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Economia

Preço elevado e juros altos inviabilizam o sonho do carro zero km, mostra pesquisa

Os preços dos carros já vinham registrando aumento, mas foi de 2020 para 2021 que ocorreu o maior salto.

O sonho de adquirir um carro zero quilômetro se torna cada vez mais distante para a maioria dos brasileiros. Uma pesquisa realizada pela Jato Dynamics aponta que o preço médio de um veículo no país saltou de R$ 76 mil em 2019, para R$ 140 mil no começo de 2023. A alta tem impactado diretamente a capacidade de compra dos consumidores.

Os carros zero mais baratos do mercado brasileiro hoje são o Renault Kwid e o Fiat Mobi, ambos comercializados por R$ 68.990,00 — o que corresponde a quase quatro anos e meio do valor atual do salário mínimo. Em 2019, o carro zero mais barato era o Cherry QQ Smile, encontrado na época por R$ 31.019. Houve um aumento de 122% nos preços dos modelos mais baratos de 2019 e 2023.

Os preços dos carros já vinham registrando aumento, mas foi de 2020 para 2021 que ocorreu o maior salto. Segundo a professora de economia Luiza Sampaio, a principal causa para o encarecimento dos veículos foi a pandemia. “Os insumos, que são usados na produção dos veículos, sofreram uma redução na produção durante a crise sanitária. Com a instabilidade, o preço desses itens ficou maior e essa diferença foi repassada ao consumidor final”, explica.
Sampaio também aponta a inflação e a alta do dólar como fatores que influenciaram os preços. “Muitas peças que são utilizadas na produção dos carros são importadas. Então a variação do dólar influencia diretamente no valor dos veículos”, acrescenta ela. “E os preços dos veículos também acompanham a variação do mercado que é medida pela inflação”.

Financiamento

O que era considerado uma opção mais acessível para alguns, hoje fica fora de alcance. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas financiadas, que historicamente sempre se mantiveram na casa dos 70%, neste ano representam apenas 33% do total de automóveis e comerciais leves vendidos.

De acordo com a lei, o limite de renda necessário para se qualificar a um financiamento de veículo é de 30%. Ou seja, se alguém recebe um salário mínimo — R$ 1.320 —, a prestação máxima a ser paga mensalmente será de R$ 396. O site do consórcio Renault aponta que o financiamento do Kwid, carro mais barato do ano, é feito em parcelas a partir de R$ 469,90.

Os juros altos também prejudicam a operação. O Brasil tem atualmente a maior taxa real do mundo, explica Sampaio. “Quando você pede o financiamento, paga com juros e correção monetária. Esses juros estão a 13,75%. Então se você conseguir um financiamento, as parcelas serão calculadas por esse percentual”. Assim, com as taxas de financiamento elevadas, em determinados casos, o valor total pago pode chegar ao dobro do preço do automóvel.

Já o economista Alex Sander Agrellos afirma que uma das causas que dificulta o financiamento é a queda na renda dos brasileiros. “Os salários vêm caindo e a inadimplência aumentando. Isso impede que a maioria dos brasileiros tenham condições de financiar carros novos ou usados”, explica. O economista também lembra que uma das regras para conseguir o crédito é ter o “nome limpo”, ou seja, não possuir registro em cadastros negativos de crédito e ter renda suficiente para dar como entrada.

Mercado de usados e seminovos

O mercado de carros usados e seminovos é cada vez mais popular entre os brasileiros. Com o carro zero mais barato do mercado custando quase R$ 70 mil, muitos brasileiros veem nessa categoria a oportunidade de trocar de carro ou comprar o primeiro veículo.

Segundo a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), somente nos quatro primeiros meses de 2023 foram vendidos mais de 2.7 milhões de veículos dessa categoria. Esse número representa um crescimento de 5,66% em relação ao mesmo período do ano anterior, demonstrando a crescente procura por esses veículos.

Uma das principais vantagens do mercado de carros usados e seminovos é o preço mais acessível. Com o mesmo valor que seria utilizado para comprar um modelo zero mais básico, o consumidor consegue adquirir um veículo usado ou seminovo moderno, completo e com opcionais. Essa categoria também oferece uma ampla variedade de modelos, marcas e anos de fabricação. O consumidor pode optar desde carros mais populares até modelos mais luxuosos e esportivos.

Mas apesar das facilidades, é bom ficar atento. De acordo com um levantamento da consultora Olho no Carro, os itens que mais dão problema nessa categoria são: carros com leilão; carros batidos; fraudes e adulterações; históricos negativos como roubo anterior, número de donos; e custo de manutenção e preço de peças.

Há ainda uma questão recorrente relacionada aos carros luxuosos com mais de 80 mil km rodados, conhecidos popularmente como “resto de rico”. A princípio, os veículos podem parecer atraentes e um bom negócio pelo baixo preço, comparado aos zero km, mas podem esconder algumas pegadinhas como o alto valor de manutenção, as peças caras e os seguros altíssimos.

Por isso, é crucial fazer uma avaliação criteriosa sobre a origem do veículo e do vendedor antes de efetuar a compra. Obter informações detalhadas sobre o histórico, acidentes e proprietários anteriores também é fundamental. Além disso, é indicado que seja feita uma inspeção minuciosa no carro, de preferência com um mecânico de confiança, para que possam ser identificados eventuais problemas.

Diminuição dos preços

Os consumidores que planejam comprar um carro ainda este ano podem ficar mais tranquilos. De acordo com a professora Luiza Sampaio, com a normalização da produção nas fábricas, há uma expectativa de queda de até 20% nos preços. Outro fator importante, explica ela, é que as locadoras de veículos estão renovando as frotas este ano, o que aumenta a quantidade de carros usados no mercado, diminuindo seu valor.

Mas não é só isso. No dia 6 de maio, o presidente Lula fez um Tweet criticando o preço dos carros populares.
“No Brasil, não tem mais carro popular. Como uma pessoa pobre compra um carro de R$ 70 mil? Se já mudamos as coisas uma vez, por que não podemos mudar de novo?”

Com isso, a projeção é que sejam anunciadas uma série de medidas na próxima quinta-feira, 25, quando se comemora do Dia da Indústria. O economista Alex Sander explica que o “governo federal vai apresentar um plano para baratear os carros populares através do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços incentivando toda a cadeia de produção dos automóveis através de redução de impostos e um programa de financiamento de veículos”. Espera-se que, com essa iniciativa, os preços dos automóveis comecem a despencar ainda em 2023.

As informações são do site O Dia.

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