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Economia

Paulo Guedes fala em ‘debandada’ no Ministério da Economia com a saída de dois secretários especiais

Os empresários Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização) decidiram pedir demissão após atrasos na execução de projetos da pasta.

O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta terça-feira (11) que sua equipe econômica sofreu “uma debandada”. Dois secretários especiais pediram demissão. As informações são do jornal Folha de S.Paulo. Segundo Guedes, Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização) decidiram deixar o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Salim era o responsável pelas privatizações e Uebel pela reforma administrativa. Guedes reconheceu que os secretários estavam insatisfeitos com o ritmo da execução de seus projetos. “Hoje houve uma debandada? Hoje houve uma debandada”, disse Guedes. “Salim falou: ‘A privatização não está andando, prefiro sair’. Uebel disse: ‘A reforma administrativa não está sendo enviada, prefiro sair’. Esse é o fato, essa é a verdade”.

Se referindo ao poder de decisão da cúpula do Congresso e do presidente Jair Bolsonaro, o ministro, então, declarou: “Senhores, quem dá o timing das reformas é a política. Quem tem voto é a política”. “Se o presidente da República quiser mandar alguma reforma é mandada, se não quiser, não é mandada”, completou.

Uma proposta de reforma administrativa chegou a ser elaborado por Uebel no ano passado, mas ela sequer foi apresentada ao Congresso diante da resistência de Bolsonaro. Em relação às privatizações, a equipe econômica cita entraves políticos e também burocráticos para destravar essa área.

Escolhido para ser secretário em novembro de 2018, o empresário Salim Mattar, um dos fundadores da Localiza, comandou a agenda de gestão de estatais, enxugamento de quadros de funcionários, e também a política de desinvestimento de empresas públicas, como a venda de participações. ​

A secretaria de privatizações assumiu as funções que eram do Ministério do Planejamento, que foi fundido à Fazenda. Já Paulo Uebel, assim como Caio Megale, que também já deixou a pasta recentemente, veio do governo de João Doria (PSDB), quando o tucano ainda era prefeito da cidade de São Paulo.

O advogado gaúcho Uebel foi secretário de Gestão de Doria e também foi presidente-executivo do Lide, empresa de eventos fundada pelo governador paulista. Ele ainda foi diretor do Instituto Millenium, uma think tank de difusão de ideias liberais, onde se aproximou de Guedes.

A ida de Uebel para a esfera federal era de uma tentativa de implementar em maior escala o que iniciou na Prefeitura de São Paulo em 2017 e 2018: um programa de enxugamento de gastos da máquina pública, com renegociação de contratos, corte de gastos considerados desnecessários e controle de produtividade de funcionários públicos.

Em meados de julho, Mansueto Almeida deixou o comando do Tesouro Nacional, e foi substituído por Bruno Funchal. Apesar de a troca ter sido esperada, foi a queda mais relevante da equipe de Guedes até então. Depois disso, no fim de julho, o BB (Banco do Brasil) comunicou oficialmente a saída do presidente Rubem Novaes e foi apresentado o pedido de demissão do diretor de programas ministério da Economia, Caio Megale.

A debandada desta terça teve, nas palavras de Guedes, como principal fator a demora na execução de planos do Ministério da Economia. Além da avaliação do timing político para apresentar projetos estruturantes, a equipe econômica vem sofrendo resistência dentro do próprio governo. A dificuldade em apresentar a reforma administrativa, por exemplo, tem como origem críticas do Palácio do Planalto, inclusive do presidente Jair Bolsonaro.

Em relação ao plano de privatizações, o ministro da Economia já vinha demonstrando publicamente a insatisfação dele e de Mattar diante dos atrasos nos cronogramas. Ainda na campanha eleitoral, Guedes apresentou a intenção de privatizar todas as estatais e, com isso, arrecadar R$ 1,2 trilhão – dinheiro que seria usado para abater a dívida pública.

Mas esse plano ainda está longe de ser executado. Guedes, após assumir no governo, já reconheceu que esse projeto também tem que passar por um crivo político e, por isso, não consegue realizar uma privatização tão ampla como desejava. Apesar dos entraves, especialmente burocráticos, para as privatizações, o ministro costuma repetir que nas próximas semanas irá anunciar três ou quatro grandes operações de vendas de estatais. Para isso avançar, porém, precisará de apoio no Congresso.

A principal aposta do governo para 2020 era venda de controle da Eletrobras, que poderia render R$ 16 bilhões à União. A ideia acabou abandonada, mas o secretário esperava ao menos a aprovação de um projeto de lei que viabiliza a privatização, o que não ocorreu até o momento.

Nem a quebra do monopólio da Casa da Moeda foi aprovada no Congresso. O plano do governo foi frustrado neste ano diante da resistência dos parlamentares à ideia, que abria caminho para a venda da estatal. O plano audacioso de privatizações não andou no primeiro ano de governo. Em 2020, o plano foi interrompido pela pandemia do novo coronavírus. Após o agravamento da crise sanitária, Mattar anunciou a desistência do governo privatizar estatais neste ano. Segundo ele, não há ambiente no mercado para essas negociações.

“É um sinal da insatisfação dele com o ritmo das privatizações. Tem que perguntar para o Salim quem é que está impedindo a privatização. O que ele me disse é que é muito difícil privatizar. O establishment não deixa haver privatização”, afirmou Guedes nesta terça.

Em abril, Marcos Troyo foi escalado para assumir a presidência do banco dos Brics (sigla que reúne os principais países emergentes, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Nesse caso, saiu, portanto, com apoio do próprio governo.

No ano passado, após atritos com o Palácio do Planalto, Joaquim Levy e Marcos Cintra deixaram, respectivamente, a presidência do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e o comando da Receita Federal.

Cintra foi demitido durante a elaboração da proposta de reforma tributária do governo. Por estar na linha de frente do projeto de criação de um imposto nos moldes à extinta CPMF, ele caiu. Agora, em 2020, Guedes tenta avançar com a reforma tributária no Congresso e voltou a estudar tributo semelhante.

O ministro negou que demissões anteriores ligadas à pasta, como no caso de Mansueto Almeida, Marcos Troyjo e Rubem Novaes tenham sido debandadas, mas admitiu o movimento desta terça. De acordo com a assessoria de imprensa do ministério, a exoneração de Mattar deve ser publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira (12).

Ainda não há definição exata sobre a data de saída de Uebel. Nomes dos substitutos não foram apresentados e membros das secretarias disseram não saber se subordinados dos secretários demissionários terão de ocupar os postos interinamente até a escolha de um nome definitivo.

Em nota, o Ministério da Economia afirmou que Mattar e Uebel “reiteram seu apoio” a Bolsonaro e a Guedes na execução de políticas públicas tão relevantes ao País.

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