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PCC divide Roraima em 19 regionais para controlar o tráfico de drogas, informa UOL

As 19 regionais são responsáveis pelo controle do tráfico de drogas, armazenamento das armas e munições, por garantir a disciplina dos membros e a execução das funções.

Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista, Roraima, visitada pela Comissão de Direitos Humanos da OEA. (Foto: Thiago Dezan)

A organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) dividiu Roraima em 19 áreas para controlar o tráfico de drogas, armazenar armas de fogo, munições e expandir os negócios. O número de regiões sob controle da facção é superior ao de municípios —o estado é composto por 15 cidades. As informações são do site UOL.

As 19 regionais são responsáveis pelo controle do tráfico de drogas, armazenamento das armas e munições, por garantir a disciplina dos membros e a execução das funções. Fontes ligadas à segurança pública confirmaram ao UOL que a regional 019 está localizada em região de garimpo.

Uma denúncia da Promotoria de Justiça Criminal, do Ministério Público de Roraima, à qual o UOL teve acesso, mostra que o PCC dividiu o estado com o objetivo de instituir as chamadas “bocas de fumo” ou “lojinhas” —os pontos de comércio de droga. Assim como ocorre em São Paulo, estado onde nasceu a organização criminosa, os membros da facção recebem uma parte do lucro obtido.

A capital Boa Vista concentra cinco regionais administradas pela facção. Isso ocorre, sobretudo, porque quase dois terços da população do estado vivem no município. Dos 652.713 roraimenses, 436.591 moram na cidade.

O sul do estado sofre mais influência do Amazonas, segundo o promotor de Justiça Carlos Alberto Melotto. As regionais 09 e 015, localizadas em Rorainópolis, estão próximas das áreas de domínio de outras organizações, como o Comando Vermelho e facções do norte do país.

Fontes da polícia informaram à reportagem que a facção tem em torno de 1.500 membros batizados no estado. A criação da 19ª regional indica o aumento do interesse da organização em Roraima.

Um áudio atribuído a uma liderança do PCC, conhecida como Escobar, indica a existência da área 019 como regional do garimpo. Na mensagem, o integrante do PCC afirma que retiraria “o pessoal” da região e levaria para um local sem a presença de agentes de segurança. Segundo um agente ouvido pela reportagem, ele se referia aos garimpeiros vinculados à facção.

‘Lojinhas’, ‘guarda-roupas’ e mão de obra

Quem trabalha nas regionais são jovens com idades entre 19 e 21 anos, de acordo com o promotor Melotto. “Eles encontram uma forma de ter um status na microssociedade do crime. Mas, tudo o que ganham é para enriquecer a cúpula”, diz. A maior parte do valor é transferida para os membros da cúpula do PCC.

Nas audiências realizadas com jovens detidos, Melotto afirma que eles tentam reproduzir o sotaque paulistano. Segundo o promotor, trata-se de uma forma de enfatizar o “pertencimento à organização.”

Os pontos de venda de drogas possuem esquema de segurança contra ameaças de organizações rivais e ações policiais.

As investigações apontam que o PCC possui locais chamados “guarda-roupas”, onde são armazenadas drogas, armas e munições.

Para a entrega de armamentos, é feito uma espécie de documento, semelhante a um “termo de cautela”. No registro, constam o tipo e o modelo da arma, a quantidade de munição, a data, o “vulgo” [apelido] pelo qual o portador é conhecido e a regional a que pertence. Após o uso, devem devolver o armamento para o “guarda-roupa”.

Apesar da organização, Melotto afirma que a estrutura do PCC no estado não alcançou a mesma complexidade de outros estados como São Paulo. “Em Roraima, a atuação se restringe a colocar a camisa e dizer ‘sou do PCC, vou vender drogas'”. A parte ideológica fica para os grandes centros.”

A estrutura do PCC em Roraima

A organização criminosa no estado segue uma hierarquia. No topo do organograma, está a Geral do Estado. Subordinada a ela, está a Geral da Cidade composta por três gerais, a da rua, da capital e do interior e o salveiro. Abaixo da Geral da Cidade estão: setor das ajudas, disciplinas, geral do paiol e a geral da FM.

Os membros da Geral do Estado são os responsáveis por coordenar as atividades no estado. O quadro é composto por quatro a oito membros.

A instância Geral da Cidade, também chamada de Geral Disciplinar da Cidade, coordena as atividades dos membros que estão em liberdade. Composta por outras subdivisões, a divisão conduz rituais de batismo, apura problemas na “quebrada” e produz um relatório para a Geral do Estado.

Segundo investigações da promotoria, quando um membro muda a linha telefônica, deve comunicar a Geral da Cidade —está entre as funções do quadro colocar os membros em contato para as conferências da facção.

O “disciplina” é quem mantém a ordem e o responsável por verificar se os demais membros do grupo estão seguindo as ordens da facção. Ele repassa à Geral da Cidade o que foi apurado e é uma figura respeitada entre os faccionados.

O setor financeiro do PCC em Roraima é dividido em células; entre elas está o “Progresso”, que reúne as atividades do tráfico de drogas. O “Progresso FM” reúne os pontos de venda de drogas, e o “Progresso 100% Interno” arrecada valores vindos do tráfico dentro da prisão.

Assim como em São Paulo, o PCC arrecada a “cebola”, a mensalidade paga por membros da organização. As rifas vendidas por integrantes também são formas de obtenção de lucro. As duas modalidades são utilizadas para o pagamento de serviços de assessoria jurídica privada, compras de cestas básicas para familiares e eventuais despesas de “irmãos”.

Consolidação e expansão em Roraima

Os primeiros indícios da presença do PCC em Roraima surgiram em 2013. Antes disso, porém, Melotto afirma que os presos tinham algum grau de organização na principal unidade prisional do estado. Eles formavam o PCM (Primeiro Comando da Maioria).

O PCM era suspeito de praticar extorsões e cobrar dívidas de traficantes. A associação criminosa, como é chamada nas investigações do MP do estado, chamou atenção das autoridades após planejar a morte de autoridades do Poder Judiciário, do MP e de policiais.

Com isso, 20 presos foram indiciados e 14 transferidos para a Penitenciária Federal de Porto Velho. Em 2013, alguns detentos voltaram à PAMC (Penitenciária Agrícola de Monte Cristo) e começaram a reproduzir a ideologia da facção paulista e batizar membros.

As investigações ganharam urgência quando os integrantes do PCC ameaçaram servidores de segurança pública e juízes. Depois disso, diversas operações foram deflagradas para combater a estrutura da organização no estado.

No dia 6 de janeiro de 2017, 33 presos foram mortos e mutilados na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo Dias, em Boa Vista, Roraima. Depois disso, com a atuação da Força Tarefa de Intervenção Penitenciária (FTIP), o promotor Melotto afirma que houve um enfraquecimento das organizações.

O UOL entrou em contato com o governo de Roraima, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.

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