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Economia

Indústria eletroeletrônica sofre impacto da alta no preço do transporte aéreo

Levantamento feito pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) com fabricantes do setor identificou aumentos que variam de 49% a 200% no frete aéreo, principalmente da China para o Brasil.

Superada a pandemia na China, a indústria eletroeletrônica brasileira viu o fornecimento de componentes importados se normalizar, mas sofre agora os impactos da alta nos preços do transporte de carga aérea. Levantamento feito pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) com fabricantes do setor identificou aumentos que variam de 49% a 200% no frete aéreo, principalmente da China para o Brasil.

O encarecimento está diretamente relacionado à redução drástica no número de voos comerciais. Isso porque a maior parte dos componentes eletrônicos adquiridos pela indústria brasileira no exterior chega ao país no compartimento de carga de aviões de passageiros. “Como os voos (internacionais) caíram a 20% do que eram (antes da pandemia), subiu demais o frete da China para cá”, conta Humberto Barbato, presidente da Abinee.

As dificuldades, porém, estão longe de se restringir às rotas internacionais. “Estamos enfrentando um gravíssimo problema de distribuição de componentes pelo país”, acrescenta o dirigente. A distribuição dos produtos eletroeletrônicos pelo Brasil também está prejudicada. O transporte rodoviário para esse tipo de mercadoria, de alto valor agregado, é caro em razão das medidas de segurança que precisam ser tomadas.

O trajeto entre a fábrica e o aeroporto, por exemplo, costuma ser feito em comboio acompanhado por empresas de segurança. Pesquisa feita em abril, entre os fabricantes de eletroeletrônicos que importam, indica que 65% perceberam aumento no custo do frete por embarque. Para 39% a elevação no valor pago pelo frete foi de até 49%. Outros 20% das indústrias observaram incremento entre 50% e 199%. E 6% identificaram expansão de mais de 200%.

O custo do frete é apenas uma das variáveis que pressiona para cima os preços do segmento. As oscilações do real frente ao dólar, os estoques nas lojas (fechadas) e a perspectiva de queda no poder de compra do consumidor em decorrência da pandemia formam – segundo Barbato – “um nevoeiro” no qual o setor está imerso.

Analista de mercado da IDC Brasil, Rodrigo Pereira conta que entre o fim de março e o início de abril houve um pico nas vendas e principalmente no aluguel de computadores e impressoras por causa da migração do trabalho dos escritórios para os domicílios. “Não foi só o ‘home office’ [trabalho em casa] mas também o ‘home schooling’ [(aulas em casa)”, explica Pereira.

Mas as vendas nos próximos meses deverão ser impactadas negativamente pelo aumento do desemprego e pelos cortes salariais decorrentes da redução da jornada. Um segundo especialista que acompanha o setor de informática e prefere não ter seu nome divulgado, diz acreditar numa recuperação do mercado de PCs ao longo do segundo semestre. Só que a volta ao caminho da recuperação não significa necessariamente expansão nas vendas, ressalta ele.

No primeiro semestre, a tendência é de queda por causa do fechamento das lojas físicas. “Na medida em que o Produto Interno Bruto possa ter uma queda de 4,5%, o setor poderá sofrer uma retração de 7%, 8%. Não quero acreditar em números tão elevados”, diz Barbato. Ele estima em pelo menos 5% a queda da produção física do segmento eletroeletrônico este ano. “Vai restar para nós o segundo semestre”, afirma.

O retorno à normalidade só deve ocorrer em julho, num cenário otimista, reconhece o presidente da Abinee. Em março, primeiro mês de isolamento social no país, a produção física do segmento recuou 9,1% frente ao mês imediatamente anterior. O cálculo foi feito a partir de números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) agregados pela Abinee, com ajuste sazonal. A produção física já havia encolhido 5,5% em fevereiro, na comparação mensal. À época, o segmento enfrentava problemas no fornecimento de materiais, componentes e insumos provenientes da China.

A expectativa para abril é de uma nova queda, provavelmente ainda mais aguda, como consequência do início das medidas de isolamento social no Brasil. No acumulado de janeiro a março, a produção industrial do segmento eletroeletrônico diminuiu 0,4%. O resultado negativo foi puxado pelos produtos eletrônicos, com queda de 1,7%. A manufatura de itens para o setor elétrico, por sua vez, cresceu 0,8% no trimestre.

A diferença no desempenho dos dois ramos industriais ocorre porque segmentos como geração, transmissão e distribuição de energia trabalham com encomendas para médio e longo prazos. São pedidos para entrega num período que pode chegar a um ano de antecedência. Barbato reconhece, no entanto, que poderá haver redução dos investimentos das companhias do setor elétrico com a desaceleração econômica decorrente da pandemia.

Menos atividade econômica significa menor consumo de energia, o que pode levar ao adiamento de projetos no segundo semestre deste ano. As exportações de produtos elétricos e eletrônicos somaram US$ 1,15 bilhão entre janeiro e março

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