Brasil
Um quinto de Florestas Públicas Não Destinadas da Amazônia tem alto risco de grilagem, mostra observatório
O alto risco acontece porque são grandes terras que estão, de forma indevida, registradas em algum Cadastro de Ambiental Rural (CAR), usado para propriedades privadas.

A Amazônia tem 50,2 milhões de hectares de Florestas Públicas Não Destinadas (FPNDs), que pertencem à União ou a governos estaduais, mas nunca tiveram alguma destinação, como transformação em parques. Deste total, 10,2 milhões têm “alto risco de grilagem”, segundo levantamento do Observatório das Florestas Públicas, iniciativa lançada nesta quinta (5), data que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente.
O alto risco acontece porque são grandes terras que estão, de forma indevida, registradas em algum Cadastro de Ambiental Rural (CAR), usado para propriedades privadas. Por isso, a suspeita é que essas florestas públicas com CAR estejam em alvo de grilagem. Esse levantamento foi feito pelo Observatório, com o cruzamento entre as bases de dados do Serviço Florestal Brasileiro e do Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar).
O cruzamento filtrou florestas públicas de maior porte, entre 600 e 1.500 hectares que tenham registro no CAR. O resultado foi a identificação de 10,2 milhões de hectares de floresta nessa situação.
Os pesquisadores destacaram que não se tratam de pequenos produtores, mas de grandes áreas registradas por pessoas com poder econômico, indicando tentativa de apropriação ilegal de terras públicas.
— Existe uma relação entre as áreas de CAR sobreposto e o desmatamento. É difícil saber se esse desmatamento ocorreu antes ou depois. De qualquer forma, desmatar grandes áreas custa caro, ou seja, este tipo de desmate pode estar ligado a grupos capitalizados ‘de olho’ em uma área e que, futuramente ou com brechas na legislação, tomam posse — explica Rebecca Lima, pesquisadora do IPAM e coordenadora do Observatório das Florestas Públicas.
Segundo observatório, 80% de toda a área de FPND desmatada em 2025 ficava em terrenos federais, e o resto em áreas estaduais. Segundo dados do Cadastro Nacional de Florestas Públicas, analisados pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e o movimento Amazônia de Pé, a demora em destinar os 50,2 milhões de hectares na Amazônia — uma área equivalente ao estado da Bahia — pode fazer o país emitir 19,1 bilhões de toneladas de CO₂, o equivalente a 51% de toda a emissão global estimada para 2024.
O governo federal iniciou o processo para destinar 14 milhões de hectares, mas a demora no processo é motivo de críticas, principalmente considerando o potencial de benefícios para o clima e para a biodiversidade brasileira.
— Apesar do processo estar em andamento, nenhum hectare teve sua destinação concluída ainda. É fundamental que o processo de destinação dessas áreas seja concluído com celeridade e respeito aos povos indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais que nelas vivem. A proteção dessas áreas antes da COP30 é a oportunidade que o Brasil tem de chegar à conferência apresentando esse bom exemplo ao mundo — afirma Daniela Orofino, diretora do Amazônia de Pé.
Aumento de desmatamento
Nos últimos anos, a taxa de desmatamento na Amazônia foi reduzida, mas as florestas públicas seguem vulneráveis ao crime organizado, além das queimadas. Segundo os dados do Observatório, houve um salto de desmatamento em abril: aumento de 192% em relação a março e 229% a mais do que no mesmo mês de 2024.
Entre janeiro e abril de 2025, cerca de 37.719 hectares de Florestas Públicas Não Destinadas foram atingidos por queimadas. A maior parte do fogo ocorreu em florestas públicas federais (68%), seguida pelas estaduais (31%). Pará, Amazonas e Roraima concentram as maiores áreas queimadas e desmatadas.
O Observatório das Florestas Públicas é uma iniciativa do IPAM e do Movimento Amazônia de Pé. O objetivo é disponibilizar informações sobre as Florestas Públicas Não Destinadas.
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