americano, que vai de outubro de 2020 a setembro de 2021, 56.881 brasileiros foram detidos após cruzarem a pé a fronteira com o México. No ano fiscal de 2020 haviam sido 7.161, por aparente impacto da pandemia. Um ano antes, em 2019, foram 17.893, um salto significativo em relação a 2018, quando foram registrados 1.504. São pessoas de diversas idades e origens que buscam atravessar a extensa fronteira por mar, pelo deserto ou se entregando na imigração norte-americana para pleitear um pedido de asilo.

O êxodo de brasileiros em busca de oportunidades de trabalho nos últimos três anos se junta ao movimento de outros povos latino-americanos, que levaram os EUA a uma das maiores crises migratórias da história. Há uma aumento recorde no número de pessoas que tentam entrar no país pela fronteira mexicana —o maior dos últimos 20 anos, de acordo com o secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas. A crise fez o democrata Biden, que durante a campanha fez críticas ao seu antecessor pela desumanidade no tratamento aos imigrantes, seguir a mesma linha. As imagens dramáticas de imigrantes haitianos sendo laçados, no mês passado, por guardas de fronteira montados a cavalo rodaram o mundo.

A situação brasileira também preocupa as autoridades mexicanas. Este mês o Governo do presidente Andrés Manuel López Obrador anunciou que em breve será retomada a exigência de visto de entrada para turistas brasileiros no país. Desde 2004, as duas nações possuem um acordo pelo qual bastava a apresentação do passaporte para garantir o acesso. Ainda não existe uma data para que a restrição entre em vigor —o projeto está em fase de consultas. De acordo com o texto apresentado, a medida será temporária, e terá como objetivo impedir a entrada de viajantes “cujo perfil não corresponde ao do visitante ou turista genuíno”. Ainda segundo a legislação, alguns brasileiros “apresentam inconsistências em sua documentação (…) o que reforça a possibilidade de que um número significativo de pessoas pretende usar a isenção de visto de forma indevida”.

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