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Substância preta e luminosa em água assusta moradores de Governador Valadares

Cidade associa o episódio ao rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, no ano de 2015

As chuvas fortes que atingiram Minas Gerais no início do ano, causando o transbordamento do Rio Doce, revelaram a presença de uma substância preta e luminosa que intrigou os moradores de Governador Valadares. Eles associam a matéria ao rompimento da barragem do Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana, no anos de 2015 .

“Olha aí o minério de ferro brilhando. Ele vai separando da água e da lama e vai ficando, tá vendo? Na minha casa ficou cheio dessa coisa preta. Quando o sol esquenta, ele brilha”, disse Florisval Cardoso à reportagem da BBC Brasil.

O rompimento da barragem de Fundão causou 19 mortes e despejou 40 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério, mudando por completo as características do Rio Doce. Na época, o fornecimento de água em Governador Valadares foi suspenso por mais de uma semana.

A massa densa é escura e grudenta, e só sai com equipamentos de alta pressão e produtos pesados, como cloro.
“Nas outras enchentes não juntava nada dentro de casa, era água com areia, você puxava e ficava tudo bem. Agora está tudo impregnado nas paredes”, lembrou Florisval.

O microempreendedor Ageu José Pinto também afirmou ser é a primeira vez que vê algo desse tipo, em 20 anos morando à beira do Rio Doce. “Achamos que era uma cheia normal, só percebemos quando começamos a limpar a casa. Por mais limpa que esteja, vai ficando aquela tinta mineral brilhosa na cerâmica. E depois que baixou tudo é que começamos a ver que as ruas estavam tomadas de lama, e que tinha muito minério junto”.

O prefeito da cidade, André Merlo, emitiu nota pública após a cheia. “O barro fininho e arenoso que ficava nas ruas quando a água baixava nas enchentes anteriores foi substituído por uma lama densa, viscosa, abundante e com visíveis sinais de minério. Um resíduo de limpeza muito mais difícil, demorada e que exige muitos mais recursos”, destacou no texto.

Merlo se queixa de que a Renova (fundação criada no Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta para tomar as medidas necessárias, com recursos da mineradora) não cumpriu com acordo para limpar as áreas atingidas com lama e rejeitos. “Não vieram, nem ligaram. Retiramos 4 mil caçambas de lama, e depois veio a poeira”.

A Renova afirma que recebeu pedidos de apoio para recuperação após as chuvas de “diversas prefeituras” e que a fundação “aguarda aprovação, de forma emergencial, em sua governança interna, para poder implementar ações de apoio a esses municípios”.

Não é possível provar, até o momento, que o minério ou a lama da enchente estejam relacionadas ao rompimento em Mariana, mas a prefeitura ajuizou um pedido de perícia e já anunciou que tem a intenção de processar a Samarco.

Segundo a procuradora-geral do município, Ana Carla Dias, o objetivo com a análise da lama é construir duas provas. “O primeiro é comprovar que é a mesma lama da Samarco. O segundo é comprovar que o desastre da Samarco em Mariana elevou o nível do nosso rio, de modo que menores quantidades de chuvas causam mais estragos. Basicamente está cheio de lama lá no fundo e, por isso, o rio está mais raso”.

A Fundação Renova diz que foi enviada uma equipe de técnicos para coleta de amostras dos materiais removidos logo após a enchente em diversos pontos da região. Os resultados das análises deverão ser entregues nas próximas semanas.

A Renova também alega ter certeza de que não há nenhum risco para as famílias de Valadares; afirma que não há metais oriundos da barragem do Fundão que representem risco toxicológico à saúde humana, de acordo com pesquisas realizadas em Mariana e Barra Longa e divulgadas em dezembro de 2019.

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