Brasil
Pequenas e médias empresas têm retração de 10,4% no primeiro trimestre de 2025 na Região Norte, aponta Índice Omie de Desempenho
O levantamento mostra que os empresários estão mais pessimistas, com 51% sinalizando perspectiva de piora da economia.

O ano de 2025 será desafiador para as pequenas e médias empresas, segundo o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (Iode-PMEs). O levantamento aponta que o faturamento das pequenas e médias empresas brasileiras (PMEs) registrou retração de 1,2% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024. Em relação ao quarto trimestre de 2024, a queda foi ainda maior (-1,5%). No primeiro trimestre de 2025, o índice revela que o mercado de PMEs permaneceu em território positivo nas regiões Sudeste (+0,6%) e, especialmente, Centro-Oeste (+2,5% YoY). Por outro lado, registrou-se, em média, uma retração nas regiões Sul (-3,5%), Nordeste (-3,5%) e Norte (-10,4%), o que reforça a heterogeneidade do mercado entre as diferentes regiões do país.
O desempenho nacional representa o pior resultado do indicador desde o último trimestre de 2021, refletindo a perda de fôlego em determinados segmentos de Serviços, além da retração nas PMEs dos setores industrial e de infraestrutura. O Iode-PMEs funciona como um termômetro econômico das empresas com faturamento de até R$50 milhões anuais, consistindo no monitoramento de 736 atividades econômicas que compõem quatro grandes setores: Comércio, Indústria, Infraestrutura e Serviços.
Para Felipe Beraldi, economista e gerente de Indicadores e Estudos Econômicos da Omie, plataforma de gestão (ERP) na nuvem, o IODE-PMEs já sinalizava uma perda relevante de dinamismo no mercado das PMEs a partir de meados do quarto trimestre de 2024, em meio à deterioração do cenário macroeconômico doméstico.
“Apesar da continuidade no crescimento dos rendimentos reais do trabalho — principal componente da renda das famílias brasileiras —, o aumento das incertezas fiscais em relação aos próximos anos tem pressionado as expectativas inflacionárias e impulsionado a alta das taxas de juros, comprometendo o poder de compra das famílias”, explica.
No cenário externo, o ambiente também tem se mostrado mais adverso, diante das incertezas relacionadas à política tarifária dos Estados Unidos sob o governo Trump e das respostas adotadas por outras grandes economias, com destaque para a China.
Um dado que reforça esse panorama de maiores dificuldades para a evolução dos negócios das PMEs foi a queda expressiva da confiança dos consumidores entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025 (-7,6% no período), conforme apontado pela Sondagem do Consumidor da FGV-IBRE. Esse declínio refletiu, sobretudo, a piora nas expectativas dos agentes econômicos.
Na mesma direção, a última edição (março) da Sondagem Omie das Pequenas Empresas, reforça esse panorama de deterioração das expectativas dos pequenos empreendedores em relação ao ambiente econômico doméstico. O levantamento mostra que os empresários estão mais pessimistas, com 51% sinalizando perspectiva de piora da economia, número maior do que os 39% da sondagem realizada em setembro de 2024. “Diante desse contexto, a queda do IODE-PMEs no primeiro trimestre de 2025 reforça a percepção de que este será um ano mais desafiador para a economia brasileira”, comenta o economista.
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Apesar de recuos em diversos setores neste início de ano, o Comércio se manteve em território positivo, de acordo com o índice. As PMEs registraram crescimento de 7,9% no faturamento médio real no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024. No entanto, a análise desagregada mostra desempenhos bastante distintos entre o atacado e o varejo.
As PMEs do comércio atacadista apresentaram um crescimento expressivo de 10,2% neste primeiro trimestre, impulsionando o desempenho geral do mercado. Comércio atacadista de bebidas, Comércio atacadista de resinas e elastômeros e ‘Comércio atacadista de resíduos de papel e papelão’ foram as atividades com maior destaque.
Já no varejo, após sinais de recuperação ao longo do segundo semestre de 2024, as PMEs voltaram a registrar uma modesta queda de 1,3% neste primeiro trimestre. Varejo de medicamentos veterinários, Varejo de equipamentos para escritório e Varejo de livros foram as atividades que continuaram a apresentar desempenho positivo no período.
O setor de Serviços é o maior mercado de atuação das PMEs em termos de volume de empresas. No segmento, o Iode-PMEs aponta estabilidade no faturamento médio, com variação de -0,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Por um lado, o setor tem sido impactado negativamente pelo enfraquecimento de atividades que se destacaram em 2024, como Alimentação, Atividades profissionais, científicas e técnicas e Serviços pessoais’ Por outro lado, o setor teve bons números no 1º TRI pelo crescimento das atividades de Informação e comunicação, Transporte e Armazenagem e Atividades financeiras.
Os resultados das PMEs varejistas e de alguns segmentos do setor de Serviços evidenciam o impacto recente do aumento das pressões inflacionárias e da queda da confiança dos agentes econômicos, fatores que têm reduzido o ímpeto de consumo das famílias. Além disso, o cenário de elevação das taxas de juros no país tem prejudicado especialmente as atividades mais intensivas em capital, como demonstram os resultados do Iode-PMEs nos setores de Indústria e Infraestrutura.
Na Indústria, há uma perda de fôlego desde o segundo semestre de 2024, com a retração se intensificando nos primeiros meses de 2025. No primeiro trimestre deste ano, o setor registrou uma queda de 5,8% e a retração entre as PMEs industriais se mostra disseminada entre as atividades monitoradas pelo índice. Dos 23 subsetores da indústria de transformação acompanhados peloíndice, 15 apresentaram desempenho negativo. Ainda assim, há atividades que demonstraram resiliência e seguiram em crescimento no período, com destaque para: Impressão e reprodução de gravações, Fabricação de produtos de madeira e Fabricação de produtos de metal’
No segmento de Infraestrutura, as PMEs voltaram a apresentar queda, com retração de 3,3% neste primeiro trimestre, após o desempenho positivo registrado no quarto trimestre de 2024 (+9,7% YoY). O resultado negativo afeta atividades como Obras de Infraestrutura, Construção de edifícios e até mesmo Serviços especializados para a construção. Por outro lado, a manutenção do crescimento nas atividades de Água, esgoto, gestão de resíduos e descontaminação contribuiu para conter uma queda ainda mais acentuada do setor como um todo nos últimos meses.
Segundo Beraldi, mesmo com grandes desafios macroeconômicos no radar, o cenário básico para a economia brasileira não sugere uma interrupção total do crescimento. “Em termos gerais, os resultados recentes do Iode-PMEs reforçam a expectativa de que o setor de PMEs deverá crescer de maneira mais alinhada às projeções gerais para o PIB brasileiro (com a mediana das previsões atualmente em torno de 2%, conforme o Boletim Focus do Banco Central). Esse cenário é diferente dos últimos anos, quando o mercado de PMEs cresceu a um ritmo mais acelerado do que a economia como um todo”, avalia.
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