Brasil
Vício com bets pode impedir 986 mil alunos de ingressar no ensino superior, aponta pesquisa
Mais de 980 mil brasileiros podem ficar fora do ensino superior privado em 2026 por causa de gastos com bets esportivas, diz ABMES.

O crescimento das apostas esportivas on-line no Brasil, conhecidas como bets, tem gerado impactos diretos na educação, impactando negativamento no ingresso e manutenção de jovens no ensino superior privado. Segundo a nova edição da pesquisa “O impacto das bets na educação superior”, realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) em parceria com a Educa Insights, 34% dos jovens que pretendiam entrar na faculdade em 2025 adiaram os estudos por conta dos gastos com apostas on-line.
A pesquisa ouviu 11.762 pessoas entre 18 e 35 anos de todas as regiões do país, das quais 2.317 completaram o questionário. O levantamento foi feito entre os dias 20 e 24 de março de 2025 com o público que demonstrava interesse em iniciar uma graduação em instituições particulares.
A estimativa para o primeiro semestre de 2026 indica que cerca de 986 mil pessoas podem deixar de ingressar na educação superior privada devido ao comprometimento financeiro com apostas. Esse número representa mais de um terço dos quase 2,9 milhões de potenciais ingressantes.
Regiões mais afetadas
As regiões Nordeste e Sudeste concentram os maiores índices de jovens que relacionam os gastos com apostas ao adiamento da graduação.
No primeiro semestre de 2025, 44% dos nordestinos e 41% dos sudestinos que iriam ingressar na faculdade teriam deixado de fazê-lo por causa das bets. Já para o segundo semestre, os índices caem para 32% e 27%, respectivamente.
No sentido oposto, Sul e Centro-Oeste apresentam os menores percentuais: 17% e 18% no primeiro semestre e 16% e 14% no segundo.
Aposta regular e impacto financeiro
A pesquisa aponta que 52% dos entrevistados apostam regularmente, sendo mais comum a frequência de uma a três vezes por semana. Apesar de 80% afirmarem comprometer até 5% da renda com apostas, esse índice sobe entre as classes mais baixas.
Nas classes D e E, por exemplo, há um número crescente de pessoas que gastam mais de 10% do orçamento mensal com apostas. O valor médio apostado também varia conforme a classe social: enquanto os jovens da classe A investem cerca de R$ 1.210 por mês, nas classes D e E o valor gira em torno de R$ 421.
Entre setembro de 2024 e março de 2025, o percentual de jovens que apostam com frequência subiu de 42,9% para 52%. O número daqueles que comprometem parte da renda com essa prática passou de 51,6% para 54,2%. Também houve um aumento de 11,4 pontos percentuais no total de pessoas que afirmaram não ter iniciado a graduação por conta dos gastos com apostas.
Os impactos, no entanto, não se limitam aos que desejam ingressar no ensino superior. Entre os estudantes já matriculados, 14% disseram ter atrasado mensalidades ou trancado o curso devido às apostas, atrasando formaturas. O índice sobe para 17% entre os alunos das classes B1 e B2.
Perfil do apostador
O perfil predominante dos apostadores é composto por homens entre 26 e 35 anos, com filhos, trabalhadores das classes C e D e com histórico de escolarização em escolas públicas.
Preocupação com o futuro
Para Paulo Chanan, diretor geral da ABMES, o cenário exige atenção e políticas públicas específicas.
“As apostas on-line se tornaram um obstáculo adicional para o acesso à educação superior no Brasil. Precisamos olhar com seriedade para esse cenário e desenvolver ações de conscientização voltadas aos jovens”, afirmou.
Ele ressalta que o fenômeno ainda é recente no país e demanda amadurecimento tanto dos apostadores quanto do poder público.
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